Museu Mariano Procópio 104 anos de memória, por Jorge Sanglard

Museu Mariano Procópio 104 anos de memória

por Jorge Sanglard

Ícone da memória histórica do Brasil, de Minas Gerais e de Juiz de Fora, o Museu Mariano Procópio é um marco do pioneirismo da cidade industrial mineira e fruto da obstinação de juizforanos como Alfredo Ferreira Lage (1865/1944), que dedicou sua vida à formação de um dos mais significativos acervos artísticos, históricos e de ciências naturais do país. Implantado em meio a um parque de 78 mil metros quadrados, o Museu estabelece a conexão entre a cultura e a sustentabilidade, as artes e o meio ambiente com foco no trabalho de preservação. Ao fazer a ponte entre as questões artísticas e ambientais, o Museu amplia sua perspectiva como núcleo do saber e articula a perspectiva entre a preservação e a renovação.

Filho de Mariano Procópio Ferreira Lage – construtor da primeira estrada de rodagem macadamizada no Brasil, a União e Indústria, no período de 1856 a 1861, ligando Juiz de Fora a Petrópolis – Alfredo Ferreira Lage transformou, em museu particular, em 1915, há 104 anos, a Villa edificada por Mariano Procópio, em 1861, há 158 anos, para receber a família imperial de D. Pedro II. Nascia, assim, o primeiro museu de Minas Gerais.

Para marcar o centenário de nascimento de Mariano Procópio, em 23 de junho de 1921, Alfredo Ferreira Lage inaugurou, há 98 anos, o Museu na Villa, projetada e construída no estilo renascentista pelo arquiteto alemão Carlos Augusto Gambs, e situada no alto e no centro do parque. O parque do Museu Mariano Procópio valoriza em seus jardins a flora exótica e brasileira. Foi considerado “o paraíso do trópicos” pelo naturalista suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807/1873), especialista em geologia e paleontologia e colaborador do acervo de História Natural do Museu.

A ampliação do acervo de Alfredo Ferreira Lage levou à construção de um prédio anexo à Villa, onde foi criada a Galeria Maria Amália para abrigar parte das obras que integram uma pinacoteca de reconhecida importância, abrangendo, principalmente, o período de 1870 a 1930. Em 13 de maio de 1922, há 97 anos, o Museu Mariano Procópio foi oficialmente aberto ao público e inaugurado com o acervo que ocupava tanto a Villa quanto o anexo. Em 29 de fevereiro de 1936, há 83 anos, Alfredo Ferreira Lage efetivou a doação ao município do conjunto do Parque e do Museu Mariano Procópio. Portanto, os 83 anos da doação ao município foram celebrados entre 28 de fevereiro e 1º de março de 2019. E a Fundação Museu Mariano Procópio (Mapro), e a ONG, Associação Cultural de Apoio ao Museu Mariano Procópio (Acammp), fundada em junho de 1995 e que será reativada, buscam a intensificação e a elaboração de projetos voltados para o resgate e para a valorização da história do primeiro museu de Minas e para lançar um feixe de luz sobre a diversificada coleção, visando a reabertura à comunidade do conjunto do Museu e Parque.

Foto: Jorge Sanglard
Um feixe de luz sobre a diversificada coleção

Um acervo constituído de cerca de 55 mil objetos de grande valor histórico, artístico e científico, faz do Museu Mariano Procópio um dos mais importantes núcleos de saber do Brasil. Pinturas, esculturas, gravuras, desenhos, livros raros, documentos, fotografias, mobiliário, prataria, armaria, numismática, cartofilia, indumentária, porcelanas, cristais e peças de História Natural integram o acervo, preservando o passado para que as novas gerações possam extrair conhecimento e refletir sobre o presente e a construção do futuro.

Obras de expoentes da pintura européia, como os franceses Charles François Daubigny (1817/1878) e Jean Honoré Fragonard (1732/1806) e o holandês Willem Roelofs (1822/1897) são destaques no acervo ao lado de trabalhos de brasileiros como Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843/1905), Rodolfo Amoedo (1857/1941) e Belmiro de Almeida (1858/1935). Esculturas e moldes de gesso, principalmente do século XIX, de artistas como Claudion, Marius Jean Mercié, Rodolfo Bernardelli, Modestino Kanto e José Otávio Correia Lima também se projetam no conjunto do Museu.

Os trajes da coroação, da maioridade e do casamento de D. Pedro II e o traje de corte da Princesa Isabel são as mais significativas peças de indumentária expostas no Museu Mariano Procópio. O acervo mobiliário, que é considerado um dos mais importantes do país, destaca-se pela coleção de peças a partir do século XVI e até o século XIX, estas em grande parte adquiridas do Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro.

A doação de Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque (1852/1946), Viscondessa de Cavalcanti, no setor numismático, abrange desde moedas greco-romanas, estampando a efígie do imperador Júlio César, até medalhas raras européias. O Museu Mariano Procópio guarda ainda parte da história da armaria ao longo do tempo, com destaque para um punhal do século XVI, com bainha em marfim, veludo e aço, que pertenceu ao rei Francisco I (1515/1547), da França, e um polvorinho de marfim, que pertenceu ao rei Augusto Sigismundo II (1548/1572), da Polônia.

Essência cultural e histórica do Brasil

Conhecer o Museu Mariano Procópio é resgatar aspectos da essência cultural e histórica do Brasil, de Minas Gerais e de Juiz de Fora. Parte da vida colonial brasileira e do período imperial fazem do acervo do primeiro museu de Minas Gerais um dos mais instigantes e diversificados do país.

A ideia de se criar um Circuito Imperial, ligando Rio, Petrópolis, Juiz de Fora e Tiradentes ganha corpo entre pesquisadores e pode ser um bom indicativo de uma nova alternativa turística e cultural ligando os estados de Minas e do Rio de Janeiro.

Uma das obras mais significativas do museu juizforano e uma das mais importantes cenas históricas brasileiras, o óleo sobre tela Tiradentes esquartejado / Tiradentes supliciado, de 1893, de autoria de Pedro Américo, é um marco do acervo do Museu Mariano Procópio e integrou a seção do Núcleo Histórico da XXIV Bienal de São Paulo, em 1998. Intitulada “Antropofagia e Histórias de Canibalismos”, a seção abrigou uma exposição dedicada ao século XIX e tratando da crise do Iluminismo em associação ao canibalismo, organizada por Régis Michel, curador do Départmentdes des Arts Graphiques do Musée du Louvre. Segundo a curadoria da XXIV Bienal de São Paulo, em 1998, o óleo sobre tela Tiradentes esquartejado / Tiradentes supliciado  é a única pintura que apresenta o herói da Inconfidência Mineira enforcado e esquartejado. Assim, esse Tiradentes se revela como uma espécie de provisão simbólica para uma sociedade egressa do processo colonial, oferecendo uma aguda metáfora da colonização como processo canibal.

O Museu Mariano Procópio está situado na rua Mariano Procópio, s/n, com entrada para veículos pela rua D. Pedro II, nº 350, Juiz de Fora, Minas Gerais. Brasil.

Redação

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