Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Diálogo com Harmônica, capitães para salvar o Brasil, por Rui Daher

O sangue saltou e empoçou no meio-fio. O homem ainda tentou algum movimento, não deu para mais do que alguns grunhidos e novas golfadas de sangue.

Diálogo com Harmônica, capitães para salvar o Brasil, por Rui Daher

Em clima de desespero com a falta de percepção da sociedade sobre os terríveis fatos do cotidiano brasileiro nos cinco últimos meses, eu e o Harmônica estivemos reunidos à beira do Rio São Francisco para concluir o plano que salvará o Brasil.

– Har, uma morte aqui, outra ali, não adianta nada. Pode atender o seu instinto de vingança, mas é pouco para tirar eles de lá. Temos que trazer forças de outras esferas.

– Acho que você tem razão, Rui. São muito fortes. Nunca renunciaram ao Poder e quando o fizeram, logo o tomaram de volta.

– Isso é o que digo. Somos poucos, sem armas, força, grana e estratégia. Deixe-me ler uma coisa aqui, Har. É do jornalista Ricardo Kotscho.

– Conheço.

– “Bolsonaro sofre com evidentes problemas mentais e cada dia prova que não tem as mínimas condições de continuar a governar o país (…) urge que os poderes constituídos formem uma junta médica para interditar o celerado capitão, antes que ele consume seu projeto de fazer desta grande nação uma terra arrasada”.

– Nada mais correto e definitivo.

– Só que não irá ocorrer. Falamos com bovinos, lembra? Deveríamos estar falando com capitães. Não, nada disso. Não me refiro às casernas e Mourão.

– Então, quem? Continua. Vai até o fim.

– Em nossas formações, conhecemos muito heróis superpoderosos. Saíram da mitologia e chegaram, através de gênios da escrita e desenho, às histórias em quadrinhos. Essa efervescência ocorreu, sobretudo, entre os anos que precederam e durante a Segunda Guerra Mundial. Foi a resposta sublimada aos vilões que queriam dominar o mundo. A ficção chamou seus heróis e fez os povos verem a realidade.

– Dê exemplos.

– São muitos. Por exemplo, um jovem repórter de rádio, Billy Batson, gritava “Shazam!” e se transformava no Capitão Marvel para derrotar o vilão Dr. Silvana. Outro, um magnata e playboy de finos modos, Bruce Wayne, sempre que Gotham City corria perigo, se recolhia a uma caverna subterrânea e de lá saía como Batman, o homem-morcego, para destruir vilões psicopatas, como Coringa, Mulher Gato, Pinguim, Charada, Chapeleiro Louco (qualquer semelhança com membros do Executivo atual não será mera coincidência).

– Mas eles não eram reais.

– Claro que eram. Clark Kent, repórter do “Planeta Diário”, um alienígena nascido em Krypton que, ainda bebê, foi lançado ao espaço, pelo pai Jor-El e caiu na fazenda da família Kent. The Superman, o homem-de-aço, capaz de voar em velocidade vertiginosa para salvar a cidade dos tresloucados criminosos, Lex Luthor e Brainiac.

– Mais um.

– O Capitão América, tremendo reaça que tinha no Caveira Vermelha seu arqui-inimigo. Sim, esses os capitães de nossa caserna, espécie de “Liga da Justiça e pela Igualdade”.

– Meio “Clube do Bolinha” não?

– Nada. Precisa conhecer a capitã Mulher Maravilha. Além de nos salvar dos bandidos Arescheetah, Doctor Poison e Doctor Psycho, investigativa, como todas elas são, Diana Prince sabe quem mandou matar Marielle e onde está Queiróz.

– E assim você acha que nós tiramos a besta do apocalipse ou o apocalipse da besta?

– Pois claro, Har. Isso é histórico. Eles nunca perderam uma. Pode pesquisar.

– Será que meu método está meio ultrapassado? Cuba 1959? Pensar.

Nisso, vejo todos os músculos de sua face se retesarem. Os olhos fixos em uma só direção. Nem mesmo uma piscadela. A mão direita escorregando, vagarosamente, até o bolso de trás da calça jeans. Um homem alto passa rentinho a ele. Salto de um leopardo, navalha aberta girando no ar, zás.

O sangue saltou e empoçou no meio-fio. O homem ainda tentou algum movimento, não deu para mais do que alguns grunhidos e novas golfadas de sangue.

– Decidi. Vou seguir a sua linha de ação. Mas precisava de uma ultimazinha com o bosta desse papagaio-de-pirata que vive sempre ao lado dele. Quanto ao sangue, gosta de frango ao molho pardo?

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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