Por Rui Daher
Consultando o Wikipedia, fico sabendo que Carrara é um município da Toscana italiana, fundado no ano de 1235, famoso pela qualidade de seu mármore, em que foram esculpidas várias obras de arte, inclusive o David, de Michelangelo. Não só. Lá nasceu, em 1978, Gianluigi Buffon, goleiro da seleção italiana e da Juventus, de Turim.
E o Carlão? Sim, de novo, e o Carlão, meu amigo Carlo Barbieri, de homônimos menos queridos? Também ele nasceu em Carrara, mas cedo veio para o Brasil dignificar nosso país com seu humanismo, honestidade e trabalho. Como muitos, sei, mas desculpem-me, o melhor que conheci foi ele.
Pois é, o Carlão não está nas principais redes digitais, mas deixou uma rede legionária de humanos e cachorros que o amavam. Sei que muitos acharão o mesmo, mas, egoísta, penso que ele me deixou neste 25 de maio, poucos dias depois de seu aniversário, idade próxima da minha, para continuar a me iluminar em vida de rumos tão incertos, que às vezes duvido valer continuar.
As memórias se cruzam, confundem, falham, mas creio termos trabalhado juntos por 35 anos, em várias etapas e momentos. A mais recente, há dois anos, quando adoeceu.
Ele químico e administrador, fomos colegas em grandes empresas familiares de fertilizantes, engolidas por gestões paroquiais e privatizações, se bem me entendem. Mais tarde, como consultores, junto ao luxuoso auxílio do pandeiro de nossa sócia, Viviane, fizemos inúmeros projetos de inserção no mercado de produtos, fábricas e inovações dos agronegócios.
Não por outro motivo escrevi, não me lembro para qual publicação, logo que começaram a ser descobertos os esquemas de corrupção na Petrobras, o artigo “Três Patetas na Petrobras”. Sim, éramos o Carlão, a Viviane e eu. No lugar de levarmos algum a mais, cedíamos a todas as pechinchas que os contratantes nos impunham. Hoje, poderíamos estar milionários premiados por delações.
Não fosse sua incrível competência para entender a logística e fabricação dos fertilizantes, Carlão entendia o Brasil e se afinava com as minhas opções políticas. Sempre entendi isso pela sua qualidade humana. Hoje, depois da sua morte, pesquisando, percebi que tinha mais. Foi em Carrara que se formou a Federação Internacional dos Anarquistas, em 1968, época em que eu arrebentava as vidraças do Citibank, na esquina da Ipiranga com a São João.
Todos os companheiros de trabalho do Carlo Barbieri, Carlão, sabem do ser humano que ele foi. Poderia escrever um livro sobre seu comportamento com operários, chefes, supervisores, em todas as fábricas que dirigiu.
Naqueles passados de crises bravas, períodos de demissões “para redução de custos e cafezinho”, quantas vezes o vi triste, em dúvida, quase em lágrimas, esperando algum alento de minha parte.
E havia alento? Não. Como nunca haverá para pessoas como o Carlão, que se foi guerreando pelo bem comum.
Ô italiano grandão, palmeirense, narigudo, leva os milhões de beijos que já deve ter recebido da Sônia, Carlinho, Adriana, netos, familiares, amigos, e deste “turco”, a quem você nunca abandonou, mesmo nos frios mais gelados.
Beijo e até já.
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Valioso....
Adeus Carlão, que nunca conheci. Não sinto por você. Um homem que pode viver sua vida bem, construiu bondade, honestidade, família, filhos, netos. amigos, tem seu lugar no Paraíso. Sinto pelo sonho de uma mega empresa de fertilizantes engolida ou não realizada, negligenciada pela Petrobras, abandonada por um país que tendo um dos maiores mercados do mundo teima em ser um anão diplomático ou anão econômico ou anão social ou anão tecnológico. Quantos milhares de empregos? Quantas divsas arrecadadas para o país? Quanta qualidade de vida adquirida com recursos próprios pelos seus funcionários? Quantas pessoas sem depender de algum auxílio anti-miiséria de governos, que tem como resultado apenas diminuir um pouco a miséria? Quantos engenheiros? Quantos quimicos? Quanta gente para escrever em blogs? Quanta gente para consumir noticias e informações? Bayer engolindo Monsanto engolindo mercado para não serem engolidas pelos chineses? Pena que estas oportunidades ainda teimamos em não enxergar. Os que enxergaram, passaram sem conseguí-las concretizar. Adeus, Carlao. Quem sabe numa nova vida. num novo país?
Precioso
Que bonita homenagem. Quem tem amigo, aquele companheiro, entende esse momento dolorido de uma partida, prematura ou não. Sarava Carlão!
Maria Luisa,
Saravá! Com o abraço de sempre.
quem reconhece com tanta
quem reconhece com tanta humanidade os seus
jamais será esquecido...
podes crer!!!1
Obrigado, Zé Sérgio,
pela sua leitura e valiosos comentários. Abraço
Valioso como o mármore de Carrara.
Admirável a sua homenagem ao palmeirense Carlão. Gostaria de escrever como o senhor.
Obrigado, Rubens,
questão de treino e, neste caso, muito sentimento. Um abraço.