Sem obstrução de pauta, rompimento do PSDB com Cunha vale pouco

Ruptura tucana com Cunha é pressão pró-impeachment

Por Kennedy Alencar

O anúncio de rompimento da bancada do PSDB com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deve ser visto com cautela. No mês passado, o PSDB divulgou nota pedindo o afastamento de Eduardo Cunha, mas manteve conversas de bastidor com ele para tentar detonar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Ontem à noite, deputados do PSDB diziam que a decisão da bancada daria uma última chance a Cunha de dar seguimento ao processo de impeachment. No fundo, esse movimento do PSDB objetiva pressionar Cunha, deixando claro que, se ele não aderir ao impeachment agora, o partido vai bombardeá-lo.

Hoje, a bancada do PSDB tem uma oportunidade de mostrar que fala sério ao anunciar rompimento. Pode entrar em obstrução e não aceitar votar nada na Câmara enquanto Cunha for o presidente da Casa. Pode fazer uma articulação com o DEM e também com a Rede e o PSOL, dois partidos que já estão na linha de frente contra Cunha. Uma frente de partidos diria que não aceita mais a condução que o peemedebista dá à Câmara.

Sem obstrução, o anúncio de rompimento do PSDB vale muito pouco. O PSDB também pode anunciar desde já que seus membros no Conselho de Ética votarão contra Cunha e que a bancada seguirá o mesmo procedimento em plenário.

Qualquer gesto que não resulte em obstrução e no compromisso de votos pela cassação de Cunha deve ser entendido como mais uma forma de pressão para o peemedebista aderir ao impeachment de Dilma, passo que ele tem adiado a fim de comprar tempo para tentar manter o comando da Câmara e o mandato de deputado federal.

*

Noutra frente de batalha, Cunha recebeu uma notícia ruim. Em depoimento à Procuradoria Geral da República, o economista Felipe Diniz, filho deputado Fernando Diniz, morto em 2009, contradisse a versão do presidente da Câmara sobre um depósito de 1,3 milhão de francos numa conta do peemedebista na Suíça.

Felipe Diniz negou que tenha orientado o lobista João Augusto Henriques, um dos delatores da Lava Jato, a quitar um suposto empréstimo de Cunha ao pai. Esse depoimento ajuda a lançar dúvida sobre a versão de Cunha.

Apesar de Felipe Diniz também contestar a versão do lobista, isso não elimina o depósito numa conta suíça de Cunha. Felipe limpa a sua barra, mas, concretamente, o dinheiro foi enviado ao exterior por um lobista envolvido na Lava Jato.

Na avaliação do Ministério Público, será preciso esclarecer a contradição entre Felipe Diniz e João Augusto Henriques. Mas, em qualquer hipótese, o depoimento de Felipe Diniz é ruim para Cunha, porque rapidamente foi apontada uma falha na versão do peemedebista.

O Ministério Público continua achando frágil a estratégia de defesa de Cunha, que ontem mostrou a colegas um passaporte velho com vistos de viagens à África para justificar a versão de venda de carne processada. No entanto, Cunha tem afirmado ter dificuldade de obter documentos da sua empresa que teria exportado esses alimentos antes de entrar na política.

Há muitas inconsistências nas versões apresentadas por Cunha para justificar as contas na Suíça, sem contar as acusações que já sofre por conta de delações premiadas da Lava Jato.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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