Devolução de recursos do BNDES pode ser “pedalada” fiscal

Jornal GGN – O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou uma série de medidas para redução dos gastos públicos, como o fim do fundo soberano e a devolução de R$ 100 bilhões de ativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional.

Serão devolvidos, inicialmente, R$ 40 bilhões e depois mais duas parcelas de R$ 30 bilhões. De acordo com o ministro da Fazenda, o BNDES tem caixa suficiente para fazer as devoluções e cumprir a programação de concessão de financiamentos dos próximos dois anos. O presidente interino Michel Temer disse que a medida representará economia de R$ 7 bilhões, ao ano, para o Tesouro, no que é gasto para emissão de títulos no mercado e a captação de recursos.

“Esses recursos estavam ociosos [no BNDES] causando custo desnecessário. Estamos fazendo uma boa gestão das contas públicas como mencionou o presidente Temer”, disse Meirelles, segundo informações da Agência Brasil.

De acordo com o ministro, os recursos constituíam ativos no banco, ou seja, eram para ser usados para concessão de financiamento. Os recursos devolvidos, conforme Meirelles, irão para o caixa do Tesouro e não serão usados no cálculo de receita primária ou déficit primário. O ministro não informou qual instrumento jurídico será utilizado para a devolução.

Entretanto, matéria publicada no jornal Valor Econômico indica que tal procedimento é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LFR). Em entrevista, o economista José Roberto Afonso, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e que tal interpretação é partilhada pela atual diretoria do BNDES, que já a manifestou em outras ocasiões.

Segundo declarações de Afonso, “nem havia empréstimos do Tesouro para o BNDES” na época em que se desenhou e aprovou a LRF, que buscava coibir outra prática cujo impacto financeiro assemelha-se ao atual: o uso por muitos governos de retirada de dinheiro das empresas estatais e de seus bancos, a pretexto de antecipar receitas futuras.

A prática vedada pelo LRF era uma “pedalada” inversa à adotada pelo governo Dilma, pois ao invés de empurrar gastos para o futuro, uma receita do futuro era antecipada para o presente – e revogar o dispositivo do LFR que impede o retorno antecipado “seria um precedente gravíssimo porque voltaria a abrir um flanco para as velhas e recorrentes pedaladas”, conforme citação do economista.

Em janeiro deste ano, o BNDES antecipou a liquidação de R$ 28,99 bilhões que o Tesouro Nacional havia emprestado para a instituição financeira. A operação reduziu o endividamento do governo, mas não teve impacto no superávit primário – economia para pagar os juros da dívida pública. Ao todo, foram liquidados cinco contratos de 2015 e nove contratos deste ano.

Na ocasião, o Ministério da Fazenda informou que a liquidação antecipada só foi possível por causa do corte de R$ 30 bilhões no orçamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), programa governamental que estimulou investimentos das empresas e vigorou até o ano passado.

(Com Valor Econômico e Agência Brasil)

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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    • Não, está no caixa do BNDES,

      Não, está no caixa do BNDES, hoje de R$170 bilhões, há pouquissima demanda por credito, mesmo subsidiado, porque a economia esta PARADA.

  • GOLPISTAS PODEM TUDO

    Golpistas assaltaram o Estado.  Primeiro foram prisões abusivas, depois o sequestro de Lula.  O Judiciário disse amém.

    O Palácio do Planalto foi grampeado e conversas privadas foram parar no Jornal do Golpe.  O STF resmungou e abaixou a cabeça.

    O maior corrupto do país encetou o golpe final que derrubou a Presidente da República, também com as bênçãos do stf (já minúsculo em sua vergonhosa posição).

    A reiterada quebra da legalidade dissolveu todos os limites antes impostos aos golpistas, que se comportam no pós-golpe como se já não houvesse Constituição, muito menos leis nesta terra de covardes.

    O Presidente da EBC foi defenestrado ao arrepio da lei.  Ninguém disse nada.  O mandado de segurança deve estar aguardando alguma pipoca nos escaninhos do Judiciário.

    Não existem mais instituições neste país.  Só a velha plutocracia corrupta e autoritária no comando, mais uma vez.

  • Os partidos de esquerda devem

    Os partidos de esquerda devem utilizar os recursos jurídicos disponíveis  e fazer com que o STF se exponha ainda mais. Apesar de resultados já esperados, ficarão para a história  como registro.

  • O artigo 37, inciso II, da

    O artigo 37, inciso II, da LRF veda esse tipo de operação:  

      Art. 37. Equiparam-se a operações de crédito e estão vedados:

              II- recebimento antecipado de valores de empresa em que o Poder Público detenha, direta ou indiretamente, a maioria do capital social com direito a voto, salvo lucros e dividendos, na forma da legislação.

    Isso se fosse no governo Dilma. Para o governo Temer decerto os analistas "isentos" da grande mídia compromissada, os técnicos do TCU anti-petistas doentes  e os parlamentares golpistas será legal, legalíssimo. 

    Por que diabos de todas as alternativas possíveis uma é solenemente e solertemente ignorada: a que responde por 45% do orçamento: os juros e amortizações da famigerada dívida interna? 

    Se o Brasil fosse uma pessoa física estaria na mesma situação do sujeito que ganha, digamos, R$ 5 mil/mês e seu orçamento destinasse R$ 2.250,00 só para amortizar juros da dívida do cheque-especial e do cartão, os dois passivos financeiros mais onerosos. Sobraria, então, R$ 2.750,00 para alimentação, educação, saúde, transporte................

    Queria saber qual país do mundo tem uma gestão de dívida pública tão irresponsável como o nosso.

     

          

    • Auditoria da dívida.
      Eu nem sabia que a Dilma tinha vetado uma auditoria da dívida, prevista na CF88 e nunca realizada. Foi uma bola fora. Hoje o veto foi mantido mas a votação não foi folgada.

  • Mas o PT não tinha quebrado o

    Mas o PT não tinha quebrado o BNDS?  Disponibilidade de 100 bilhões, só quem está mal das pernas.

    Qual impacto na concessão de empréstimos para as empresas de todos os portes? Quero ver o que dirão os paneleiros vendo o financiamento mais caro ou sumindo para alavancar seus negócios, fortalecer a produção nacional,  como no auge do FHC. 

    Quebrando os contratos estão os golpistas. CF,  Eleições, EBC, BNDS, regimentos do congresso, quais paises depositarão confiança num governo destes? Só os abutres

  • Duvida

    Me respondam uma coisa.

    Esse valor emprestado pelo tesouro ao BNDES não constavam (ou deveriam constar) no passivo do BNDES?

    O que o Henrique Meirelles quer dizer com ativo ocioso? Há MUITA demanda de empresas para linhas do BNDES - atendendo a essas demandas, faríamos a economia retomar seu crescimento.

     

    • Não há demanda para credito

      Não há demanda para credito no BNDES porque a economia está PARADA, porisso que o dinheiro repassado pelo Tesouro por emprestimo está parado no caixa, hoje de R$170 bilhões.

      • André, 
         
        Sinto que vc está

        André, 

         

        Sinto que vc está completamente equivocado.  Trabalho no BB e sou gerente PJ. Praticamente 60% das empresas da minha carteira estão me perguntando sobre a volta do PSI.

        Onde está o ativo ocioso que o Henrique Meirelles citou?

  • Com tanta gente pedalando, me

    Com tanta gente pedalando, me parece inevitável a eleição de Fernando Haddad para presidente em 2018.

    Ciclovia neles!

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