Coluna Econômica

Dias complicados pela frente, por Luís Nassif

Há um ano e quatro meses Wilson César de Lira Santos, primo do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e superintendente do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) vinha duelando com os movimentos sociais.

Segundo o blog De Olho nos Ruralistas, trata-se de um sujeito truculento, que anda armado e ameaçando as pessoas.

No dia 11 de abril, sete movimentos – da Comissão Pastoral da Terra ao Movimento Terra Livre – encaminharam carta ao Ministro do Desenvolvilmento Agrário, Paulo Teixeira, insistindo na sua remoção.

Diz a carta:

É do conhecimento de Vossa Excelência que o atual superintendente ocupa esse cargo desde o golpe contra a democracia brasileira, ocorrido em 2016. Portanto, foi aliado de Michel Temer, de Bolsonaro e, nesse momento histórico da reconstrução do país, serve ao governo Lula (…) Em 7 de fevereiro em audiência em vosso gabinete, perante o governador de Alagoas, outras autoridades e representação das organizações que lutam por Reforma Agrária em Alagoas, o senhor estabeleceu um novo prazo, abril de 2024, dentro dos prazos de desincompatibilização, para o processo eleitoral”.

E anunciavam um “abril de lutas” pela exoneração do superintendente. Teixeira procurou Lira para negociar a saída do primo. Houve algum desencontro e a exoneração acabou saindo sem que se combinasse a data com Lira.

Foi o que bastou para os jornais se encherem de matérias anunciando as represálias de Lira, a abertura de CPIs, o impeachment de Ministros do Supremo assim que as próximas eleições aumentarem a quantidade de senadores de direita.

O episódio mostra, claramente, um país refém de uma organização política perigosa, sem limites, que joga ameaças em cima da única instituição que, no momento, está segurando a democracia no país, o Supremo Tribunal Federal.

É um trabalho insano. De um lado, enfrentar as ameaças e chantagens de um Congresso – fruto de todas as libações da imprensa com a Lava Jato. De outro, a rebelião de magistrados e procuradores, com o apoio de populistas vaidosos, como o Ministro Luís Roberto Barroso. A mídia corporativa endossando as manobras da ultradireita global, manfestadas através de Elon Musk, e o governo absolutamente apático, negociando e cedendo, negociando e cedendo e gastando todo seu capital político.

Agora, um carnaval imenso porque o Ministro da Fazenda resolveu mudar a meta fiscal, uma mudança irrisória que nem arranha a economia. Ameaças por todos os lados porque a dívida bruta vai crescer como proporção do PIB, e nenhuma alma santa ousando lembrar que o crescimento da dívida pública ocorre quando a taxa básica de juros cresce acima do PIB.

Virão dias complicados pela frente. E, até agora, o governo Lula ainda não mostrou nenhuma iniciativa capaz de juntar o país civilizado contra a barbárie que se avizinha. No dia que os bárbaros avançarem sobre Brasilia, Lula colocará Fernando Haddad com um quadro negro, na porta do Planalto, explicando o arcabouço fiscal.

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Luis Nassif

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  • Entre os referidos bárbaros estarão milhares de advogados cujas vidas profissionais foram viradas pelo avesso durante e depois do golpe de 2016. Quem presta serviços jurídicos à elite nunca fica sem grana. Mas quem faz processos para pessoas pobres perde toda a clientela quando a situação econômica delas piora. Haddad é sofisticado demais para perceber esse complicador político decorrente da impossibilidade de retomada econômica. E Lula se deixou enredar nas tramoias neoliberais apoiadas por Haddad sem perceber o perigo que está correndo.

    • Perdão, deixe eu rir, Haddad sofisticado?

      Só porque não aparece com caspa no paletó, como o anterior?

      Uai, se ele é sofisticado, tá fingindo não ser com perfeição, né?

      É comum a gente confundir uma certa polidez com sofisticação, afinal, estamos aqui no Brasil né, onde representante do capital que come com garfo e faca já e um assombro de etiqueta.

      De onde é o moço mesmo, USP, Insper?

      Ah, tá...putz...

      hehehehehe.

      Ai, meu Zeus.

      Então, tá, então.

  • A próxima invasão dos bárbaros, a definitiva, se dará, entre outras razões maiores, por que sentem que há um covardão na presidência da república, chamado Luis Inácio Lula da Silva, que virou um falastrão/canastrão que não governa, traindo quem o elegeu, e cujo único objetivo na vida parece ser agora o de conseguir um premio Nobel consagrador para sua biografia. Como sua chance aumenta nesse sentido se entregar o Brasil aos abutres internacionais e nacionais, trabalha por aí e periga ganhar o troféu, mesmo que entregue a terra arrasada e o povo escravizado do Brasil.

    Mas o mais provável mesmo é que seja derrubado antes (se não renunciar antes, covardão em que se transformou), quando completar o seu atual serviço de traição à classe trabalhadora, assinando tudo que, entre outros, Múcio, pelos milicos, e Haddad, pelos neoliberais donos do Brasil, lhe mandam assinar. Haddad, por exemplo, o canalha do PT capaz de dar esta manchete para o jornal O Globo: "Haddad: decisão do STF sobre ‘revisão da vida toda’ do INSS permitiu meta déficit zero em 2025" ( em https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/04/15/haddad-decisao-do-stf-sobre-revisao-da-vida-toda-do-inss-permitiu-meta-deficit-zero-em-2025.ghtml ), e mostrando claramente em que se transformou este maldito 'governo' de Lula, 'liderado' pelo PT.

  • Ou seja, o confisco de trabalhadores aposentados, que contribuíram a vida toda para o INSS e que são roubados à luz do dia naquilo a que teem direito na velhice, tornada indigna e miserável, com sua renda confiscada imediatamente transferida para as burras dos rentistas donos do Brasil, a turma dos juros sagrados e do deficit zero, operados por Haddad (PT) e Campos Neto, a eficiente dupla Pélé-Coutinho da Faria Lima. Que vergonha!

  • Essa elite sempre pensou pequeno. São coloniais. Estão aqui para preparar os próximos envios, de fumo, couro, açúcar, café oumesmo de pau-brasil é o que importa. UM PAÍS, NÃO IMPORTA. Lira é senhor de engenho.

  • "Virão dias complicados pela frente. E, até agora, o governo Lula ainda não mostrou nenhuma iniciativa capaz de juntar o país civilizado contra a barbárie que se avizinha. No dia que os bárbaros avançarem sobre Brasilia, Lula colocará Fernando Haddad com um quadro negro, na porta do Planalto, explicando o arcabouço fiscal."

    Não, não somos civilizados, não há essa fatia neste país. Há os frouxos, que confundem covardia cívica, ou aquilo que Hollanda chama de "cordial" (derivado do francês coeur, coração), que preferem o atalho ao caminho mais árduo, prefere o chamego ajeitado que o tapa convidando para o duelo.

    O cordialismo é a violência sublimada, com trejeitos, amistosa.

    É a carioquice, a mineirice, e outras ices.

    É a aversão a lei e a formalidade, que regra e normatiza condutas, direitos e deveres.

    Por outro lado, não, não são bárbaros, são a versão possível do capitalismo de xepa, o capitalismo de periferia, ou enfim, o capitalismo pau-brasil.

    Essas instâncias não são antagônicas, Nassif, os que você chama de "bárbaros" e "civilizados" são complementares, inseparáveis.

    São a nossa natureza.

    Lula e Haddad são a expressão acabada dessa suposta dicotomia, que é, como disse, falsa.

    Merecem, pois, cada gota de veneno que beberem.

    Tinha opção, mas preferiram o atalho.

    Entrar para a História pela porta da frente, Nassif, dá trabalho.

    Ou você se mata, como Vargas.

    Ou é morto pelos inimigos, como Che, Allende, Malcom X, Luther King, etc.

    Ou tem a disposição para matar, como Lincoln.

    Não tenha dúvida, foi em 1865 que os EUA deixaram de ser uma grande roça, um país commodity, para virarem o que são hoje.

    E tantos outros mais.

    • Excelente análise.
      Aqui NUNCA houve e acho que nunca haverá a superação definitiva desse impasse.

  • Nunca foi fácil. Nunca foi sorte. Sempre foi trabalho.
    É preciso ter claro que quem ganhou a eleição foi o presidente Lula. Ajudamos? Lógico! A frente ampla foi decisiva? Demais!
    Agora,além de um senado conservador, tem uma câmara não só conservadora mas,sobretudo, acostumada nos anos tenebrosos do milico miliciano,a ser sócia de tudo.
    O presidente Lula, assim,governa com o que tem e,neste quadro tenebroso,podemos dizer que está se saindo melhor do que esperado.
    O governo encontrou um país completamente destroçado, montado somente para o atendimento de golpistas e milicianos. Conseguir rearranjo a máquina pública, ainda que,com todos os problemas sempre elencados,foi um trabalho hercúleo.
    É preciso ter muita calma. Muita calma mesmo! Vencemos os fascismo e os golpistas milicos milicianos, mas não acabamos com eles. Eles continuam babando e esperneando como nunca.
    Nossa defesa principal deve ser,neste momento, a democracia e a manutenção de estado de direito. O restante irá se ajeitando porque nunca foi fácil. Nunca foi sorte. Sempre foi trabalho.

  • Por essas e outras que não me iludo com o PT. Muito menos com Lula. O governo é muito desorganizado. E Lula vive ainda em 2002-10. Tudo mudo.

  • Chega a ser curioso quando aqui no Brasil é falado sobre a questão do Estado. A diminuição do Estado, do seu papel na economia. Há uma atuação exercida pelo Estado, que se tornou um bônus para a incompetência e ineficiência do capitalismo no País, a rede de proteção oferecida para os detentores de grandes volumes de capital. No momento de alta inflação e de hiperinflação vividos pelo Brasil esse arcabouço utilizado para defender o capital, acabou se tornando um adversário difícil para todo o conjunto do País responsável por bancar os custos do Estado para esse privilégio. Pra quê buscar alguma eficiência na economia brasileira que resultasse melhores performances social e econômica, quando as coisas estão parcialmente garantidas. Sem se resolver institucionalmente, colocando sobretudo às regências dos três Poderes da República a observância do que cabe e compete a cada um, o País vai permanecer vivendo essa disputa onde a chantagem supera todos os arcabouços constitucionalmente definidos para a NAÇÃO/ESTADO. O Brasil cresceu, é um país com PIB entre os maiores; mas não se desenvolveu. E dificilmente vai, caso ocorra a continuidade da concorrência desleal alimentada por conta dessa política de rede de proteção que dá bons ganhos ao grande capital e sangra os demais participantes. Certos progressos só são atingidos com grandes volumes de investimentos. Com a altura do piso dado pela SELIC para todos os juros no Brasil, quem quer saber de outra coisa tendo todo o restante da sociedade pra sustentar isso.

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