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Tolerância 1000

Boa parte das discussões aqui neste espaço está relacionada ao exercício da tolerância. Quando tratamos dos ataques ao mundo árabe, ao falarmos do preconceito linguístico, da passeata da maconha, dos arroubos homofóbicos do Bolsonaro ou das restrições ao tabagismo, em muitas questões polêmicas existe um problema de aceitação do outro. Na maioria das vezes em que sentimos dificuldades em aceitar as estranhezas de outras pessoas com as quais convivemos, no fundo queremos reforçar a identidade de nossa pobre e insegura pessoa.

Somos inseguros porque nossa imagem cada vez mais se aproxima de um simples avatar, porque trabalhamos demais e perdemos boas experiências de vida, porque desejamos ter mais ao invés de ser mais, porque somos socialmente bolinados o tempo todo, porque vivemos rodeados de pessoas e mesmo assim experimentamos solidão, enfim, existem muitos motivos para nos sentirmos inseguros no mundo de hoje, além de uma infinidade de outros motivos que não se prendem diretamente à era em que vivemos.

É preciso ser tolerante até mesmo com os mais intolerantes, pois eles são os mais inseguros. Às vezes parecem tão fortes, tão donos de si, tão ciosos de seus próprios códigos, que chegam a nos enganar, e quando nos enganam fazem com que sintamos alguma estupefação, pois despertam uma grave suspeita: como podem ter tantas certezas individuais num mundo tão fluido como esse em que vivemos?

É preciso ser tolerante com eles, é preciso insistir na sua educação, educá-los para a aceitação, repetir um milhão de vezes que precisam aceitar aquilo que é diferente nos outros. Um belo dia, quem sabe, com muita insistência, com nossa paciência de formigas, eles vão olhar para dentro de si mesmos e descobrir que é possível melhorar a qualidade das relações humanas simplesmente por regras tácitas e informais de consenso. São os pequenos pactos que erigem uma grande sociedade.

Não há necessidade de legislar sobre ações comezinhas da convivência humana. Suponho que, se prosseguirmos neste caminho de proibições minuciosas, vamos rumar para uma sociedade muito mais opressora do que já conhecemos. Se escolhermos o caminho das formigas, o mundo pode ficar bem melhor. A chave para isso, penso, reside num só palavrão: tolerância.

Luis Nassif

Luis Nassif

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