Coluna Econômica

Neste domingo encerra-se a mais medíocre campanha eleitoral pós-redemocratização do país. Mais pesada que a de Collor em 1989, mais sem conteúdo do que a de Lula em 1994 e a de Serra em 2002.

O próprio Lula identificou a causa central. Em 1994 o país só pensava em estabilidade. Quando veio o Real, o PT ficou sem discurso. Em 2010 o país pensa em desenvolvimento. Com o sucesso da política econômica dos últimos anos, o PSDB perdeu o discurso.

O resultado foi que, em vez de um embate de idéias, se teve uma luta de denúncias e contra-denúncias. E muitas questões ficaram em aberto.

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O próximo governo terá desafios relevantes. O maior deles será substituir Lula em uma quadra da história em que os ventos mundiais não serão tão favoráveis.

É certo que o país saiu-se muito bem da crise global, graças a uma ação pronta e enérgica do Ministério da Fazenda. Mas também é certo que a conjuntura global permitiu o pleno exercício da irresponsabilidade cambial.

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Desde o pós-guerra tem sido recorrente na economia brasileira que períodos de crescimento provoquem constrangimentos externos. Foi assim no segundo governo Vargas, nos governos JK, Jânio e Jango, no final do governo Médici, no final do governo Geisel, nos anos 80 inteiro, no governo FHC.

Foi a mão de Deus, através da conjuntura internacional, que preservou o governo Lula. Se não fosse a crise internacional de 2008, o Brasil certamente entraria em colapso na área externa, em função do aumento exponencial do déficit externo. A crise ajudou porque reduziu a demanda por importados, enquanto os preços das commodities caíam em proporção menor.

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Nada indica que esse quadro se mantenha eternamente. Mesmo se mantido por algum tempo, em breve o aumento do déficit externo tornar-se-á não financiável.

Aí se terá o primeiro grande desafio da nova era. Sem a presença de Lula, o novo governo e o novo país terão que aprender a enfrentar problemas fundamentais, com a maturidade que se exige de um país que se candidata a potência

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Enquanto a moeda nacional se valoriza, amplia-se a sensação de bem estar, mantém a popularidade do governo, contém-se mais facilmente a inflação. No médio prazo, é veneno na veia, pois tira a competitividade dos produtos brasileiros, dificulta a melhoria das exportações, quando for importante para reequilibrar as contas externas.

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O país que o novo presidente encontrará em terá pela frente uma série de incertezas:

1. Manutenção ou não dos preços das commodities internacionais.

2. Desvalorizações de outras moedas.

3. Esforço geral dos grandes países para aumentar as exportações e reduzir as importações.

4. Desmonte da estrutura de exportações de manufaturados brasileiros, devido à política cambial dos últimos quinze anos. Mesmo com a desvalorização, levará tempo até que se desobstruam os canais de importação de outros países.

5. Efeitos sobre a inflação, provocando tensão por alguns meses. Não se saberá qual será a reação da chamada grande mídia a esses movimentos.

Será o último grande desafio para se garantir o crescimento sustentado. 

Luis Nassif

Luis Nassif

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