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O novo álbum de Fabiana Cozza

De O Globo.com

Fabiana Cozza cresce ao trocar intensidade por suavidade em novo CD

RIO – Fabiana Cozza tem uma porção atriz. E cultua, há muito, os orixás. A primeira característica pode ser um trunfo para uma cantora, vide Maria Bethânia. A segunda mostra, no mínimo, consciência da profunda ligação do samba, gênero que escolheu, com a origem africana.

Mas a paulistana, apesar da qualidade de seus dois CDs anteriores, precisava moderar essas referências, sob o risco de se tornar uma intérprete intensa até demais. O equilíbrio chega agora, e parte do mérito é da produção de Paulão 7 Cordas, músico notório por evitar excessos, criando arranjos sólidos e simples para cantores sólidos e simples – por este adjetivo entenda-se priorizar as músicas em vez de adornos.

No jeito suave de conduzir “Sandália amarela”, partido alto de Wilson Moreira e Nei Lopes, Fabiana mostra já na abertura seu novo momento. Nele cabe perfeitamente “Lá fora”, encontro luxuoso de Elton Medeiros com Delcio Carvalho, cantado aqui em registro grave, noturno.

Acariocada, Fabiana interpreta três sambas de Sombrinha (com Marquinho PQD e Carlinhos Vergueiro variando nas parcerias), com destaque para “Sabe Deus” e “Eternamente sempre”, cuja levada sinuosa, de lamento, pede um canto sem excessos, que não brigue com a ternura de melodias e letras.

Este princípio é ainda mais imperativo em “Lupiciniana”, samba-canção (como não?) que Wilson das Neves – cuja versão é mais sacudida do que a doce de Fabiana – e Nei Lopes fizeram em reverência a Lupicínio Rodrigues.

“Escudo” (Wanderley Monteiro/Ivor Lancellotti) é outra beleza carioca num CD em que não faltam um samba-de-roda baiano (“Candeeiro de Deus”, de Roque Ferreira) e duas composições do paulista Kiko Dinucci: a inspirada “Santa bamba”, uma espécie de milonga africana, e “São Jorge”, em que aparece a Fabiana intensa, com um pé no terreiro.

“Serenata de São Lázaro” (Gilson Peranzzetta/Paulo César Pinheiro) tem letra devotada ao candomblé, em contraste com a melodia algo romântica – e a versão ficou um tanto longa. No fim, um samba de quadra e um de enredo da Camisa Verde e Branco, com canja do pai da cantora, Oswaldo dos Santos, e a certeza de que Fabiana, ao reduzir efeitos de interpretação, se tornou uma cantora maior.

Luis Nassif

Luis Nassif

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