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Por que o homem sofre?

Comentário ao post “Os dados do IBGE sobre os espíritas”

Vivemos uma época de muitas mudanças. Toda transformação, seja individual ou coletiva gera turbulências que provocam sofrimentos. É natural. Entretanto, como nos aconselha a benfeitora Joanna de Angelis em Florações Evangélicas, pela psicografia do nosso incansável tribuno e médium baiano Divaldo Franco,“nestes dias tumultuosos, quando o homem sofre o impacto de várias vicissitudes e os conceitos tradicionais experimentam severa crítica, dando surgimento à nova ética, é mister que se faça uma pausa nas atividades complexas quão apressadas no dia-a-dia, para indispensáveis reflexões”.

Por que o homem sofre? Esta é uma pergunta que vem provocando reflexões desde os temos mais remotos. Buda fez dela o centro de sua filosofia de vida. Filósofos das mais diversas estirpes, culturas e rincões da terra se confrontaram com ela, buscando saídas que permitissem ao homem superar a dor e se plenificar em uma vida feliz. Entretanto, cada época tem circunstâncias próprias que definem as lutas humanas lhe proporcionando oportunidades únicas de progresso. A experiência da dor define horizontes novos em nossa maneira de ver, analizar e compreender a vida, as pessoas que compõem nosso circulo social, bem como, a nós mesmos e nosso destino.

Sem nenhuma postura de masoquismo ou valorização da dor, o velho ditado já nos mostra com clareza sua finalidade em nossa vida: “se o homem não cresce, não amplia seu progresso espiritual, seus horizontes morais pelo amor, o fará pela dor”. Não se refere aqui o ditado a dor punitiva, de um deus que vendo o erro e desacertos de seus filhos diante de suas leis, castiga e pune com sanções descabidas e humilhantes, mas antes, um Deus que por misericórdia permite experiencias de dor que tornam o ser menos egoísta, menos anestesiado pela ilusão, pelo transitório.

Quantos de nós após uma experiência de dor, física ou moral, quando superada, saímos mais fortes, com estrutura moral firme, de tal forma que, em novas experiências de sofrimento, estávamos menos combalidos e mais crentes em Deus. Pessoas que passaram pelo mau do câncer e pela fé e a confiança em uma cura possível, venceram o processo de enfermidade, dando exemplo vivido de superação e e testemunho de fé. Quantos passaram pelos dramas da pobreza, ou do divórcio, da traição de um sócio ou de um amigo, dos petardos da calúnia, e mesmo assim, com a dor e o aperto no coração, não se fizeram covardes ou humilhados, mas antes, buscaram no trabalho do bem e no testemunho da fé, bases firmes para seguir adiante. Já dizia o poeta: “a dor é natural, mas o sofrimento é opção.” 

Segundo o espírito e personagem bíblico Lázaro em belíssima mensagem nO Evangelho Segundo o Espiritismo intitulada “O Dever”: “Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal, alegando ignorância de seus efeitos.” 

A vida moderna, cheia de constantes desafios e mudanças bruscas nesta era de impermanências, como também, cheia de conforto e possibilidades, uma vez que estamos cercados de tecnologia e possibilidades materiais inenarráveis, tem proporcionado ao homem uma valorização exagerada do ter em detrimento do ser. O que temos, um dia quem sabe, não teremos mais. O que somos, onde estivermos, carregaremos conosco. Tudo passa menos o ser essencial. Referente a este aspecto, o psiquiatra e escritor brasileiro Roberto Shinyashiki em uma interessante entrevista a Revista ISTOÉ, sobre seu livro Heróis de Verdade nos fala da perigosa “tirania da aparência”Segundo ele, “é pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população norte-americana. Em países como Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídio do que homicídio.” 

E ele nos pergunta na entrevista: “Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências …Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto estima está baixa. Antes, o ‘ter’ conseguia substituir o ‘ser’. O cara mal educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ‘ser’ nem ‘ter’, o objetivo de vida se tornou ‘parecer’. As pessoas parecem que sabem, parecem que fazem, parecem que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem.”

Joanna de Angelis vai além em seu belíssimo livro O Homem Integral, colocando que a perca de valores,indispensáveis na construção de nossa Plenitude Espiritual, tem pesado na balança de dor e sofrimentos humanos. Segundo adis, “ Há uma psicosfera de temor asfixiante enquanto emerge do imo do homem a indiferença pela ordem, pelos valores éticos, pela existência corporal.

Desumaniza-se o indivíduo, entregando-se ao pavor, ou gerando-o, ou indiferente a ele. Os distúrbios de comportamento aumentam e o despautério desgoverna. Uma imediata, urgente reação emocional, cultural, religiosa, psicológica, surge, e o homem voltará a identificar-se consigo mesmo.


A sua identidade cósmica é o primeiro passo a dar, abrindo-se ao amor, que gera confiança, que arranca da negação e o irisa de luz, de beleza, de esperança.” Os Espíritos Consoladores já haviam aclarado ao eminente codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec que o homem sofre porque se afasta das leis de Deus, ou seja, dos valores saudáveis que compõem a saúde ética, social e emocional da criatura.


Em resumo, a felicidade real parte de nossa postura diante da vida e do próprio sofrimento, O professorHumberto Hodem escreveu em um de seus opúsculos que o importante não é o homem não sofrer, mas antes, saber sofrer. Uma vida de valores, onde se cultive o afeto humano, o trabalho caridoso, a paz defluente da consciência limpa, do equilíbrio interior, de nossa compreensão do sentido da vida, da fé sincera, da religiosidade verdadeira, são caminhos para as lutas diárias, com mais resignação e perseverança.


 


Lucas Emanuela


Fonte: Papo Espírita: http://www.papoespirita.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=178:por-que-o-homem-sofre&catid=39:blog-papo-espirita&Itemid=50


 

Luis Nassif

Luis Nassif

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