Categories: AnáliseCidadania

Velha, eu?, por Gi Oliveira

Velha, eu?, por Gi Oliveira

Tenho notado um fato interessante a respeito das pessoas: cada um interpreta as mensagens como lhe convém, com suas crenças, seus valores e possibilidades. Alguns leitores dos meus artigos relatam conclusões tão distintas da minha intenção ao escrever o texto que às vezes não identifico o que achei ter escrito, preciso relê-lo, re-conhecê-lo. O que eu tinha em mente era tão distante do que foi compreendido que parece pertencer a outro autor.

Depois do artigo sobre O Poder do Agora, fui abordada por uma pessoa que me fez um questionamento interessante: “Gi, eu estou lendo seus textos e refletindo sobre minha carreira, minhas atitudes, e acho que deveria mudar minha forma de agir, eu poderia ser mais entusiasmado, produtivo, fazer umas coisas diferentes, ousar. Mas penso que já tenho 36 anos e recomeçar agora parece muito tarde. Tanta gente com essa idade já está fazendo sucesso, já tem a vida definida, uma carreira de sucesso. Tem uma idade limite para mudar, para reposicionar? Não sei se tenho animo para me reinventar, para aprender coisas novas. Acredito que já estou muito velho para certas ousadias e para o mercado. ”

Gente, confesso que fiquei abalada, porque nunca havia passado pela minha cabeça que, no auge dos meus 40 anos, eu pudesse estar irremediavelmente ultrapassada. Recuperada do baque, pude responder ao meu interlocutor: Por que você precisa se comparar a alguém? Quem pode viver a sua vida além de você mesmo? A insatisfação com esses aspectos da sua história pessoal é algo muito subjetivo, que só você tem poder para alterar ou perpetuar; não existe uma data de validade, um prazo final para assumir o volante e concentrar seus esforços na direção que lhe convenha. Só porque já percorreu centenas de quilômetros em uma direção não significa que ao descobrir que não está no caminho desejado deve se acomodar e continuar naquela estrada. Sempre é possível ter outros caminhos, rotas para chegar aonde se pretende. Recalcular o trajeto, como faz o GPS.

Além disso, acredito que possa alterar inclusive o destino. Quando mais jovem você tinha sonhos, pretensões, ilusões e conceitos que o levaram a traçar planos que ao longo da jornada não se mostraram tão atraentes quanto no início. Rever estes, planos, as estratégias pessoais ou profissionais não é sinal de fraqueza ou indecisão, ao contrário, é indício forte de inteligência e determinação. Abandone a crença limitante de que tudo tem que dar certo de primeira, como foi idealizado, sem ajustes, sem recálculos. Ou que o que deu certo para o outro é também o indicado para você. Construa a sua história, seu próprio mapa. Nada nesta vida depende exclusivamente de você além dos seus pensamentos, das suas intenções.

Você se relaciona com o meio em que vive e trabalha, é exposto todo o tempo a novas informações, situações, ideias. Realinhe. O que fez ou planejou fazer no passado foi com base no volume e qualidade das informações e experiências que dispunha naquela época, naquele momento. De lá pra cá muita coisa deve ter mudado, inclusive você já não é mais o mesmo. Então, atualize sua rota, agora de uma forma mais madura, mais realista ou mais sonhadora.

Na prática? Avalie os planos antigos, o que conseguiu realizar, o que não saiu como planejado e os reais motivos. Reflita se aquele ainda é um destino importante para você, e se for, reconheça o quanto conseguiu avançar e desenvolva novas estratégias para atingi-lo. Caso tenha mudado, avalie o que pode ser aproveitado da antiga rota, quais competências, habilidades e experiências poderá aproveitar neste novo desafio. Lembre-se da lei da física, de que nada se perde, tudo se transforma. Adapte, porque não há como recomeçar do zero, (in)felizmente isso é impossível. Mas sempre é possível fazer melhor. Faça. Seja integro, completo, pleno.

Descubra o que te motiva, o que lhe dará energia, combustível para esta empreitada e ligue as turbinas, não observe os demais viajantes se for para comparar o prazer da viagem. Ele é pessoal, alguns admiram as montanhas, outros as árvores e há os que apreciam as curvas da estrada. Principalmente, não pense, nem por um segundo, que já não há mais tempo para chegar lá. Veja o exemplo do chinês Wang Deshun https://www.youtube.com/watch?v=ZwcVHjgDcRo . Mova-se, você pode fazer a sua hora, não deixar a vida te levar, construir sua própria história, escolher seu destino e aproveitar a viagem. Invista em conhecimento, em vivências, novos ângulos, inove em entendimento, propicie-se diferentes e gratificantes experiências. E como disse esse nada velho chinês, seja o mais brilhante possível quando for chegada a sua hora de brilhar. Antigo é o seu passado, e inspirador pode ser o seu futuro.

Agora gente, fala sério, imagina eu, velha com 40!

Redação

Redação

View Comments

  • Como sempre, relevante! Fala

    Como sempre, relevante! Fala sério, não estou velha aos 53 anos!!!! Tantos projetos e planos! Lembro de Moysés, na Bíblia, que conduziu um povo após os 80 anos. Obrigada por organizar de uma forma tão inteligente, palatável, motivadora, estes pontos que nos empurram mais para frente! Me aguarde! Beijos!

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

7 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

7 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

10 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

11 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

11 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

12 horas ago