Lideranças indígenas do Alto do Xingu apelam por testes de covid-19 nas aldeias

Em vídeos, lideranças indígenas fazem apelo por testes de covid-19 nas aldeias

Da agência Change.org

O novo coronavírus já matou ao menos 689 indígenas no Brasil. A doença, que se espalha entre 154 povos, tirou a vida de importantes lideranças, como do cacique Aritana, dos yawalapitis, no norte do Mato Grosso, de João Akonoizokae, conhecido como João Titi, do povo paresi, no oeste do Estado, e do cacique Domingos Mahoro, da etnia xavante, no leste. Vivendo entre o luto e o temor de um novo genocídio, os povos nativos lutam em resistência. 

Para um povo que sempre batalhou contra o avanço de grileiros, garimpeiros e madeireiros em seus territórios, pela demarcação de suas terras, por respeito à sua cultura e direitos, a luta da vez é para que os governos adotem medidas que sejam realmente eficazes para a proteção dos indígenas durante a pandemia de covid-19. Em três vídeos, lideranças do Mato Grosso narram a situação que vêm enfrentando e cobram soluções do Estado brasileiro.   

“Hoje, muitas comunidades já estão com casos de covid-19 e a Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] não faz a testagem logo de início. Isso faz com que, além de as pessoas não serem diagnosticadas com antecedência, elas acabem disseminando o vírus. Essa gripe forte tem matado o nosso povo”, declara Kaianaku Kamaiurá no vídeo, uma das lideranças dos kamaiurá, no Alto Xingu – um dos maiores territórios indígenas do planeta.

 

 

O Mato Grosso é o terceiro estado que mais contabiliza mortes entre os povos nativos. Até o dia 31 de julho, já eram 82 óbitos, segundo dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), atrás apenas do Amazonas e Pará, que somavam 182 e 85, respectivamente. Kaianaku explica, no vídeo, como a orientação do isolamento social é diferente para a realidade das aldeias, caso não haja apoio do Estado para o fornecimento de itens básicos. 

“Na cidade, as pessoas falam ‘fique em casa’, mas como que é esse ‘fique em casa’ para quem está na aldeia?”, questiona. “Nossa casa é uma oca circular única, que abriga mais de 25 pessoas de uma mesma família, então não dá para simplesmente ficar em casa. Tem gente que é contaminada dentro de casa, sem sair, por uma doença que não é nossa”, afirma. 

Ao lado de Soilo Urupe Chue, uma das lideranças do povo chiquitano, que vive no oeste do Mato Grosso, em uma região de fronteira com a Bolívia, Kaianaku pressiona o Ministério da Saúde e o Governo do Estado para que sejam feitos mais testes de covid-19 nos territórios, como forma de controlar e impedir ainda mais o avanço da doença dentro dessas áreas. A pressão acontece por meio de um abaixo-assinado online que reúne 163 mil apoiadores.  

“Eu peço a todos que respeitem os nossos direitos constitucionais e nos apoiem com esse abaixo-assinado para conseguir esses testes”, apela Soilo no vídeo. “Vamos lutar pelo direito à vida e para não perder mais parentes nossos que estão morrendo dentro dos territórios, muitas vezes por falta de atendimento e do medicamento”, acrescenta. 

De acordo com a liderança, testes do coronavírus e medicamentos gerais estão em falta nas aldeias, o que obriga os indígenas a saírem de dentro dos territórios para buscarem atendimento nos municípios. “Nós precisamos de suporte dentro dos territórios indígenas. Pedimos que os órgãos governamentais nos deem o suporte necessário para que nós possamos manter o controle desse vírus dentro dos territórios”, comento no vídeo. 

O abaixo-assinado das lideranças, que segue aberto na plataforma Change.org, também recebeu traduções em outros idiomas e foi divulgado na Itália. O manifesto ainda tem coautoria do indígena Cristian Wariu, que pertence ao povo xavante e é integrante da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT). 

 

Um terceiro vídeo gravado na aldeia Kaluani, na região do Alto Xingu, narra como os indígenas estão apreensivos em meio à pandemia. Ao mesmo tempo em que buscam respeitar as recomendações de saúde, precisam lidar com a limitação de itens de saúde e prevenção.  

“O atendimento à saúde aqui acontece com o apoio de uma unidade básica de saúde construída pela comunidade, e o trabalho do agente indígena de saúde é responsável por aproximadamente 100 pessoas de duas aldeias”, explica um membro da aldeia no vídeo. “Apesar da dedicação do agente indígena de saúde, o atendimento ainda é precário, pois faltam materiais, como inaladores, respiradores e sistema de energia solar”, continua. 

Apesar das dificuldades, ele enfatiza que os indígenas estão lutando o máximo possível para evitar a contaminação em suas comunidades e nas comunidades vizinhas para que possam continuar garantindo a integridade da saúde e da cultura de seu povo. 

Redação

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