Categories: Crônica

Votos de Ano Novo

2012 vai se fechando e as meninas no espelho se preparam para a festa.

Dia desses olhei retratos, de apenas três anos atrás: eram menininhas, agora, moças, num átimo de tempo, como botões de flores se abrindo para o mundo.

Agora, pedem orientação para as mães e, neste momento, para a Eugênia sobre depilações, maquiagens e outras práticas femininas que fazem o encanto dos rapazes e a impaciência dos pais. Antes de ontem, a sombra nos olhos da Bibi e da Cacá combinavam com seus vestidos, um requinte tipicamente feminino que apenas os olhos experimentados de Eugenia, mãe de adolescente, permitiram-se identificar.

De presente de Natal, pediram sapatos de salto. Fomos até  uma loja, na rua Assis, e cada qual experimentou um salto maior que o outro. Brinquei: vou fotografar o primeiro tombo de vocês e colocar no Facebook e, depois, chamada no Blog. Por precaução, decidiram estrear os sapatos em outra oportunidade e ir ao réveillon de sandálias, para evitar tombos comprometedores. 

As meninas cresceram, tornaram-se moças. Dia desses, chamei as três menores, as duas caçulas e a neta, e comuniquei que, infelizmente, devido ao fato irremovível de terem se tornado mocinhas, responsáveis, espero eu, mas, de qualquer forma, mocinhas,  não poderia mais chamá-las de minhas menininhas.

Protesto geral! Como assim, perto das mais velhas continuamos sendo suas menininhas. Expliquei que as mais velhas também eram minhas menininhas. Então… Então, tá! Continuarão sendo para o todo e sempre as menininhas do meu coração.

E de conversa em conversa com as menininhas, de cobrança em cobrança de Eugênia, algo vai mudando internamente e as sombras do passado vão se esvaindo, tocadas por um vento reparador.

Pela primeira vez, em muito tempo, a visita a Poços não despertou desejos de reencontrar velhos fantasmas. São lembranças queridas, mas a alma pacificada. O passado é um quadro carinhoso na parede, mas o presente explode em vida, desafios, não permitindo olhar o passado com o peso de tentar recuperar momentos perdidos; nem o futuro como apenas o cumprimento da missão e, depois, o descanso.

Em 2013 haverá luta grande, como foi nos últimos anos. Há um imenso país querendo sair da casca e sendo seguro por preconceitos, vícios seculares, por uma intolerância que, nos últimos anos, tornou-se assustadora.

Mas há um fio condutor sendo orientado pela ancestralidade.

Dias atrás vocês trouxeram um vídeo de dona Canô e os dois filhos, Caetano e Betânia, cantando “Tristezas do Jeca”.  Ambos, estrelas maiores, altissonantes mas, naquele momento, contidos pela emoção, ante a senhora que lhes trouxe o bastão das músicas ancestrais.

No nosso Natal, a mesma música embalou os afetos de irmãos, filhos e sobrinhos. Eugênia me conta que ontem, em Guaranésia, cantaram a “Tristeza do Jeca”, “De papo pro ar” e tantas outras que encantaram nossa infância.

À minha frente, no entanto, as menininhas cantam canções em inglês perfeito e vêm me perguntar sobre Belchior, Rodrix, Guarabira. Estão descobrindo Rodrix como eu, na idade delas, descobria Francisco Alves e Orlando Silva. Ficam encantadas em saber que fomos amigos. E me contam do amiguinho que toca violão, faz agitação política, é do PSOL e “curtiu” no Facebook uma página de Marx. Tem 16 anos, me contam. Idade certa, penso comigo.

E vou me dando conta de que os ciclos se abrem em ondas sucessivas e que há de se ter pleno respeito pelo presente. Lembro-me do lançamento de meu CD, em 1994, a Luizinha me cobrando: “Papai, você não curte o momento, fica só pensando no dia seguinte”.

Tinha razão, minha sábia menininha.

Meu tempo tem que ser todo dia, cada dia, cada luta, cada afeto reafirmado, cada emoção descoberta, cada momento de encanto, cada instante de poesia, cada choro interpretado, cada balanço de vida, desses que chegam de chofre no último dia do ano e nos coloca, feito bestas, querendo abraçar o mundo.

Ótimo 2013 para todos vocês.

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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