Categories: Cultura

A banalização das novelas

Atualizado

Liberado provisoriamente de trabalhar à noite, voltei a assistir novelas.

Não sei se é implicância minha, mas fiquei chocado com a queda de nível da teledramaturgia nacional, em relação ao período em que assistia novelas.

Esse “Caminho das índias” consegue ser mais caricato que a novela anterior. Uma constelação de atores de primeira grandeza – Lima Duarte, Tony Ramos, José Abreu, Flávio Migliaccio -, alguns rostos belíssimos – como é linda essa Letícia Sabatella -, e abertura cafona, cenas improváveis, falta de naturalidade, direção de atores desleixada,  até para simular bailinhos de carnaval (acho que o bailinho foi na novela das 7). Ah, e uma vilã linda e totalmente dissimulada, para repetir a fórmula da novela anterior.

Outro dia, a Ruiva vislumbrou um sorriso irônico em um desses super-atores, enquanto recitava uma dessas frases de terceira linha.

Até algum tempo atrás, nosso orgulho era a teledramaturgia brasileira, especificamente as novelas da Globo, com o apuro nos roteiros, na direção de atores, nas aberturas inesquecíveis. Olhávamos o México com desdém. Hoje, não mais.

Mas que dá certo, dá. Tanto que as menininhas, nas férias, deixaram de lado os desenhos do SBT e dos canais a cabo, os programas infanto-juvenis, pela novela.

Aliás, Patrícia Pillar heroína absoluta. No final da novela, quando a personagem de Cláudia Raia gritou para a personagem da Patrícia: “Ninguém gosta de você!”, as duas saltaram do sofá e gritaram ao mesmo tempo: “Nós gostamos”.

Por José de Abreu

LN, vamulá:

Não tenho procuração de ninguém mas sei que falo mais ou menos o que a maioria pensa: nós achamos a novela boa. Acreditamos no trabalho da Glória. Estudamos profundamente a Índia antes de a novela começar, 3 meses de work-shop. Estive na India por 20 dias pesquisando. Levamos extemamente a sério nosso trabalho. Estamos dando nosso melhor, em todas as cenas, trabalhando com um prazer quase infantil – já que nossa profissão é um “brincar de casinha” o tempo todo. Nenhum de nós está ironizando qualquer coisa, muito, mas muito longe disso. Fazemos nosso melhor, sempre, por acreditar que fazemos uma coisa boa para nosso público e para nosso país.

Sempre.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Pelo que me disseram essa
    Pelo que me disseram essa novela Caminhos da Índia é, em boa parte, uma recorrência e reinterpretação de outra novela chamada O Clone que a Globo vendeu para o mundo todo e fez sucesso lá fora.

    A Globo vem tentando vender suas novelas para o mercado da Índia. Essa é a explicação de se ter o país como cenário.

    Mas, por causa da crise financeira a Globo vem tendo dificuldades para vender os seus produtos no exterior.

  • Nassif,
    Ainda bem que nunca
    Nassif,
    Ainda bem que nunca tive a oportunidade de encontrar a Letícia Sabatella pessoalmente. Temo que me perderia de paixão. O tempo passa e ela ali, naquela lindeza que parece se eternizar. E é uma lindeza com suavidade!
    Mas nem assim assisto novela. Realmente, não dá.
    Limito-me, quando a vejo no comercial, a delirar: "Letícia, sai da tela!"

  • Ah Nassif, me desculpe, mas
    Ah Nassif, me desculpe, mas ou há muito você não via novelas, ou desde sempre elas foram essa porcaria que são. "Pra repetir a fórmula da anterior". Bobagem, eles estão se repetindo a décadas. O casal que não pode ficar junto é a chave de tudo, à volta deles estão as outras tramas. Sempre as mesmas.

  • Caro Nassif,
    A TV e a
    Caro Nassif,
    A TV e a teledramaturgia sempre foram um "subproduto" dentro do próprio meio artístico. Diretores, escritores e atores autlizavam (e utilizam) a mídia como ponte para ficar em evidência com o público e emplacar seus projetos no teatro ou cinema...Para os profissionais do meio, a TV foi sempre o "sub do sub do sub"...
    Discordo de você quando diz que na teledramaturgia havia mais qualidade. Havia mais atores talentosos, mais diretores ousados, mas desde "Pantanal" descobriu-se que o viés é outro: a novela é o "mexidão" que o povo gosta, e às minisséries foi dado o encargo de carregar o prestígio e o alto nível da emissora (taí a minissérie "Maysa", que foi de uma qualidade brutal). Ou seja: não morreu, só mudou de lugar.
    Porém, ao contrário de vc, gosto da novela das 8h atual, que trata de forma simples (até didática) um universo muito complexo.

  • Nassif, tal fato é o mais
    Nassif, tal fato é o mais puro reflexo da falta de educação dos telespectadores e formação dos atores, diretores, escritores, etc.
    Mesmo com este baixo nível, sua audiência é alta, o que comprova a falta de informação para que a população perceba tal desnível.
    Imagino seu sofrimento, ao tentar dar informações sobre economia para este mesmo público.

  • Nassif, o blog veio com
    Nassif, o blog veio com essa:

    "Você está publicando comentários rápido demais. Mais devagar."

    Sendo que o meu último comentário foi ontem!!!

    É o Sistema, o Dr Mabuse do Blog.

  • Caro Nassif, o que é que você
    Caro Nassif, o que é que você queria com uma novela que tem como protagonistas projetos de atores como Márcio Garcia e Juliana Paz, e ainda por cima um com o nome de bahuan?

  • Prezado Nassif,
    Quanto à nova
    Prezado Nassif,
    Quanto à nova novela, concordo absolutamente contigo. A autora é especialista em tratar temas "multiculturais" de uma forma que nem chega a arranhar a superfície do tema.
    Mas te chamo a atenção para duas novelas anteriores, e recentes, que gostei muito.
    A primeira a última do Manoel Carlos. A novela tinha uma profundidade sociológica que até parecia consciente. Será que era? Eu gostaria de conversar com o autor para confirmar. Tudo girava como no mundo gilbertofreyriano: um velho chefe de família patriarcal ampliadíssima -- com todos os seus penduricalhos de agregados, genros desonestos, filhas mimadas -- vendo seu mundo desmoronar. Ao mesmo tempo, valores. Como se o autor tentasse descrever um Brasil que se vai, ao mesmo tempo lutando para ele ficasse. Um hino de resistência do que havia de bom na nossa ibéria, que se esvai. Do outro lado, o que há de mal na nossa ibéria, com preconceitos de quem é filho, e somos, da escravidão. Mas o Tarcísio de outono do patriarca foi bom demais.
    A outra que gostei era mais leve, mas mostrou um Brasil que resiste, em sua antropofagia: Paraíso Tropical. Uma Copacabana decadente onde todos eram, a sua moda, felizes -- mesmo os vilões, invadidos pela ganância e o salve-se-quem-puder. Uma novela que me lembrou muito aquela pérola do Tim Maia: somos o País onde a "puta goza, o traficante cheira, e o cafetão se apaixona". E isto é bom. É jogo de cintura para aguentar o tranco de qualquer crise e reinventar-se sempre.
    Temas todos que passam longe de qualquer novela da atual autora.
    Abraço

    Algumas das novelas inesquecíveis que assisti eram do Manoel Carlos.

  • Eu também fico muito triste
    Eu também fico muito triste com essa queda no padrão dramatúrgico da Globo.
    Para botar mais lenha na fogueira eu diria que a Record está em um bom caminho. Não esteja acertando em todas, não assisto as duas novelas no ar hoje. Mas deu um golpe de mestre com a "Vidas Opostas" (mal copiada em "Duas Caras" pela Globo).

  • Caro Nassif, arrume um
    Caro Nassif, arrume um trabalho logo, nem que seja voluntário, pois cheguei a mesma conclusão que você, só que há mais de 20 anos. Hoje, tenho muito orgulho de só lembrar de Gabriela, Saramandaia e Pantanal.

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

12 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

13 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

15 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

16 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

17 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

18 horas ago