A forma inflacionada como a sociedade tem usado as narrativas revela uma crise da própria narrativa, e um “sintoma patológico” desse conceito é a forma como o capitalismo encontrou para se apropriar da narrativa, segundo o novo ensaio do filósofo sul-coreano Byung Chul Han.
Denominado “A Crise da Narração”, o ensaio de pouco mais de 100 páginas deixa claro que a sociedade atual vive em uma era pós-narrativa e que, em outros tempos, as narrativas davam sentido, suporte e orientação à vida – o oposto das chamadas micronarrativas do presente.
Citando Benjamin, o filósofo coreano cita como primeiro ponto da crise de narrativa o “florescimento do gênero romance”: enquanto contar histórias cria um senso de comunidade, o romance surge do isolamento e da solidão, com uma narração descritiva. Contudo, seu fim definitivo responde à disseminação de informações típicas do capitalismo.
Segundo o jornal argentino Página 12, Han destaca ainda a impossibilidade da sociedade se narrar verdadeiramente, já que as histórias criadas e postadas nas redes sociais não são narrativas, mas “informações visuais que desaparecem rapidamente”.
As redes funcionam de forma aditiva, não narrativa, e o chamado phono sapiens (o ser sem história, consagrado para o instante) acaba por desconhecer “o desdobramento de toda a existência”, que abrange o tempo da vida entre o nascimento e a morte, ao ser “completamente explorado e manipulado”, minado em dados em um “panóptico digital”.
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