Jornada de Junho de 2013 foi resultado de um Processo Histórico e preparou as ruas para o Golpe, por Alexandre Tambelli

Jornada de Junho de 2013 foi resultado de um Processo Histórico e preparou as ruas para o Golpe

por Alexandre Tambelli

Lendo o texto do Fernando Horta: 2013: as selfies revolucionárias horizontais e apolíticas, https://jornalggn.com.br/…/2013-as-selfies-revolucionarias-h… me veio a ideia de contextualizar as Jornadas de Junho.

Coloco aqui minha visão do que aconteceu lá e levou até 2016 e o Impeachment. 

Para analisar as Jornadas de Junho de 2013 é preciso entendê-la acima de tudo como o resultado de um Processo Histórico, envolvendo dois elementos centrais:

1) O Governo de centro-esquerda do PT;

2) Os meios hegemônicos e oligopólicos de comunicação no Brasil capitaneados pela Rede Globo & velha mídia.

Além destes dois elementos é preciso diferenciar dois tipos básicos de juventude nas ruas:

1) A juventude da primeira semana das Jornadas e com ideário de esquerda, lideradas pelo MPL e a reivindicação de não aumento das tarifas de ônibus e metrô na capital paulista (MPL que é fundado 8 anos antes em 2005 e já tinha liderado outras manifestações contrárias ao aumento de tarifas de transporte coletivo);

2) A juventude midiática e meritocrática incorporada na segunda semana das Jornadas, após a mudança de direção do entendimento do que seria possível ganhar, pelo Sistema, capitaneado pela Rede Globo, em favor da Oposição Política e da possibilidade de queda na popularidade e quem sabe da derrubada do Governo Dilma e retirada do PT (centro-esquerda) do Poder com as Jornadas de Junho de 2013. Esta juventude nova era da classe média e médio-alta tradicionais***, levada às ruas pela velha mídia em um processo distinto do que pôde criar o MPL e àqueles jovens outros nas ruas. (Os dois posicionamentos do Jabor, o antes, chamando os jovens de arruaceiros e baderneiros e o depois, de alguns dias depois, chamando os jovens de idealistas deu o tom da descoberta que ali se poderia ter um primeiro ganho eleitoral para os derrotados em 3 eleições seguidas para o PT).

Fique claro.

A Juventude do MPL não apareceu do nada (o ajuntamento de dezenas de milhares de jovens), a Ideologia do sem partido e da horizontalidade, também, não.

Torna-se preciso dizer que o MPL e a juventude nas ruas são um resultado histórico de quase 10 anos de petismo, de Governos Lula e Dilma. Bem sabemos que a direita e a extrema-direita e sua defesa de um modelo de sociedade neoliberal no Brasil não estava tendo eco na sociedade, não tem em qualquer sociedade senão via oligopólios midiáticos e Justiça seletiva. Os motes da direita e extrema-direita neoliberal fora do Poder Central são basicamente dois:

1) Ameaça comunista, do bolivarianismo, vão instalar uma ditadura nos moldes da cubana no Brasil, essas coisas (imaginemos com o advento das redes sociais e da internet o quanto foi possível introjetar no imaginário coletivo essas ideias);

2) O intensivo discurso da corrupção, mesmo que seletiva, na Globo, Veja, Folha, Estadão, etc. Ela, a corrupção, com o advento da Internet retirou a seletividade midiática de sua comodidade, e ocorria, em muitos casos, da Internet ser tão disseminadora das denúncias de corrupção do PSDB, PMDB, DEM, etc. que a mídia vinha a roldão, mesmo que num espaço de alguns dias. Poucos se salvaram da temática da corrupção.

A centralidade do tema corrupção se desenhava como uma arma do Sistema para o combate ao PT, Governo que estava tendo sucesso econômico e social perante o eleitorado brasileiro e vitorioso fora em três eleições seguidas e com alta-popularidade.

É a forma encontrada e clássica da direita e extrema-direita contraporem governos de centro-esquerda em plena ação. Tudo sem contraponto, afinal, só havia uma Ideologia nos meios de comunicação: a Ideologia Neoliberal, o tal de Mercado.

Neste processo histórico de 9 anos e meio de PT no Governo central assistimos ao desabrochar de uma realidade, onde a juventude brasileira foi sendo levada a desacreditar na Política, nos políticos e partidos políticos. E, por qual motivo: a massificação diária de associar a Política, os políticos e os partidos políticos à corrupção. Tudo o que não acontecia na vida da juventude era culpa do Estado corrupto e ineficiente.

Formou-se, então, uma Juventude de esquerda apartidária, não necessariamente apolítica, afinal, gritar: – sem partido, já é uma manifestação Político-Ideológica. Apenas creem que a Política existente não seria capaz de dar a ela o que almeja. Seja financeiramente, seja no campo dos direitos civis, seja na periferia, seja no centro, seja na universidade, seja no trabalho, etc.

A pauta do não aumento da passagem de ônibus e da possibilidade de estatização do transporte coletivo e do passe-livre não é pauta de direita, é de esquerda e com mais adeptos na extrema-esquerda.

Quando veio 2013 este processo histórico de associação da Política à corrupção já tinha quase 10 anos de pleno funcionamento. A juventude inserida na semana inicial das Jornadas de Junho incorporou cultural e socialmente esta narrativa midiática e podemos dizer que ela, como bem disse o LULA, ainda em 2013, a Juventude das ruas não tinha modelos referência de Governos, a não ser o petista.

Imaginemos que um jovem comece a adquirir consciência social e política com 15 anos de idade e nas ruas estavam jovens entre 18 e 25 anos, eles foram apresentados aos Governos FHC, Collor? Não! A referência única é o próprio Governo petista. Então, eles só podiam comparar o Governo do PT com a realidade vivenciada nos governos petistas.

Havia em 2013 uma proposição que era a seguinte:

Os jovens inseridos na sociedade via consumo exigiam mais do que esta realidade de serem “cidadãos” por terem o direito de consumir coisas.

O Jovem que era abordado pela polícia, tarde da noite, chegando da Faculdade; as universidades paulistas sem verbas para um trabalho de campo dos alunos e a ausência de uma Democracia interna; os preconceitos contra o LGBT; as campanhas moralistas do José Serra (Presidente e Prefeito); os trabalhadores explorados de telemarketing, etc. O jovem queria se libertar de um Estado opressor, estava com uma mente mais aberta, solidária e libertária.

Quem lembra que em outubro de 2012 houve um evento de jovens, podemos chamar de jovens libertários na cidade de São Paulo: Existe Amor em São Paulo na Praça Roosevelt. Muitos destes jovens estarão associados às Jornadas de Junho de 2013. Esse movimento era apartidário, buscava uma cidade mais solidária, mais tolerante e se dizia livre de preconceitos.

A juventude de esquerda das Jornadas de Junho surge deste caldo cultural libertário e da massificação do discurso midiático de criminalização da Política e de um Estado que estava a serviço do Capital, acima de tudo. Ela é espontânea e não se ajuntou nem chegou às ruas, somente, porque foram “patrocinadas” por alguém.

Separemos a Juventude de esquerda da Juventude de classe média e médio-alta tradicionais de formação conservadora, esta, sim! Chegou às ruas porque a Rede Globo & velha mídia a cooptou.

Chegou às ruas sem nenhuma reivindicação real, sem nenhuma organização prévia, de forma anárquica como foram os dois grandes atos na Avenida Paulista pró-Impeachment.

O ato de estar nas ruas não era um ato de reivindicar, mas a chance de colaborar para a retirada do PT do Governo Federal. É como se esta Juventude de direita e extrema-direita fosse para as ruas extravasar as derrotas eleitorais seguidas (alimentada pelos pais, familiares e meio-social em que vive), e crer na possibilidade de derrubada de um Governo, que ela não pertencia (Ideologia do meio social em que vive), Governo de outras classes sociais menos abastadas.

Se observarmos a Juventude da classe média e médio-alta tradicionais, ela sequer sabia o motivo de a Globo ser contrária a PEC 37 e ela era capaz até, de levantar o cartaz: – Não a PEC 37. – Se a Globo diz que é contra sou contra. (Classe social que compreende o mundo via noticiário da velha mídia, bem sabemos).

Lembremo-nos do vídeo que circulou na net em 2013, vídeo que um repórter perguntou a dois jovens o que era a PEC 37, e que eles responderam ser contrários sem saber do que se tratava a tal da PEC.

Esta foi às ruas por um processo outro, ligado a uma realidade social nova, onde, os espaços ocupados por esta Juventude, deixaram de ser espaços exclusivos e adentrou nele o Jovem da Classe C, o brasileiro antes excluído da sociedade pela existência até 2003 de um modelo de sociedade de castas com apenas 30% de incluídos e que faziam as classes média e médio-alta tradicionais, podemos assim dizer, um papel de ponte entre o Capital e o trabalhador, parcela necessária para a existência e permanência do Sistema de castas brasileiro.

A busca de manutenção da “distinção”, o medo de invasão dos espaços sociais antes exclusivos e, principalmente, a concorrência no mercado de trabalho, com o fim do QI (Quem indica), a produziu e a levou às ruas, não era por reivindicações coletivas e sim, individuais e classistas.

2013 preparou o terreno para o Golpe. As classes média e médio-alta tradicionais foram apresentadas e se acostumaram com as ruas nas “Jornadas de Junho”.

2012 e o “Mensalão”, 2013 e as “Jornadas de Junho”, 2014 e o Não Vai Ter Copa e a Lava-Jato, 2015 e 2016 e o Impeachment nas ruas nos mostram essa Juventude e a sua classe social em efervescência, eram momentos de tentativa de vitória fabricada, de alimentação de um retorno ou de um contexto benéfico a si próprio, diante da realidade do PT 3 vezes vencedor no pleito eleitoral Federal e a caminho da 4 vitória, que se consumou.

Estar nas ruas, comemorar cada injustiça cometida contra os petistas é parte do Processo de retirada do PT do Poder, que se materializou em abril de 2016.

Se me perguntarem do silêncio de hoje dessa juventude de direita e extrema-direita eu responderia que o Governo Temer, ao reintroduzir a Ideologia da meritocracia, sossegou essa gente toda, porque ele Governa sem as ideias de cotas raciais e sociais e de programas sociais inclusivos.

Fiquemos atentos.

Já se pode notar uma paralisação da ascensão e ocupação dos espaços exclusivos das classes média e médio-altas tradicionais pelas classes C e D, ascendidas nos Governos Lula e Dilma. Mesmo com a neutralização de ações mais gloriosas da classe média tradicional, como viajar para os Estados Unidos todas as férias e comprar SUV´S anualmente, temos o principal, não se misturar é mais importante do que ações mais gloriosas, garante a “distinção” e exclusividade de certas baladas e outros espaços culturais.

Então se justifica o silêncio, apesar de quererem o Fora Temer, aqui já adentrando na realidade, que Temer está “ferrando” com todo mundo no ano de 2017, ameaçando certas comodidades sociais, como é, a escola particular e plano de saúde top.

Para terminar, pergunta é:

E a Juventude de esquerda do Existe Amor em São Paulo, do MPL e dos secundaristas por onde anda?  Esta é uma realidade a ser estudada com mais atenção. Estão descentralizadas? Estão nas periferias? Como estão, se estão, se articulando para o pós-Temer?

E os partidos de esquerda (a Política institucional), o que fizeram para tentar capitalizar para si essa Juventude, para irem além da horizontalidade em prol das mudanças seguras pela Juventude de esquerda nas ruas almejada?

P.S.: Separemos a população de direita e de extrema-direita nas ruas em dois grupos distintos. O grupo das ruas se tornou de extrema-direita. O que batia panelas é resultado do que viu nas ruas; quando viram MBL, Vem Pra Rua, Integralistas, bolsonaristas, apologia à volta da Ditadura Militar, etc. saíram das ruas, não eram identitários com estes grupos radicais da extrema direita e foram bater panelas para serem notados.

2015 e a manifestação do Impeachment teve mais gente que em 2016. Quem passou a bater panela depois que foi na primeira manifestação em 2015, talvez, não tenha voltado em 2016, outros incautos substituíram essas pessoas. Todas, apesar desta constatação, comemoraram o Impeachment.

*** Não quer dizer que toda Juventude de classe média e médio-alta tradicional é de direita, ela é heterogênea, porém com predominância da direita e uma Ideologia mais meritocrática e menos a favor da intervenção e regulação da economia e sociedade por parte do Estado. Também, não quer dizer que a juventude do MPL que foi às ruas não possa estar situada nessas classes sociais, parte significativa está.

Redação

Redação

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  • 2013, repisado, recondicionado, revisitado...

    Quem avisou antes só recebeu pedrada.

    Essas análises pra que servem mesmo?

    É o pássado de Minerva dando voo de galinha.

    Te juro, cansei mesmo.

    • Antonio!

      Penso eu que seja importante um resgate histórico deste período, sempre que possível, para aprendizado para o futuro. 

      Imaginemos que um Governo que combatia a corrupção como ninguém foi colocado no centro da corrupção porque não havia dado condições de existência de uma mídia de esquerda ou ao menos honesta e que se baseasse na realidade dos fatos. 

      Formou-se uma Juventude de esquerda nesse período que não reconhecia a Política como instrumento de transformação da sua própria realidade, que colocava todos no mesmo barco da corrupção e da incompetência administrativa e ela se beneficiava com Prouni, Fies, vagas em Universidades Públicas espalhadas por todo o interior do Brasil, escolas técnicas,  Ciência Sem Fronteiras, etc.

      Juventude que era progressista ao modo dela. 

      Com a compra da ideia das manifestações dos 20 centavos pela Globo todo o ideário desses jovens foi transformado de uma pauta reivindicatória em um instrumento inicial de colocação das ruas à serviço do Golpe. 

      Tiramos essa Juventude com ideário de esquerda do MPL, do Existe Amor Por São Paulo das ruas e colocamos a direita e extrema-direita no lugar dela. 

      Aprendemos hoje que duas coisas se fazem necessárias. 

      Educação Política e presença de meios de comunicação plurais. 

      Se os jovens mais idealistas de 2013, não o cooptado pela Globo, soubessem História, fossem bem-informados saberiam a diferença grande de um Governo do PT (não que este fosse perfeito, longe disto) e o de FHC e Collor e não gritaria - Sem Partido! Nem deixaria de acreditar nas instituições, foi o que me parece aconteceu ali. Queriam resolver um problema de aumento da tarifa na marra, sem contextualizar a realidade do aumento e sem distinção entre quem era Haddad e Alckmin. Apesar, da pisada de bola do Haddad, que se encontrava em Paris no momento inicial do MPL nas ruas e ele não soube dialogar, também, com esta Juventude. 

      Como vamos proceder no Futuro para conseguir uma nova sobrevida para a Política? E não deixar que de novo frutifiquem uma Juventude que não quer o intermédio da Política para a realização das suas pautas e da sua realidade e crê que todos os políticos e partidos políticos são iguais?

      O sem partido nos legou o Judiciário Morista, nos legou a Anarquia governamental, não é pouca coisa. 

      Que sempre se discuta e estude a História para não repetirmos esta situação. 

      Educação Política sempre, não apenas uma sociedade de consumo. 

      Abraço,

      Alexandre!

      • por isso o governo golpista
        por isso o governo golpista veio com o tal Escola Sem Partido para enterrar a escola democratica proibindo inclusivevo ensino de Historia, filosofia, sociologia, arte...o aluno tem que ser preparado para servi ao deus mercado, torcer parafuso como no filme de Chaplin...e nada mais...

        • Com certeza!

          Perfeito, José!

          A Escola sem Partido é realização da Educação sem nenhum valor além da transformação de seres humanos em máquinas. 

          Em 2013 a Juventude com ideário de esquerda nas ruas foi tragada pelo Sistema e perdeu muito do que estava ganhando. 

          Deram protagonismo para ela para devorá-la aos poucos com o Golpe!

          Abraço,

          Alexandre!

          • Alexandre, é uma pena que um

            Alexandre, é uma pena que um post com temática tão importante, passe assim de relance, em poucas horas o post vai sumindo....e o debate também....as jornadas de junho, como você muito bem colocou, foi o ápice de um processo histórico que desembocou na desgraça pela qual está passando no momento o povo brasileiro na sua travessia da "pinguela para o inferno"....quem vai jogar isso nos livros de história senão as editoras que estão do lado de lá, ou seja, como participantes do golpe....quanto a nós, tentamos debater como vc faz neste artigo, mas a coisa não continua porque, como disse, passa tão rápido como uma ejaculação precoce....rsss

  • Muito acertada a lembrança

    Muito acertada a lembrança daquela juventude, que estava entre 15 e 18 anos, sem conhecer coisa nenhuma da história do Brasil de Collor e FHC. Isso eu vi em adolescentes da minha família, ou filhos de amigos próximos, que ainda estão aí a dizer a mesma coisa, embalados pela propaganda poítica ca Globo. Um pai desses agora jovens de pouco mais de 20 anos, por seu turno também mal e porcamente sabem o que representou pra nossa sociedade aqueles anos de chumbo, quando eles estavam nacendo. Um advogado, meu grande amigo, nascido em 1963, que odeia Lula, e tem seu filho movido por esse sentimento, diz que uma coisa é certa: "Todos os presidentes militares morreram pobres; não roubavam". 

    Pra quem acompanhou aquelas jornadas viu, sim, a diferença entre a primeira e as que se seguiram. Quando vieram os mascarados, quebrando tudo que via pela frente, e não apenas jornalistas da Globo, mas até mesmo Boechat declarou-se a favor da esculhambação, quando disse pela ráio Band News: "É pra quebrar mesmo. Tomara que essa garotada arrembente mesmo". Saiu um vídeo de Boechat incitando a meninada com essas palavras. Até que dois mascarados incendiaram um cinegrafista da emissora para a qual ele trabalha, e o discurso mudou.

    Enfim, gostei muito do post. Foi por essas vias que o golpe foi se fortalecendo, na justiça, na imprensa, entre os políticos, e os abestalhados manipulados, muito tontos, que sequer sabiam o que estavam fazendo nas ruas ou quando batiam panelas.

    A moda agora é ouvirmos dos batedores de panela argumentos como este: "Não adianta. É tudo farinha do mesmo saco". Por que assumir seus enganos, se eles próprios estão envergonhados pelos seus atos? 

    O triste é saber que o Brasil cresce 10 cm e recua 08. 

    Diretas Já é o mínimo que podemos desejar pro nosso futuro, no sentido de termos alguma esperança, mas mesmo assim, com um pé atrás, se aspiram ao poder gente como Bolsonaro. 

  • O marco zero do golpe: 28 de outubro de 2012

    Naquele dia 28 de outubro de 2012, a certeza da vitória de Haddad era tamanha, que não foi preciso ficar o dia inteiro grudado no computador, na agonia. Quem como eu participou de comícios, caminhadas, encontros por toda cidade, tinha essa percepção clara. Por isso, ali pro meio da tarde rumei para o hotel na Alameda Santos, onde a cúpula do PT se concentrou para a apuração, não consegui entrar, fiquei no corredor de acesso tentando. Reconheço o o prefeito reeleito da nossa Araçatuba, distante 520 Km, Cido Sério, que havia votado na cidade pela manhã e rumado para a capital, tal a certeza.

    Pouco depois das 17h00, começam a ser divulgadas as pesquisas de boca de urna, vitória do PT. Começam a surgir camisetas comemorativas da vitória "O futuro venceu Haddad 28 de outubro de 2012", distribuídas aos milhares pelos corredores e fora do hotel (nada como ter dinheiro para campanha). Estava tudo pronto, caminhão de som gigantesco começa a se postar na Paulista, em frente ao prédio da Gazeta, fecha o trânsito e a festa começa. 

    Após vários discursos, mal dá tempo para Haddad discursar, e cai um temporal, chove copiosamente. Retornando a pé para casa, encontro novamente na algtura da FIESP, em meio a toda aquela gente, o prefeito de Araçatuba. Fomos caminhando e conversando debaixo de chiva até a altura da Frei Caneca, quando foi atrás do seu hotel e segui em frente. 

    Naquela noite, eu e a torcida do Corínthians, somada à do Flamengo, fomos dormir e acordamos com uma uma certeza cristalina: em 2014, o PT finalmente tomaria o governo do Estado de São Paulo, a reeleição de Dilma seria um passeio, e em 2018, ora, barbada, Lula de volta. O PT no poder por mais 8 anos. Qualquer pessoa dotada de dois neuronios em razoável estado de funcionamento veria isso.

    Assim como a torcida do Corínthians e do Flamengo vislumbraram isso muito claramente, do lado de lá todas as luzes vermelhas se acenderam e as sirenes dispararam. Era preciso interrromper o curso natural das coisas. Como? 

    Apenas 7 meses e 16 dias após a vitória de Haddad, explode o 13 de junho de 2013. Bingo. 

     

    • na mosca

      Preciso  Fernando !  Interessante você fazer esta relação.. de fato .. tudo indicava que estávamos nadando de braçada, ninguém lembrava mais onde vivíamos, achavamos que fazíamos parte da festa!  Ilusão.....amarga....  Na mosca! 

      Muito bom relato e análise.

    • Sim, a parte que cabe à
      Sim, a parte que cabe à politica. Nao podemos nos esquecer de outro ator importante na preparaçao do golpe: o mercado que hoje nada de braçada e segundo Rodrigo Maia ele o mercado dita as cartas no Congresso...e retornando a 2013 nao podemos nos esquecer que Dilma baixou os juros a 5% o que teria levado as forcas ocultas ou seja o mercado a conspirar: ai temos Ana Maria Braga com seu colar de tomates...e a Fiat com o slogan Vem Pra Rua...e financiamento de ongs americanas...tudo isso no rasto da insatisfaçao dos EUA diante do avanço do Brasil em areas como defesa...geopolitica...mercado exterior...BRICS...foi demais a viralatice tupiniquim e para o orgulho americano um presidente da America ter que reconhecer que Lula era o cara

  • Quem faz esse tipo de analise

    Quem faz esse tipo de analise não deve jamais ter participado de uma simples associação de moradores.

    Nada mais dificil que reunir pessoas. Para isso existem os sindicatos, os partidos, E mesmo assim eles batalham muito para mobilizar  multidões.

    As tais "jornadas de junho" não foram organizadas por nenhuma esquerda ou mesmo pela direita nacional.

    Tratou-se do emprego de uma nova arma nas mãos das grandes potencias, as tais redes sociais.

    Com isso o imperio faz as pessoas agirem como ratos em laboratorios, movidos a impulso.

    O mesmo golpe foi aplicado no Egito, sob o rotulo de "Primavera".

    A nossa chamou-se "jornada de 1913".

    Uma "esquerda" que nem isso entendeu, esta fadada a cair em novas armadilhas.

    • Antonio!

      As primeiras manifestações contrárias ao aumento da passagem não tiveram apoio de mídia e de ninguém. O MPL já existia desde 2005. 

      Depois, sim, pode ter havido alguma ingerência externa para ampliar sobremaneira as manifestações, mas elas começaram com a reivindicação do não aumento da tarifa e tinha uma Juventude organizada em torno do MPL e de outras pautas. Defendo esta opinião.

      É o que entendi do início das manifestações de 2013.

      Antes se viu no MPL e os jovens nas ruas a definição de baderneiros, depois viraram idealistas, quando a Globo assumiu a narrativa. 

      Ninguém junta 10, 12 mil jovens sem mídia do nada. A mídia chegou depois, se aproveitou da realidade posta. 

      Abraço,

      Alexandre! 

  • "Aquilo Deu Nisso"

    Deixando a parte sociológica para mestre Serjão no vale das almas, vamos aos fatos:

    1. O MPL há anos fazia esse tipo de manifestação, mais ou menos com mesmo número de manifestantes, em torno de 2 a 3 mil, mas em 2013, pela primeira vez, estranha e surpreendentemente surge a Globo no primeiro ato, cobrindo ao vivo no JN e permanecendo na cobertura durante os intervalos da novela. No dia seguinte os comentaristas, Jabor incluso, descem o cacete midiático nos manifestantes.

    2. No segundo ato, Globo novamente cobrindo ao vivo, já eram em torno de 8 mil os manifestantes, mostrando o resultado do "patrocínio global". Os comentaristas começam a mudar o discurso do contra para meio muzzarella/meio calabresa, sinalizando o avanço ao a favor.

    3. No terceiro ato, eram mais de 12 mil os manifestantes e ai a tropa do Alckmin desce o cacete amplo, geral e irrestrito, devidamente registrados ao vivo pela Globo e repercutidos no dia seguinte por todos os jornais, com os comentaristas a todo vapor, a favor e horrorizados com a violência policial.

    4. A partir da indignação geral da classe média brasileira com as porradas, a esquerda revolucionária foi posta de lado e o movimento passe livre foi substituido pelo "happening livre" com toda a juventude, principalmente a colegial, tendo seu momento de glória & footing no asfalto e não nas redes sociais, por alguns dias, até que todos os rincões do Brasil tivessem usufruído da novidade. A partir daí, sumiram para não mais voltarem. A esquerda revolucionária continou nas ruas fustigando o governo.

    5. Resultado, o governo Dilma enfraqueceu-se, a aprovação despencou e foram criadas as condições para surgimento e consolidação dos movimentos orgânicos de direita (Vem Pra Rua, MBL, etc.) e o inicio da organização da mesma para vencer as eleições de 2014, quer no executivo com Aécio, quer no legislativo através de Cunha.

    6. Em 2014, a esquerda revolucionária garantiu a fustigação ao governo Dilma, mantendo o desgaste com o "Não Vai Ter Copa", enquanto a direita iniciava a partir de março a operação Vaza Jato com objetivo principal de eleger Aécio presidente e de quebra, desaparecer com o PT e Dilma e Lula.

    7. Por pouco não tiveram sucesso na eleição para o executivo (Não Pode Ser Eleita) com a capa da Veja, "Eles Sabiam" produto da dobradinha Mídia/Lava Jato. Em compensação venceram de goleada a distraída esquerda nas eleições legislativas, criando as condições à segunda parte do plano: "Se Eleita, Não Governa".

    8. Em 2015, com todas as condições estabelecidas, maioria parlamentar, monopólio da mídia, dominio das instituições (Justiça, Procuradoria, PF e RF) e sobretudo, governo Dilma eleito e enfraquecido, partem para o plano B, o Golpe jurídico-midiático, quer através do TSE, provocado por Aécio, quer pelo Golpeachment, provocado por Cunha, dentro do contexto e temperatura, fornecidos pelo condominio de desestabilização Mídia/Vaza Jato, com Moro no vocal e a Globo na repercussão.

    9. O resto todo mundo sabe, via movimentos organizados de direita agendavam os atos, a mídia convocava para os mesmos, esquentava o Brasil de manhã para bombar São Paulo à tarde, repercutiam, comentavam, pautavam, e assim levaram massas cheirosas e branquinhas de médios adultos às ruas, dando substância ao golpe para tirar Dilma e o PT do comando, por serem, convictamente: Os "maiores corruptos que o Brasil já viu". Chegamos ao Domingo da Vergonha Mundial, incrustrado malcheirosamente para sempre na história brasileira e a partir daí, com a anabolizada crise econômica, além do responsável, somada à fabricada crise política, que gerou o ódio que divide o país, mergulharam-nos no caos econômico e político sem fim em que nos encontramos, sem sabermos ainda onde termina e pior, "guiados" pelo mordomo de vampiro movido a propina, que nos legaram via golpe.

    10. Segure-se, que a parte "com emoção" está só começando nessa desventura digna do Túnel do Tempo Perdido, em que não sobrará pedra sobre pedra, segundo "mãe Dilma".  Oremos!      

     

      

    • Francisco!

      A Globo não chegou no primeiro ato, pelo que sei.

      Chegou uns 4, 5 dias depois, ali ela tomou para si a narrativa do que ocorria.

      No começo não estava e em Sampa tinha uma quantidade maior de jovens do MPL e não só dele nas manifestações iniciais, afinal, somos a terceira maior cidade do mundo. Meu sobrinho e amigos dele iam lá e não eram do MPL. 

      A Juventude de direita, esta sim!, chegou anarquicamente às ruas cooptada pela Globo e velha mídia, todos nós sabemos e sem reivindicação alguma, só o genérico basta de corrupção!

      Abraço,

      Alexandre!

      • Primeiro Ato

        Alexandre, por trabalhar no centro de São Paulo, ao retornar para casa, desviei e dei uma passada no primeiro ato do movimento, em 06/06/2013, em frente ao Teatro Municipal, antes do tradicional encerramento com confronto com o choque.

        Chegando em casa espantei-me ao ver no JN transmissão ao vivo do "tradicional  encerramento" com gas lacrimogênio, na 23 de Maio. Mais espantado fiquei, quando findo o JN, ao primeiro intervalo da novela, novamente ao vivo a Globo retoma a cobertura e assim continua pela programação.

        Lembro-me perfeitamente de ter pensado, em função da estranheza do fato, o que a Globo estava querendo com tão  inesperada cobertura. Cheguei a comentar em blogs a minha estranheza com o fato.

        PS: Pulei o segundo ato na minha narrativa (o do largo da batata à marginal Pinheiros),  e o segundo portanto foi o terceiro e o terceiro o quarto, o fatídico 13 de junho, no qual pela Barão, vi os manifestantes subirem a Ipiranga rumo a consolação e à pauleira que não esperavam, pois havia muita gente nova, molecada não cooptada pela Globo, mas estimulada pelas transmissões ao vivo, preponderantemente colegiais, que jamais tinham participado de qualquer protesto de rua. E deu no que deu, pois diferente dos veteranos do MPL que corriam, esses novatos foram de encontro ao choque para dialogar e eram espancados. E a Globo ali, estranhamente ao vivo, sabe-se hoje porque. 

        • O dia da Paulista dividida.

          E lembrando daquele fatídico dia na Paulista, em que o Presidente do PT Rui Falcão disse que a militância iria participar do ato, era uma quinta-feira, duas semanas depois, e que houve a separação dos atos e o confronto na Paulista entre Direita e Esquerda. 

          MPL, Movimentos Sociais, militância petista de um lado da Paulista e a nova Juventude de direita do outro lado da Paulista. 

          Houve certa violência e tensão naquele dia. 

  • O golpe não derivou de nossas virtudes nem da força das Jornadas

    O golpechment decorreu não da força das Manifestações dos Coxinhas nem ocorreu por causa das nossas virtudes, mas por causa da nossa fraqueza. Diria Bertolt Brecht que:

    "É igualmente necessária coragem para se dizer a verdade a nosso próprio respeito, sobre os vencidos que somos. Muitos perseguidos perdem a faculdade de reconhecer as suas culpas. A perseguição parece-lhes uma monstruosa injustiça. Os perseguidores são maus, dado que perseguem, e eles, os perseguidos, são perseguidos por causa da sua virtude. Mas essa virtude foi esmagada, vencida, reduzida à impotência. Bem fraca virtude ela era! Má, inconsistente e pouco segura virtude, pois não é admissível aceitar a fraqueza da virtude como se aceita a humidade da chuva. É necessária coragem para dizer que os bons não foram vencidos por causa da sua virtude, mas antes por causa da sua fraqueza."

    As Manifestações de 2013 fizeram os opressores amarelarem. O golpechment não ocorreu por causa das Manifestações de 2013 mas apesar delas.

  • MPL?

    Nem me falem no nome desses pilantras.

    Foram ELES os vendidos que começaram todo o processo de desmonte da democracia brasileira.

    O resto, embarcou na brecha aberta por ELES.

    Burguezadinha que NUNCA pegou um coletivo lotado pela manhã, com a marmita debaixo do braço e cheio de incertezas na vida.

    Após as jornadas, voltaram para suas casas e para a mesada de papai e mamãe e se algo deer errado, mudam pra Miami.

  • O que pude testemunhar foi

    O que pude testemunhar foi que as jornadas de junho, no começo, tiveram oposição da midia e do sistema mas, num segundo momento,passaram a apoirar o movimento, o  que ocorreu até a véspera do impeachment, em  maio de 2016. De uma certa forma  tais atos eram autorizados e permitidos pelas forças de segurança,  vi cenas impossiveis nos dias de hoje: jovens quebrando terminais e caixas eletronicos sem que a policia evitasse, bem diferente do que ocorreu na greve de junho de 2017, quando  o jovem mateus teve a cabeça estourada, isso porque infiltrados quebraram vidraças de um banco, o que era na verdade um pretexto para a repressão no momento em que o ato paredista já havia sido encerrado e portanto a policia poderia descer o cacete e bater em retirada.... 

  • Black Bloc

    Eu queria um estudo sobre os Black Blocs.São anarquistas? Fazem parte de algum partido político de ultra esquerda? Tem ligação com a polícia? Qual a origem deles no Brasil? Já existiam no mundo antes de aparecerem no Brasil? Qual seu histórico/

  • Trocadilho: o MPL virou MBL nas mãos da direita...

    No primeiro momento era o MBL, com Datena e Jabor chamando-os de baderneiros. Em seguida houve uma guinada: a direita emergiu de águas turvas para os holofotes, foi quando apareceu uma turma de jovens se opondo ao  MPL e se apropriando do próprio nome MPL que virou MBL, fizeram um trocadilho e surgiu o MBL bradando slogans como "o meu partido é meu pais", paritdo não, sou apartidário, slogan s que foram repetidos inclusive por  promotores,  juizes e delegados da PF que tomara as ruas e as sequencias seguintes foram: Lava Jato engrossando o caldo da direita, eleição de Congresso conservador, pautas bombas para impedir a governabilidade da presidente eleita, que terminou sendo derrubada pelo Congresso que ai está.... 

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