Futebol arte, realidade e as raízes de tantos desacertos

Estava pensando comigo sobre a Imprensa e o Futebol brasileiro e sua estrutura nos times, saiu este texto.

O que nos resta é entender que a estrutura viciada do Futebol brasileiro, onde quem tem mais condições de persuasão na opinião pública, que é a Grande Imprensa e em especial a Rede Globo: nunca pensou em colaborar na transformação do Futebol brasileiro em um Patrimônio da Nação, esta porque se beneficia dele.

Lembro quando o Governo Argentino resolveu tornar o Futebol um bem universal no País Argentina, colocando suas transmissões em Rede Pública, a gritaria da Imprensa brasileira foi grande, contra a decisão do Governo argentino. Um lembrete: o Brasil foi o único País da Copa sem transmissão estatal (pública).

Sabe aquela discussão privado X público (estatal) que era uma ingerência do poder público sobre o produto Futebol. Este era o nível da discussão, não mais que isto.

A Imprensa, concordemos, parte dela entende que é preciso modificar a estrutura do Futebol brasileiro, a começar pela promiscuidade da relação CBF/FIFA e os direitos de transmissão, que na verdade acabam atravancando quaisquer mudanças na realidade futebolística do Brasil.

Duas organizações corruptas como FIFA e CBF se aliam com quem aceita se omitir de denunciá-las e aceita os conchavos entre as partes para existência de exclusividade na transmissão.

Nós não vamos ter um Futebol melhor no Brasil, enquanto se olhar para o Futebol como uma galinha dos ovos de ouro, quase que exclusivamente, como um produto rentável ao extremo, e que eu não quero “largar o osso”.

Não cabe ao Governo tomar a iniciativa de mudar a CBF para mudar o Futebol brasileiro e sua estrutura no Brasil; A CBF é uma entidade privada! Porém, se existisse um interesse da sociedade por mudanças e um apoio da Imprensa brasileira, talvez, se possa caminhar no sentido de mudança da CBF por dentro.

Porém, é preciso ir além da ideia de que tornar o Futebol brasileiro de todos e um Patrimônio nacional seja “estatizá-lo”.

O resto da grande Imprensa brasileira que não seja a Rede Globo, infelizmente, tem certo receio de opinar e encampar uma mudança nesta articulação CBF/FIFA e Rede Globo, talvez, por medo de uma retaliação de trabalho futuro na emissora, até de uma credencial e/ou um direito futuro para transmissão de um evento ligado ao Futebol e tudo fica como está.

Enquanto a gente não solucionar quem deve ser o organizador do Futebol no Brasil e como fiscalizá-lo para haver transparência nos seus atos, desde a organização dos campeonatos, das equipes que participam sem alianças espúrias de clubes e a entidade, das seleções de base (quem é convocado e quem é o treinador), até a seleção principal, passando por quem transmite, pelo STJD, etc. não se terão resultados seguros dentro de campo.

Nós temos uma realidade diversa hoje, que é a do Brasil urbano, a maioria esmagadora dos brasileiros mora nas cidades e nas cidades pouco há áreas livres para a prática do Futebol. Hoje é preciso das escolinhas de Futebol, não se fazem mais craques como antigamente, como nos tempos dos campos de terra batida pelo Brasil afora. Aqui perto de casa, área central de São Paulo, havia grandes áreas para a prática do Futebol, até construírem a Avenida 23 de maio, hoje elas são escassas. As áreas urbanas são, quase sempre, edificadas e quando há um terreno livre ele é cercado, murado: é propriedade particular. Não tem nem quadras poliesportivas de livre acesso. É preciso reestruturar até o acesso ao jogo de Futebol nas cidades do Brasil e reestruturar o conceito de vitória, muito arraigada ao tamanho + altura e preparo físico do atleta, nas categorias de base, onde, treinadores querem mais é levantar a TAÇA e se mostrarem capazes de chegar ao time de cima, ao grande clube, do que se preocuparem na formação de atletas com todos os fundamentos prontos e Profissionais completos, quando de suas chegadas ao time Profissional.

Treinador de categoria de base é para formar atletas ou ganhar títulos?

Aqui no Brasil se escolhe muito jogador pelo porte físico e altura, infelizmente. E, se valoriza o título até de fraldinha. Afora todo o assédio de empresários para com garotos de 12, 13 anos de idade, criando um mundo de sonhos, que se realiza para pouquíssimos desses atletas. A maioria dos jogadores profissionais ganhará, se tanto, 1 salário mínimo. O garoto com 12 anos de idade já tem empresário (dono do jogador), já tem o passe fatiado e propostas de jogar no exterior. Porém, pouca formação cidadã para o atleta se dá; e se este não vingar no Futebol o que será dele?

A necessidade de rápida profissionalização, por causa da concorrência estrangeira na compra dos melhores jogadores – não os grandalhões que ganham os títulos das categorias de base pela força física, retira do atleta a sua formação plena como jogador, este nem bem disputa algumas partidas e já tem de substituir outro jovem jogador vendido para a Europa e outras partes do mundo. Os empresários vendem logo seus atletas, porque é rentável a venda, imagina receber 4, 5, 10 milhões de reais de uma tacada só num investimento que foi de, por exemplo, 1000 reais mês, por 3/4/5 ou 6 anos?

Esta reestruturação do Futebol pode ou não ser uma prerrogativa do Estado brasileiro? O Futebol deve ser um produto mercantilizado como é hoje ou um patrimônio de todos os brasileiros? Eis as perguntas que deixo. 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • CBF & GLOBO

    Como sempre, e em tudo, a Globo está metido no meio para atravancar o progresso e ....... sugar.

    Cada vez mais, em tudo que cheira mal, se procurarmos acharemos o dedo podre da Venus Platinada.

  • por Conceição Lemes Alemanha

    Hora de reformular o futebol brasileiro.

    A função da verdade é aparecer. Hoje isso aconteceu. Sem maquiagem.

    No Brasil, quando os jovens talentos despontam, ainda meninos são vendidos para o exterior.

    São eles que integram a seleção brasileira. Jogadores que atuam fora do Brasil, em diferentes times, e que, de vez em quando, se reúnem para jogar juntos.

    Diferentemente do que acontece com a seleção alemã, cujos integrantes estão jogando e, sobretudo, treinando — muito! — há seis anos.

    Além disso, os alemães são uma equipe colaborativa, não individualista. Jogam por e para um time. E não por uma marca ou contrato. E o Brasil?

    Resultado: um time bem preparado, bem treinado, ganhou o jogo de lavada.

    Foi a vitória do trabalho duro em colaboração contra a “esperteza” e o individualismo histórico, atávico.

    Marketing não ganha jogo. Ganha dinheiro.

    Haverá vergonha  e vontade suficientes para o Brasil conquistar o terceiro lugar?

    por Conceição Lemes

  • Folha erra 100% em tese escolhida para a Copa
         247 – No partido editorial adotado para a cobertura da Copa do Mundo no Brasil, o jornal Folha de S. Paulo, repleto de estatísticas, conseguiu um feito e tanto: errou 100%. No dia 12 de junho, quando o Mundial começou em São Paulo, a manchete do diário de maior circulação do País dizia: Copa começa hoje com seleção em alta e organização em xeque. O que se viu, a partir dali, foi exatamente o contrário da previsão embutida na chamada principal. Quem estava mesmo sob suspeita era o time convocado e escalado pelo técnico Felipão, apesar dos elogios em cascata dos colunistas da própria Folha. Ao inverso do tom do noticiário de assuntos nacionais, em complemento, não ocorreu o colapso de infraestrutura projetado pela publicação. O quadro de manifestações marcadas pelo vandalismo foi ultrapassado pelo fatos ainda mais forte criados pela esmagadora maioria da população: festas, confraternizações, imensas reuniões pacíficas. A franca hospitalidade popular com os estrangeiros, traço que parecia riscado, a julgar pela escalação dos fatos na régua editorial da Folha, foi o que mais se viu. Não havia o xeque armado pelo jornal, em articulação com outros representantes da mídia familiar. Nesta quarta-feira 9, após a humilhante goleada sofrida contra a Alemanha, a Seleção de Felipão, até então tratada com todo o zelo possível pelo jornal, foi, como não poderia ser diferente, desconstruídas em todo o noticiário esportivo. Mas até a véspera, a Folha era mais um veículo a praticar o ufanismo de sempre no noticiário esportivo, combinado com a má vontade frente aos assuntos considerados 'mais sérios'.

  • O futebol hoje no Brasil

    Isso é um dos aspectos que penso. Eu tenho 41 anos e na minha juventude a minha diversão, o meu entretenimento era jogar futebol, as brincadeiras, quando não era o futebol, eram fora de casa. Já naquela época não havia muito espaço para jogar bola onde morava, que era numa vila. Hoje, na vila em que eu morava e onde ainda é a casa da minha mãe não vejo nenhuma criança jogando bola. Os paradigmas mudaram. Se já naquela época, anos 80 e 90 já eram escassos os lugares para prática de esportes, hoje muito mais.

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