As estratégias de Nelson Barbosa para a economia

Em palestra no 10o Encontro CEO Insights, em Campinas, o economista Nelson Barbosa – cotado para o Ministério da Fazenda ou do Planejamento – expôs seu pensamento a respeito das estratégias econômicas para superar a crise.

Barbosa acredita em uma rápida reversão da economia, a partir de ajustes gradativos que devolvem a previsibilidade ao cenário econômico de médio prazo.

Sua análise se baseia em dois momentos de crise: de 1997 a 2000 e de 2013 a 2016 (de acordo com expectativas de mercado).

No primeiro período, o PIB despencou no Ano 0, manteve-se baixo no Ano 1, recuperou-se no Ano 2 e disparou no Ano 3. No meio do caminho, houve a descompressão cambial (observação minha).

Em sua estimativa, será possível trilhar caminho semelhante, com o PIB recuperando-se levemente em 2015 e disparando em 2016.

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Para sair do impasse atual, diz ele, é preciso responder a duas perguntas: como será feito o ajuste; e quando a economia voltará a crescer mais rapidamente com estabilidade da inflação.

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O cenário a ser trabalhado é complexo.

  • Tem que se recuperar o crescimento da economia e trazer a inflação para o centro da meta.

  • O resultado primário recorrente terá que ser em um valor que garanta a estabilidade da dívida pública em porcentagem do PIB.

  • Tudo isso em um quadro de baixo crescimento mundial e de crise climática interna (água).

  • Em um contexto político de grande divisão interna e demandas sociais crescentes sobre o Estado.

  • Mas também em uma situação de menor fragilidade social, graças à rede de proteção; e financeira, devido às reservas internacionais e à dívida pública sob controle.

Haverá a necessidade de construir novo consenso nacional.

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O otimismo de Barbosa é alimentado pelos seguintes fatos:

  1. Há vários projetos de investimento viáveis, desde que os preços relativos se ajustem à realidade do mercado.

  2. Há grandes ganhos de produtividade possíveis no curto prazo, através da retomada das micro-reformas.

  3. O Brasil mantem um grande potencial de crescimento “para dentro” (desde que continue o processo de inclusão social), quanto “para fora” (desde que ocorra o realinhamento da taxa de câmbio).

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Além disso, há um conjunto favorável de tendências de médio prazo, que ele divide em três grupos:

No Grupo 1:

  • Aumento da produção de petróleo;

  • Recuperação do setor de biocombustível;

  • Aumento do investimento em energia elétrica;

  • Retomada do investimento em mineração;

  • Aumento do investimento em transporte e logística;

  • Forte aumento do investimento em saneamento e abastecimento hídrico no Sudeste.

No Grupo 2:

  • aumento da demanda e aceleração do processo de inclusão digital;

  • retomada da expansão da construção residencial;

  • aumento do investimento em transporte urbano;

  • aumento da demanda e do investimento público e privado em educação e saúde;

  • ampliação da oferta de crédito privado de médio e longo prazo, através do novo modelo BNDES/ABGF (Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores) e expansão do mercado de capitais.

No Grupo 3:

  • Recuperação da competitividade internacional;

  • Novo modelo de política industrial mais focado em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) ao invés de conteúdo local.

  • Maior integração Estado-Mercado, com expansão do modelo FIES (Financiamento Estudantil) para outras áreas e aumento das PPPs (Parcerias Público Privadas).   

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Recuperar

    Estu torcendo para que Nelson Barbosa seja o novo Ministro da Fazenda. Que a economia fique bem mais "perto de deus e longe dos financistas."

    As proposições são realistas. Precisamos agora de acelarar o desenvolvimento em infraestrutura, melhorar a produção, reajustes aqui e acola, além de Reformas, durante as quais, a economia tem que estar segura e firme.

    Quanto a trazer a inflação para o meio da meta, espero que não aumentem a Selic (mais ainda). Não sei como o Pais podera voltar a crescer, com taxas de juros altos.   

    Porém, hoje, o maior problema do Brasil é o Brazil de uma classe que não tolera as transformações sociais pelas quais o Pais esta passando. Prefere continuar como quintais dos Estados Unidos do que ser uma Nação forte e independente. Eh ai que todo o governo vai ter que saber lidar com essas forças (da qual a velha midia faz parte). 

    Boa sorte!

  • Arre, até que enfim um

    Arre, até que enfim um notícia otimista sobre o novo governo Dilma. Fora, urubus. E levem  junto os Mervais e o governo estabelecido pelo Psdb e sua República do Paraná.

  • Até para que não é economista

    Até para que não é economista de carteirinha, as propostas de Barbosa fazem algum sentido. Mas vejamos se a mídia de oposição concorda com ele! Em breve teremos os comentários dos pseudo-economistas acostumados a verem um cisco no olho do outro a kms de distancia.

  • Dilma não pode saber

    Acho que a Dilma não deve esperar para anunciar todos os nomes que irão compor o seu novo ministério. E para anunciar os nomes do novo ministro da fazenda, da justiça e das comunicações não precisa esperar pelo final da operação Lava Jato para saber quem são os que vão pagar o pato. Mas ela precisa saber pelo menos dos nomes dos PTistas e PMDBistas que foram citados pelos delatores (uma vez citado, eternamente condenado pelo PIG), mas o Janot diz que o sigilo dos depoimentos não pode ser quebrado. Mas coomo sabemos, todo o santo dia vazam novas informações para o PIG, mas nem a Dilma nem o Congresso podem ter acesso a informações "confidenciais e confiáveis". 

    Que país infame!

  • Porta-voz

    Nassif,

    Na economia nacional, não basta um elenco de medidas perfeitamente factíveis para fazer o trem andar.

    A contrainformação é inegavelmente poderosa, bate noite e dia pelo pior viés, é incapaz de reconhecer que que determinado fator está em linha com o esperado. Depois de escolher um "pato", segue com ele durante meses, pouco importando os fatos - o PIB brazuca (que não está nenhuma brastemp), quando comparado aos de UE e USA nestes últimos cinco ou mais anos, é bem melhor, mas ...; a Petrobras, conforme eu li ontem, e apesar das reservas confirmadas e recordes consecutivos de produção de petróleo, está pronta prá quebrar. Sem contar na inflação que está a explodir e partir o patropi ao meio, 6,5% aa, baixaria que faz eco em muita gente boa. 

    Fico nestes poucos de inúmeros exemplos a respeito do padrão de má fé, ou melhor, molecagem. E também não falei das notícias relativas aos ganhos sociais verificados ao longo do governo Lula/DR, aliás, acredito que nem devem ter ocorrido rsrs

    Pode parecer bobagem, mas este baticum diário, zero notícia positiva durante diuversos meses que sugere um país em condições semelhantes à da Somália, é capaz de aniquilar com a boa da vontade da maioria em relação ao governo.

    Seria uma ótima idéia ( que é do PHAmorim), o governo colocar um porta-voz competente prá atender diariamente aos jornalistas (não estou imaginando um camarada sem um pingo de compromisso, o caso do ainda ministro Paulo Bernardo), a exemplo do que ocorre em alguns países -  ficar em silêncio já fez DR apanhar bastante durante os últimos 4 anos, o governo precisa estar sempre dentro do ringue. 

  • Um bom nome

    É bom que se diga, como o próprio artigo aponta, que as condições de crescimento já estão postas pelos governos anteriores:

    (...)

    Há vários projetos de investimento viáveis, desde que os preços relativos se ajustem à realidade do mercado.

    E nos Grupos 1, 2, 3 do parágrafo:

    Além disso, há um conjunto favorável de tendências de médio prazo, que ele divide em três grupos:

    Portanto, é inadmissível a ladainha de que o governo Dilma foi ruim, que a economia desabou, e o falso pessimismo massificado pela mídia e que muitos abraçaram

    • Pois é, Assis, pra imprensa

      Pois é, Assis, pra imprensa golpista e pro "mercado" uma economia com pleno emprego está em crise de causar ataque histérico...

      Chega a dar pena do que esse pessoal faz com o bestunto dos dasavisados que ficam conectados à matrix; chega a ser crueldade, covardia...

  • Gostei do tom otimista. Mas,

    Gostei do tom otimista. Mas, porque abandonar a política de conteúdo nacional? Qual o conflito entre conteúdo nacional e P&D. Quer me parecer que a política de conteúdo nacional é semelhante a de substituição de importações que foi muito importante no desenvolvimento de nossa indústria.  

  • Animador...

    ... porém as tendências do Grupo 1 são fortemente ligadas a grupos como os empreiteiros que, estando a situação como está, fica difícil planejar o futuro. E se muitos forem considerados inidôneos?

  • Seu artigo

    Parabéns Luis. Benvindo ao grupo dos que tentam construir. Não digo que o otimismo construa, mas o pessimismo não serve para nada. O realismo sim, é o mais adequado. O olhar sobre o presente, esse é o rumo. Não vivemos na faixa de Gaza. Um bom Natal e um Feliz 2015. Uma vez li em um livro (nem me lembro o nome) dizia: "resta sempre um pouco de perfume nas mãos daqueles que oferecem rosas". Meio bicha, não é? Só que é verdade.

  • Aumento de produtividade...

    Realmente, a única saída para o Brasil é produzir mais com menos e em menos tempo, ou seja, aumentar a sua produtividade. Em um país onde as pessoas têm uma carência de consumo muito maior do que a capacidade de produzir, temos apenas três caminhos: 1) Dar poder aquisitivo para a população e ver a inflação aterrorizar a sociedade, situação atual. 2) Causar desemprego e arroxo salarial, controlar a inflação, privando o consumo da parcela mais pobre da sociedade, situação do passado. 3) Produzir mais e alinhar as necessidades de consumo da população com a capacidade de produzir do país, que é o que se alinha com a proposta de Barbosa... Vale citar que os momentos de crise citados na matéria que ainda estamos passando: 2013 a 2016 e 1997 a 2000 que ja passou, são consequência dos modelos 1 e 2 consecutivamente. Vamos torcer para a música do Cazuza estar errada " Eu vejo o futuro repetindo o passado..." e a estratégia de economia do país fazer com que consigamos ser mais efetivos, eficientes e eficazes.

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