Crônica

Depressão coletiva, por Izaías Almada

Depressão coletiva

por Izaías Almada

         Já não bastassem as invenções quase que diárias da indústria cibernética com seus celulares, ipods, ipads, computadores de todos os tipos, milhares de apps e as redes sociais como tribuna da ignorância e da mediocridade…

         Já não bastassem as ‘fake news’, a possibilidade de transformar uma imagem verdadeira numa grande mentira, já não bastasse a ganância, o caipirismo de mostrar poder e riqueza, sobretudo numa classe mérdia (com R mesmo, senhora redatora) entusiasmada com o sucesso a qualquer preço…

         Já não bastasse uma imprensa calhorda, mais preocupada com seus próprios interesses do que com a verdade em seus noticiários, uma emissora de televisão que mantém boa parte do povo brasileiro ainda nas rédeas curtas da submissão e da pobreza cultural, em conviver com políticos profissionais que estão mais interessados em defender seus interesses familiares e de amigos…

         Já não bastasse a traição de juízes, ministros e “autoridades” jurídicas a desobedecerem as leis e a Constituição do país para interferir em processos de corrupção e, pior ainda, interferir em resultados eleitorais numa democracia feita “para inglês ver”…

         Não bastasse tudo isso (e a lista pode ser bem maior), os brasileiros escolhem um governo de sociopatas, onde a disputa para mostrar quem é mais incompetente chega a dar urticária,

         Fazem por onde destruir a Petrobrás e aprovam um projeto para vender a Eletrobrás; a queima da mata amazônica continua; colocam a FUNAI para jogar bombas de efeito moral sobre indígenas que vão a Brasília, desacreditam a vacinação contra a Covid-19, agridem verbalmente os profissionais da imprensa que os ajudou a chegar ao governo, destroem parte do patrimônio da Fundação Palmares, diminuem as verbas para a Educação e a Cultura, sugerem restos de comida aos pobres como programa de governo… Enfim, um grupo de baratas tontas a fingir que são sérios naquilo que fazem…

    Como na Bíblia, ressuscitaram um Lázaro em Goiás para distrair os ingênuos e incautos que somos muitos de nós. E o país com o passar dos dias pode estar entrando em depressão coletiva.

         Como parecem dizer os proféticos versos de Vinícius de Moraes e Tom Jobim: “tristeza não tem fim, felicidade sim”…

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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