Subdesenvolvimento é condição de país que nasceu colônia, por Antonio Uchoa Neto

A diferença, e única liberdade de fato, foi a de poder escolher um novo ‘dono’, conhecido como empresário, ou industrial, ou comerciante.

Candido Portinari

Comentário ao post: “O preço do subdesenvolvimento é a eterna ignorância, por Luís Nassif

Subdesenvolvimento é condição de país que nasceu colônia

O subdesenvolvimento não é um estado, uma condição, uma circunstância; é a realidade inamovível de um “país”, uma “nação”, que nasceu colônia. Uma vez colônia, sempre colônia. Colônias existem para gerar riqueza para suas metrópoles; exaurida ou extinta essa riqueza, um “país”, ou “nação”, cessa de ter importância, e, portanto, deixa de existir na prática. Que o diga o Haiti.

Temos, grosso modo, dois exemplos de luta anticolonial sistemática na história recente do mundo: as américas, nos séculos XVIII e XIX, e a África, no século XX. Deixo de lado a China e a Índia, cujo desenvolvimento histórico é bastante peculiar, assim como seus períodos coloniais.

A “independência” desses “países”, ou “nações”, é basicamente este: o esgotamento do modelo de exploração colonial nessas regiões gerou, 1) insatisfação das populações criollas, verdadeiras ‘rainhas da inglaterra’, opulentas, mas sem autonomia de qualquer ordem, política principalmente, e 2) empobrecimento escandaloso da população restante, burros de carga da opulência dos extratos criollos.

Capitalizando a insatisfação dos segundos, os primeiros, utilizando-se deles, como de hábito, como bucha de canhão, ‘combateram’, ‘expulsaram’, e ‘libertaram-se’ das metrópoles, proclamando, orgulhosos, a própria independência.

Ora, comparemos com a seguinte situação: em 13 de maio de 1888, da noite para o dia, todos os escravos do Brasil se tornaram livres. Aí, eles se entreolharam e disseram: “E agora, o que a gente vai fazer?” Alguns responderam: “Não sei. É melhor perguntar ao nosso ex-dono”. E foram vender sua força de trabalho, único bem de que dispunham, primeiramente em troca de um teto e uma refeição, e, posteriormente, a troco de um salário, o que veio a dar no mesmo.

A única diferença, e única liberdade de fato concedida, foi a de poder escolher um novo ‘dono’. Também conhecido como empresário, ou industrial, ou comerciante. E, sempre e em qualquer circunstância, patrão. Qualquer semelhança com o destino de nossos continentes, América do Sul, e África, após se ‘libertarem’, não é mera coincidência.

Nossas ‘burguesias’ nacionais, nossas elites, seguiram sendo o que sempre foram. Apenas, em alguns casos, as metrópoles originais foram substituídas por outras, incluindo uma neófita, os Estados Unidos da América do Norte, que superou, de longe, seus precursores nessa especialidade humana, a exploração de terceiros.

De resto, não creio ser necessário pegar o Ayres Britto para Cristo, e expor dessa forma o que seria sua obtusidade cognitiva ou intelectual. Ele não é burro, nem ignorante. É um acólito da ‘burguesia’ nacional, de nossa Elite dominante; tanto quanto estas são de seus ‘donos’, o Binômio Bancos/Corporações. Binômio que tem, em suas carteiras, as Metrópoles de outrora.

O Subdesenvolvimento é nosso estado natural, amigos, como “ex”-colônia; de outra forma, o Binômio não se sustenta. E manter a massa explorada na mais completa ignorância é a condição imprescindível para que toda essa estrutura permaneça de pé.

A ignorância é a nossa, Nassif, imposta a nós, ou simplesmente cultivada pelas elites, em seus jardins. Somos nós nesse jardim, e, donos diligentes e cuidadosos, eles nos regam com a Moral e os Bons Costumes, com a luta anticorrupção, com tantos diversionismos que já se provaram, à exaustão, eficazes e indiscutíveis.

O principal deles? A Democracia, filha dileta da Liberdade. Cujo gosto sentimos, de quatro em quatro anos; e só. Liberdade a nós concedida por eles, e que, como se sabe, não é conquista, é dívida. A eterna ignorância é a consequência do subdesenvolvimento, não seu preço.

O preço do subdesenvolvimento é a nossa servidão: a dívida. E a estamos pagando pontual e regiamente, para que nossas elites a repasse ao Binômio, antiga Metrópole, sob a forma de juros bancários.

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