Queda de Eduardo Cunha altera planos do golpismo, por Fernando Brito

Por Fernando Brito

Do Tijolaço

O problema dos “planos perfeitos” é um pequeno detalhe: a realidade não pode ser determinada nem mesmo pelo “partido único da comunicação” que domina o Brasil.

Há, neste momento, um consenso – Cunha caiu, não tem mais serventia, mesmo num surto de loucura política – e um dilema: o que fazer para recuperar o poder formal sobre o impeachment que ele institucional – mas não mais politicamente- detém.

A “oposição de brincadeirinha” – tucanos e demos do Congresso – batem cabeça entre notas e declarações hipócritas  sobre Cunha e a agora morta esperança de que ele, vingativamente, poria em marcha o bonde do impeachment, travado pelo Supremo. Os seus pitbulls, arraia miúda,  dividem-se entre a  última esperança de faze-lo ir ao disparate  ou a um patético remake do pedido sem fundamentos que vão colocar nas mãos moribundas do presidente da Câmara.

Já a “oposição de verdade” – a mídia e o núcleo conspirador instalado nas áreas de  sombra do Ministério Público e da Polícia Federal –  discute e ensaia o que fazer para prosseguir naquilo que, de forma assustadoramente patética, foi definido pelo de novo atucanado Paulinho da Força, que definitivamente é um homem sem temor do ridículo:  “O nosso negócio é derrubar a Dilma. Nada nos tira desse rumo”

Primeiro, o que fazer com Cunha. Nisso, a decisão está tomada, ou quase: vão derruba-lo com a agora desejável rapidez, para que ainda possam tentar colocar em seu lugar um aliado, o que apresenta grandes dificuldades, porque o Governo, finalmente, parece ter alcançado um mínimo de rearticulação política.

A intenção, claro, esbarra na feroz resistência que lhe oporá Cunha, temeroso de uma cassação de mandato que lhe retire o foro no Supremo e o mande às celas de Moro. Sem o poder de Presidente, Cunha sabe que não interessa mais e será atirado aos leões pelos seus amigos das horas gordas.

O primeiro e patético ensaio da mídia  foi tentar colar o zumbi  a Dilma e, sobretudo, a Lula. Não funciona – sabem disso – mas é pretexto para uma nova saraivada “moralista”, devidamente municiada pelo “renascer dos vazamentos” a que se dedicam agora.

A capa da Veja, completamente descadeirada com o naufrágio de seu ex-herói – que há dois dias ainda vinha recebendo a “sheherazádica” defesa daquela moça que mantém um panfleto chamado “TV Veja”, com uma diatribe em que chamou o Supremo Tribunal Federal de “puxadinho do Planalto” – mostra que é isso que os anima: levar Lula e Dilma de cambulhada com Cunha.

Mas, para isso, precisam seguir fazendo o que é necessário a isso: dar a impressão de que o governo do país está paralisado e não é capaz de exercer seu comando sobre a vida nacional.

Que o Governo Dilma permaneça a abulia recessiva que marca sua área econômica e a falta de comando que se nota em sua área de coordenação político-jurídica.

Aí está a razão das fofocas sobre a substituição de Joaquim Levy, que perdeu a credibilidade em seu projeto do “afundo e emerjo logo”, não por deficiência pessoal sua, como economista, mas por não ter compreendido que o Brasil não pode ser governado com simples ortodoxia  e não ter recebido, como esperava, apoio do campo conservador em suas medidas.

A rigor, lágrimas por sua substituição só virão mesmo dos colunistas de economia, e por simples vontade de transformar a experiência e a solidariedade de Lula em um “capitis dimininutio” de Dilma como presidente.

Só quem não vê o óbvio, que Lula é a fonte primária da legitimidade eleitoral alcançada por Dilma e que a sobrevivência de Dilma como governante são vitais para Lula pode achar “anormal” que os dois decidam em conjunto, até porque a palavra final é dela, pela investidura que possui.

O resto é mentalidade senhorial – ou ditatorial – do “quem manda aqui sou eu”, porque o poder democrático se exerce com o “nós”, as forças que o constituíram, das quais o presidente da República é o árbitro, não o dono.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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