Crônica

O dia em que o Brasil parou (II), por Izaías Almada

O dia em que o Brasil parou (II)

por Izaías Almada

O tal jogo do faz de conta vai longe.

Começou em 1500 quando os portugueses e a armada de Cabral resolveram distribuir bugigangas aos nativos encontrados ao sul do Equador…

Ao chegarem à Bahia não tinham ideia do tamanho do enrosco que iriam enfrentar: muitas terras, muitas praias, muitas matas, cobras, onças e jacarés e, sobretudo, muitas indiazinhas para copular.

Quando se deram conta das dimensões das terras descobertas foi preciso dividi-las em capitanias hereditárias. Surgiram os donos das terras e era preciso trabalhá-las… Mas quem? Os indígenas?

E se trouxessem aqueles negros da África? Gente forte, acostumada aos calores tropicais… Não seria uma boa? Além das índias, teríamos também muitas negras à disposição.

Caro leitor, perdão. Fui aqui me perdendo em divagações que os livros oficiais da nossa história não contam. E para quê, não é verdade? Afinal, a história é contada pelos vencedores. E muito dos vencedores até hoje são os senhores de engenho, os donos dos cafezais, do milho, da soja, da carne e por aí vai a manada…

Vamos fazer de conta que a história oficial, aquela que nos ensinam nas escolas é a que nos diz a verdade…

E o STF? Vai se manifestar a favor da democracia ? Ou vai entrar no jogo do faz de conta?

Portanto, continuemos:

Faz de conta que não existe corrupção no futebol, nas agências de publicidade e seus clientes, entre emissoras de TV agências de publicidade e anunciantes, nos hospitais públicos e privados, nos planos de saúde; faz de conta que não há sonegação de impostos no país ou, se ela existe, não chega a ser propriamente uma corrupção; faz de conta que não há corrupção nos governos estaduais e municipais; faz de conta que somos um povo cordial; faz de conta que acreditamos em Deus e somos sinceramente religiosos; faz de conta que somos competentíssimos naquilo que fazemos, inclusive esse que assina o artigo; faz de conta que sabemos votar; faz de conta que temos uma esquerda combativa; faz de conta que nunca molhamos a mão do guarda da esquina; faz de conta que não compramos notas fiscais; faz de conta que obedecemos a todos os sinais de transito; faz de conta que não temos preconceitos contra paraguaios, bolivianos, cubanos, haitianos e outros latino americanos; faz de conta que somos todos contra a pena de morte; faz de conta que não compramos carteirinhas de estudante; faz de conta que não subimos os preços das mercadorias acima da inflação; faz de conta que conhecemos minimamente a constituição do país, principalmente juízes de direito; faz de conta que nos importamos com a exterminação dos Guarani/Kaiowás; faz de conta que não existem os proxenetas da fé; faz de conta que respeitamos o isolamentos social; faz de conta que a terra é redonda; faz de conta que o Moro é imparcial…

Faz de conta que o Superior Tribunal Federal leva a justiça a sério e, pelo andar da carruagem, deve preparar outra presepada contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. A ver vamos…

Faz de conta; faz de com… Faz de… Faz… F…

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

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