Uma nova ordem na produção mundial de alimentos, por Rui Daher

Uma nova ordem na produção mundial de alimentos

por Rui Daher 

em CartaCapital

Os sistemas agroalimentares caminham para a diferenciação de produtos, nichos, circuitos curtos de transporte e valorização de mercados locais. Mais do que a concentração fundiária, com o avanço de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, o que sobrará para caboclos e campesinos?

Caso o ilegítimo presidente Michel Temer, menos de 3% de aprovação entre os brasileiros, como no caso de Lula, possa interferir na ONU a seu jeito e maneira, o agrônomo José Graziano da Silva, reeleito diretor-geral da FAO, poderá não terminar seu mandato que vai até julho de 2019. Sabem vocês, golpes e filhotes vicejam qual tiriricas na Federação de Corporações.

Não que a opinião mundial fosse se incomodar. O desalojamento poderia, até mesmo, agradar aos membros da Organização. Hoje em dia, tudo e todos com o carimbo Brasil, são motivos de piadas e chacotas no exterior.

Na coluna da semana passada, critiquei as projeções feitas pelos “cabeças de planilha” (grato, Luís Nassif) do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o crescimento da agropecuária brasileira de commodities. Ironicamente, perguntava: por que não seguem com a projeção dez anos à frente? Excel fácil, PowerPoint à Dallagnol, e o melhor: provável eu não durar para me irritar com essa bobagem.

O bom é que nosso professor da Unicamp não é um “cabeça de planilha”. Está na FAO, também, para estudar, pensar, perceber tendências, e nos fazer refletir.

Em recente participação no 56º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Não compareci, mas aproveito relato de Luiz Sugimoto – que reconheço sério – da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa da Unicamp.

Graziano afirma: “Projetar o consumo da demanda de commodities agrícolas pari passu com o crescimento da população me parece um erro (…) está em curso no mundo uma transformação muito profunda no padrão de alimentação e nos sistemas agroalimentares, com a diferenciação de produtos, a criação de pequenos nichos de mercado e a opção por circuitos curtos de transportes, valorizando assim a capacidade de produção local”.

Lembro já ter teclado coisas assim. Finalmente, alguém levanta a bola para este colunista voltar à lupa e denunciar desastre brasileiro em não fazer evoluir, ou pior, cortar recursos das pequena e médias produções familiares ou de grupos pobres rearranjados para dedicação agrícola e mesmo para agregação de valor à cadeia dos agronegócios.

Mas não. A galera fiada nos poleiros das commodities se mantém descrente de qualquer ameaça e sem coragem de dizer não à tecnologia química. Preferem o assalto a experimentar o sapato velho reformado.

Percepções de Graziano que, creio, algumas já anunciadas na coluna, embora com ralo destaque.

Mudanças no padrão de alimentação: sistemas agroalimentares caminham para a diferenciação de produtos, pequenos nichos de mercado, circuitos curtos de transporte, valorização de mercados locais;

Desaceleração do impacto do aumento da renda sobre o consumo médio, inclusive na China: minha concepção, na cadeia alimentar o Mercosul estará fadado menos à produção de bens primários, mas sim sub-primários, matérias-primas para produção da nova tendência de consumo;

Visão da obesidade: entre os maiores consumidores e importadores de commodities agrícolas, cresce a demanda por produtos mais naturais, proteicos, mas voltados para a “nova saúde”. Cresce o número de vegetarianos e veganos;

Destinação regional detectada pela ONU: Grande parte do crescimento da produção de commodities está no Mercosul (Brasil, Argentina e Paraguai (Brasil?);

Impactos sociais: Mais do que a concentração fundiária, com o avanço caríssimo de tecnologias poupadoras de mão-de-obra, o que sobrará para caboclos, campesinos, sertanejos e tabaréus?

Apoio governamental: Hoje em dia, nem pensar. O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) foi extinto pelo neoliberalismo de fancaria;

Guerra comercial: EUA, Canadá e União Europeia juntam-se para combater a China. Óia nóis aí mermãos! Quem seremos? Simples: os fornecedores de terras, água e luz. Num tá bom demais? Dio, grazie.

Apesar de ser essa a minha visão, não pensem que minha fé é cega. Ela é muito mais faca amolada. Corri à USDA. Na próxima coluna, se não mudar de ideia, volto para o assunto.

Uma galhofa apenas: perguntem a Jair e Cabo Daciolo qual sua opinião sobre o assunto.

Nota para o GGN:

Os vídeos aqui sugeridos servem para dizer que não estamos fragmentados. Estamos unidos pelo amor e pela excelência da cultura brasileira. Daí, Darcy Ribeiro, Ariano Suassuna, Luiz Melodia e Walther Salles (pai), terem constituído o Conselho Consultivo do “Dominó de Botequim” para que nos devaneios de minha finitude, possa explodir uma realidade inconteste: que merda vocês fizeram, por que tanta sordidez, golpes, infâmias, delações infundadas e premiadas, partindo do pior da raça, com tudo isso, arrebentam, prendem, e não conseguem tirar nossa aprovação a Lula, o maior estadista que o Brasil já teve? Sabem o que vocês merecem, não? Eu sei. A cena está no filme “Bonitinha, mas ordinária”, sobre obra de Nélson Rodrigues e filmada por Braz Chediak, com os magníficos Lucélia Santos e José Wilkerundefined].  

[video:https://www.youtube.com/watch?v=lvt2HpwQ62M

[video:https://www.bing.com/videos/search?q=+Luc%c3%a9lia+Santos+bonitinha+mas+ordin%c3%a1ria&&view=detail&mid=6CEC99B30482043CFF3E6CEC99B30482043CFF3E&&FORM=VRDGAR

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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  • A IMBECILIDADE ENCONTROU SEU ESTADO. E SEUS ESTADISTAS

    88 anos de Estado Absolutista. Indústria da Pobreza. Grupo Coreano compra cerca de 5.000 Alqueires no interior da BA. Toda produção agropecuária deste Empreendimento para ser enviado a este país. Graziano, acho que os Coreanos, asim como eu, não entenderam sua Teoria. A Norte-Americana Universidade de Harvard é dona de 140.000 Alqueires também nesta mesma Bahia. A maioria do Povo do interior deste Estado vive de Assistencialismo Estatal, escravizados por Bolsa Família. Anteriormente escravizados por Sudene's e Cobal's da vida. Indústria da Seca. De qualquer forma, escravizados. A Coca Cola importa 'extrato' de Refrigerante via Zona Franca de Manaus. Superfatura seus preços importados da Matriz e recebe vultosas e milionárias somas em dinheiro, como reembolso do Imposto Brasileiro que nunca pagou. Suspensa esta mamata, ameça abandonar bilionário mercado brasileiro. Será? Na divulgação deste crime cujo cúmplice é o próprio Governo Brasileiro, correram em prender o Proprietário dos Refrigerantes Dolly. 100 % Nacionais. Concorrente da mesma linha de produtos da multinacional norte-americana Coca-Cola. Hoje no Estadão, Articulista comprova que MultiNacionais Estrangeiras tem 2,5 vezes mais chance de receberem Incentivos Fiscais e Financiamentos Subsidiados do Governo Brasileiro que as Empresas Nacionais. O problema do Brasil é a Pobreza? E nossos Governos lutam em combatê-la? Pobre país rico. A mediocridade ganha uma nova perspectiva e dimensão a partir da Estrutura Politica Brasileira. abs.      

  • Quer dizer que não vais mais precisar da soja brasileira?

    Não é que eu defenda que um país tenha que produzir apenas commodities, mas a Europa e a América do Niorte, por exemplo, tem como valorizar seus mercados locais sem as commodities do terceiro mundo?

    • Xará,

      é claro que não, e exatamente o que expressa o texto. Este será o papel do Mercosul. O problema é ficarmos SÓ com tal papel. Precisamos empreender e ampliar o mercado interno não apenas com produção, mas também com diferenciação. São tendências que se contarão em décadas, porém, hoje já explícitas. E temos uma quantidade enorme de pessoas dispostas a acelerar essa transformação abandonadas pelas iniciativas públicas e privadas.

      Abraços

  • Concordo Zé Sérgio,

    creio que a minha resposta ao Rui Ribeiro poderia complementar os seus argumentos. Talvez, a "Teoria" do Graziano é de que um Estado precisa ser muito incompetente para não entender o tamanho de sua riqueza e entregá-la de mão beijada a coreanos, chineses, norte-americanos, europeus e japoneses. Aliás, qualquer absolutismo é burro. Ou você acha que esses investimentos no Brasil é por que a estrangeirada está olhando para o passado ou o presente? Seus faros vêm de longe e o alvo sempre foi aqui. Deixemos. Eu não estarei aqui para lembrá-los do que o Graziano alertou. Mas isto, quando fiz Ciências Sociais, se chamava Política de Estado, o que nunca tivemos.

    Abraços    

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