Coluna Econômica

O derretimento dos planos de saúde, por Luis Nassif

Texto publicado no dia 27 de junho de 2022 e editado em 29 de junho de 2022 para inclusão do direito de resposta de José Seripieri Filho, da Qualicorp

As bolhas criadas ao longo dos últimos anos estão explodindo, uma a uma. Agora, além das criptomoedas e das fintechs, há o estouro das bolhas dos planos de saúde.

A razão é simples. Com a ampla liquidez do mercado internacional – e taxas de juros internacionais extraordinariamente baixas – criou-se um modelo de investimento empenhado em conquistar mercado, mesmo que à custa de prolongar o período de prejuízo.

Aplicava-se em um negócio, antes dele estar consolidado, para que ocupasse a maior fatia possível de mercado. O retorno viria depois.

Agora, o jogo se inverteu, deixando o mercado de planos de saúde em uma sinuca de bico. Hoje em dia, a alavancagem (endividamento do setor) corresponde a 1,3 vezes o faturamento. Sucessos de mídia, como a Hapvida e a Rede D´Or enfrentam problemas pesados de endividamento.

Todo esse jogo começou com André Esteves, do BTG, que conseguiu alterar a legislação para permitir a financeirização do setor. Associou-se a Edson de Godoy Bueno, da rede Amil. Depois, montou negócios pesados com a Rede D`Or, adquirindo todas as debêntures conversíveis em ações emitidas pela companhia. Mais à frente, o BTG descarregou essas ações em fundos de investimentos, financeirizando ainda mais o setor.

Hoje em dia, segundo analistas, a Intermédica precisa resgatar R $2,5 bilhões em debêntures, sem ter caixa para tal.

Os dados públicos mostraram que a Hapvidae da Intermédica tem um índice de sinistralidade de 77, Margem Bruta de 23, Resultado Operacional de -0,7, dívidas de R$ 11,8 bilhões pára faturamento de R$ 10 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão para 2022.

A lógica da financeirização é corrosiva. Primeiro, pela preponderância do chamado CEO genérico – o sujeito sem conhecimento específico do setor, preocupado apenas com os balanços trimestrais. Planos de saúde exigem trabalhos preventivos, destinados a reduzir as intervenções mais drásticas. E investir na prevenção significa antecipar gastos, montar sistemas de atendimento às suspeitas dos associados, promover a saúde.

Nada disso ocorreu com as empresas financeirizadas. Sobraram no mercado a Prevent Senior e algumas Unimeds. E a única saída para alguns desses gigantes seria promover fusões com ambas, diluindo o endividamento e conseguindo trazer dinheiro novo. Mas ambos não estão à venda.

Agora, tem-se um desastre armado. A última tentativa de plano de saúde, a QSaude, do antigo proprietário da Qualicorpo. Está à venda por R$ 20 milhões. A Utermédica tem que pagar R$ 2,5 bilhões em debêntures e não tem caixa.

Os dados levantado pelo GGN mostram um derretimento geral dos planos com capital aberto: A Dasa perdeu 91,5% do valor de pico; a Hypera, 7,8%; a Hapvida, 69,6%; a Rede D´Or em 61,2%, a Qualicorp 60,6%.

Direito de resposta

José Seripieri Filho

De novo. Mais uma notícia errada e injuriosa é publicada por este site, referindo-se à Qsaúde e a José Seripieri Filho.

A nota “O derretimento dos planos de saúde, por Luis Nassif“, publicada em 27.06.22, divulgou informação inverídica e ofensiva, de que a Qsaúde estaria “à venda por R$ 20 milhões”. Novamente o jornalista falta com a verdade e publica informação sem qualquer sustentação.

Demais disso, qualificar a Qualicorp como “plano de saúde” escancara a ignorância sobre o objeto da matéria, já que a aludida empresa não se dedica a tal atividade.

Outra vez a falsidade e a erronia poderiam ter sido evitadas, tivesse o jornalista cumprido singelo e básico preceito de sua profissão, consistente em ouvir as partes envolvidas na matéria que se divulga.

ANA CAROLINA DE MORAIS GUERRA

Perguntas enviadas a José Seripieri Filho

  1. No mercado comenta-se que o ponto de equilíbrio da QSaude seria de 40 mil associados e ela não tem mais de 10 mil.
  2. Com isso, seu controlador seria obrigado a aportar mensalmente quantias consideráveis.
  3. Por essa razão, estaria sondando o mercado, para uma captação de R$ 20 milhões.

Pergunto:

  1. Procedem os dados sobre o ponto de equilíbrio?
  2. Quantos clientes a empresa já possui?
  3. Com a crise atual dos planos de saúde, e com o esvaziamento dos investimentos para conquista de mercado, quanto tempo a empresa calcula que conseguirá o ponto de equilíbrio?
Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • 21 e 22 foram atípicos por conta da covid isto deve ser levado em conta na analise. A curva da demanda foi distorcida. Teremos de ver como fica em 23.

  • Os planos de saúde(empresas administradoras) estão mal, mas seus donos estão com muito dinheiro, multi milionários, quiçá bilionários. Quem perde são seus clientes que ficarão sem atendimento, investidores pequenos e médios. Um ponto interessante é que sua análise sobre o tema compactua com outras análises de diferentes setores. O modelo ocidental de economia liberal fracassou. O capitalismo financeiro corroeu tudo o que foi possível, um papel de Rei Midas ao inverso. Agora veremos o que os governantes eleitos e pagos pelo povo farão. Que modelo surgirá? (ou será utilizado o modelo chinês, já existente e testado?). O grupo de Davos terá ainda um papel relevante? A economia baseada em finanças será mantida, ou será mudada para a economia de produção de bens (o velho capitalismo produtivo)?
    Para variar tenho mais perguntas que respostas.

  • Tudo virou cafua. O objetivo não é prestar um serviço mediante compensação financeira; o objetivo é inflar às alturas os balanços e lucros dos "investidores" (eu chamo jogador de cafua, cafueiro), cujo único objetivo é o vazio e brevíssimo prazer de se comparar: "eu ganhei mais que você". Espalhando dor e ranger de dentes. Até quebrarem tudo.

  • Nao se preocupe, na hora de socializar o prejuizo o governo monta algum PROER ao inves de obrigar os planos maiores a absorver os menores para o cliente nao ser penalizado e cadeia nos dirigentes que faliram as empresas

    Obviamente so o primeiro item ira acontecer

  • Pois é, mas muita gente ainda não entendeu que a única salvação para a saúde e o SUS, pois saúde não é mercadoria e só pode ser universal e de qualidade, de acesso a todos os cidadãos, independentemente de classe social, se for exclusivamente pública. E o mesmo se aplica à educação. Como alguém já disse, se tudo for privado, seremos privados de tudo. Parabéns, Nassif, por mais um grande trabalho!

  • Há que se considerar a perda salarial das classes médias.
    Qualquer plano de saúde custa por volta de mil reais e subindo, para a meia idade.
    Justamente quem perdeu renda.
    Consequência: vão todos para o SUS.
    Obra magistral de bolçoguedis. ("JÊNIOS")
    Mirem-se no exemplo dos irmãos chilenos de Pinochet.
    bolçonario 2022! (na papuda)

  • num país minimamente sério, o ramo de atividade desse tipo de empresa (plano de saúde privado) seria banido. É deveras absurdo empresas venderem um PRIVILÉGIO para classes sociais abastadas e os que consomem esse produto DEDUZIREM as despesas em imposto de renda devido (ou seja: os pobres, que não têm o privilégio de ter um plano particular, PAGAM para os ricos usufruírem de um privilégio e serem atendidos de forma luxuosa e segregada). É asqueroso o modo como a editoria aqui deste jornal bajula esse tipo de empresa. Não vejo nenhuma diferença entre um plano de saúde e uma milícia. Ambos se apropriam daquilo que é público em nome de interesses particulares

  • E na maior cara dura, Antônio Penteado no Estadão, solta que o a verba do sus existe (é isso mesmo) para atender 70 % da população. Os 30 restante quem atende são os planos de saúde.

  • Falta mesmo regulamentação isto é, falta um SUS que seja realmente um sistema único e ao qual os planos de saúde estejam subordinados (suplementarmente ou complementarmente). Como em Singapura, onde tudo é regulamentado e garante a integralidade no atendimento
    a toda a população. E a um custo de cerca de um terço da média dos países europeus.
    Sistema assim não é uma coisa baratinha, mas vale o que custa!
    Mas aqui (no "bolsonaristão") manda nossa #elitedoatraso, né?

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