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Duas visões sobre a crise

Duas boas visões (opostas) de economia expostas nos últimos dias.

No Valor, André Lara Rezende mostra o formulário mercadista para a economia (leia no Blog do Alexande Weber, na Comunidade do Blog) (http://blogln.ning.com/profiles/blogs/artigo-do-valor-crise-2009). No Estadão, Luciano Coutinho analisa as oportunidades de investimento no país via-a-via a falta de remuneração para os fundos no mundo, com a redução dos juros.

A base do raciocínio do André é:

Nas três últimas décadas do século XX, chegou-se a um relativo consenso sobre os elementos constitutivos de uma boa gestão macro. São eles:

– Política monetária ativa, conduzida por um banco central independente, com base em metas de inflação.

– Livre movimento internacional de capitais.

– Câmbio flutuante, com mínima intervenção.

– Política fiscal que estabilize a relação dívida/PIB, num nível não muito superior a 50% do produto interno bruto.

O mundo mudou, o modelo mudou, a ortodoxia vai mudar. Mas André (mesmo com muito mais brilho do que as irrelevâncias do “professor de Deus”, ou o manual de Pastore) mantém o mesmo nível de análise, como se nada pudesse sair do modelo proposto. O raciocínio é redondo mas, como toda análise de mercado, pressupõe que todas as condições anteriores são mantidas. Deixa de avaliar aspectos novos da realidade econômica (disponibilidade de recursos no mundo atrás de investimentos com bom retorno e baixo risco; a realocação de recursos dos fundos de investimento etc).

A segunda é a entrevista do presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) Luciano Coutinho a Ricardo Grinbaum e Leandro Modé, do Estadão (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090111/not_imp305380,0.php).

Coutinho bate nesses dois pontos, para o qual o Blog vem chamando a atenção desde a eclosão da crise: passado o impacto maior no mercado internacional, redução de juros e busca de investimentos menos voláteis, poderá liberar uma dinheirama para os projetos brasileiros de infra-estrutura e do pré-sal.

“Dizem que a balança comercial vai ter dificuldade, que a exportação vai cair, que não dá para financiar isso, que o País vai torrar reservas, que o câmbio vai para perto de R$ 3 e que tudo isso vai fragilizar o País… Eu digo o seguinte: há, de fato, um desafio de financiamento externo. Mas tenho muita tranquilidade quanto à capacidade de o Brasil obter capitais mais que suficientes para financiar o déficit em conta corrente de 2009 e o déficit que pode ser projetado para 2010. Porque hoje o Brasil se diferencia como uma das poucas economias com uma alta taxa de retorno, com oportunidades amplas para investidores estrangeiros. Temos duas avenidas importantes para a atração de capitais. Uma é o investimento estrangeiro e a outra é a estruturação de fundos de investimentos em infraestrutura e petróleo e gás. É uma determinação do presidente da República atrair capitais e mostrar ao mundo o potencial da economia brasileira”.

Em economia não basta andar na direção certa: é preciso a noção correta de tempo. A grande aposta é se esse investimento virá longo – reduzindo o buraco nas contas externas criado pela política irresponsável do Banco Central – ou não.

De qualquer modo, dois belos textos para uma discussão. Estou saindo de viagem agora mas à tarde retomarei esse tema.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • Eu entendi que o Andre fez
    Eu entendi que o Andre fez justamente uma critica a esse modelo com quatro "pilares" por ele descrito, apesar de não haver alternativa melhor.

    Já o Luciano, como que um investimento em comodities - petróleo e gás - podem ser considerados "investimento menos voláteis"? Infelizmente investimentos em comodities são bem volateis. Mas tambem acho que nao teremos dificuldades em financiar nosso deficit, desde que nao seja grande (ou seja, desde que o gasto corrente nao seja grande)

  • Mesmo que as taxas cobradas
    Mesmo que as taxas cobradas nos empréstimos hipotecários fossem reduzidas para zero, com a queda sistemática dos preços das casas, a partir de certo ponto o valor do imóvel passa a ser inferior à dívida. A deflação generaliza esse fenômeno: aumenta o valor das dívidas em relação à riqueza. Não é bem o que um mundo atolado em dívidas precisa..............
    .................Configura-se o que John Maynard Keynes chamou de armadilha da liquidez. A política monetária perde a capacidade de estimular a demanda agregada. Incapaz de estimular a demanda, a política monetária fica também incapaz de reverter um processo de deflação, incapaz de provocar inflação.................
    .....Dado que a política monetária é o instrumento do qual o Banco Central dispõe, compreende-se a afirmativa de Bernanke, de que a melhor forma de combater uma deflação é não chegar a ela. O fato de se ter chegado até aqui com a deflação definitivamente como uma possibilidade não é reconfortante. A economia americana corre o risco de se encontrar na situação da japonesa, já há mais de quinze anos estagnada.............
    .................Não é preciso, mais uma vez, enfatizar os custos e os riscos de uma profunda e prolongada recessão mundial. Por que então não usar todas as fichas, correr todos os riscos, para evitar a deflação? Não foi justamente um apego à ortodoxia monetária e fiscal, incapaz de ser revista para as circunstâncias de 1929, que levou à Grande Depressão dos anos 1930? A grande contribuição de Keynes foi justamente demonstrar que a economia de mercado pode passar por momentos em que tem um "problema de ignição", que requer o aumento dos gastos públicos para fazê-la pegar no tranco. A hora parece exigir que se esqueçam os pruridos quanto a eventuais desequilíbrios fiscais e fazer todo o possível para escapar de uma nova depressão econômica mundial............
    ...................

  • É muita coisa, mas vamos lá.
    É muita coisa, mas vamos lá. A discussão no BLOG LUIS NASSIF ONLINE ganha em qualqiedade e quantidade.

    Mas sem o "realismo da análise, sem o qual não há como bem agir, não deve ser afastado em nome de um otimismo, neste momento, mais incompetente do que ingênuo. A capacidade de compreender o quadro mundial e nossa especificidade é mais importante do que a tentativa de fazer previsões".

    Já estamos no quarto mês depois da quebra de uma importante instituição financeira americana quanto um dos pilares do capitalismo, a confiança dos consumidores, foi definitivamente quebrada em larga escala munidal.

    A lentidão do COPOM já fez perder a oportunidade de usar uma Política monetária gradual, qualquer redução dos juros da Selic, a menos que seja superior a no mínimo 2% nominais, só terá efeito a partir do segundo semestre de 2008, quando os efetos da recessão já terão se instalados caso nada seja feito.

    A cada dia que passa de imobilidade por parte do COPOM via dimininuindo a capacidade da política monetária em everte arecessão que ameaça a eco nomia Brasileira.

    Por mais um erro do COPOM, fomos obrigados a correr risco de perder o equilíbrio da contas públicas, conquistado a duras penas. Mas certamente apenas uma política fiscal ativa contra a recessão não será suficiente para impedir a recessão no Brasil.

  • André Lara Rezende,destacado
    André Lara Rezende,destacado tucano,fez fortuna com informação de "cocheira",no reinado de FHC,constituiu um Banco,vendeu-o ,e foi residir na velha Albion,britanicamente. Desse assunto,nem um pio do PIG.

  • Creio que precisamos reduzir
    Creio que precisamos reduzir os juros Selic e defender a moeda com as reservas cambiais, garantindo um patamar mínimo para viabilizar o equilíbrio das contas correntes.

    A cada 3% nominais de redução nos juros da Selic, representa o equivalente a 1,5% do PIB na redução dos gastos da rolagem da dívida pública, que poderia sem utilizados no aumentos dos investimentos públicos sem correr risco no equilíbrio das conmtas públicas.

    A ação precisa ser rápida para os impedir efeitos exagerados e desorganizadores do emprego.

  • Do Espaço Aberto
    Do Espaço Aberto Quinta-feira, 25/12/2008

    http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM941005-7823-UM+DEBATE+SOBRE+A+CRISE+INTERNACIONAL+E+SEUS+EFEITOS+NO+BRASIL,00.html

    Carlos Alberto Sardenberg conversa com o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros sobre a crise internacional e seus efeitos no Brasil. A crise começou nos EUA, mas ela tem que terminar lá?

  • Não li, mas aposto que o
    Não li, mas aposto que o Andre Lara Resende falou em corte de gastos públicos. Esses caras só falam nisso

  • os caras fazem fortuna
    os caras fazem fortuna vendendo informações privilegiadas vão embora do país e depois ficam dando pitacos e ainda tem gente que repercute. por isso é que estamos onde estamos.

  • Creio que a resposta da
    Creio que a resposta da economia brasileira a política de juros da Selic não se dá de forma uniformizada, há impactos imediatos, como há impactos que demandam mais tempo para se materializar.

    Quanto mais gradual for o ajuste mais tempo irá levar a reação da economia.
    A atual momento da economia requer medida de maior impacto possível para tentar recuperar a confiança do consumidores.

    Para que o corte de juros da Selic tenha impacto imediato ele precisaria ser o o maior possível, acima de 2% nominais e com víes de baixo, o que permitiria ao Banco Central reduzir os juros da selic se for necessário antes mesmo das reuniões ordinárias que ocorrem a cada 45 dias.

    É preciso considerar que a quebra de uma importante instituição americana em setembro de 2008 provocou um monumental choque na economia no Brasil e no Mundo.

    Tudo leva a crer que será somente medidas drásticas poderão reverter a situação no curto prazo, caso levaremos anos ou talvez décadas para se recuperar.

    Como sabemos não se levanta uma um setor industrial em dias, meses, nem mesmo anos. E estamos diante da possibilidade de quebra de setores inteiros da economia brasileira e mundial, se continuamos a utilizar de mediadas graduais, como por exemplo redução do juros da Selic em 0,5% a cada 45 dias, mais do uma recessão, estaremos vivendo um forte risco de uma depressão econômica no Brasil.

  • Creio que já podemos afirmar
    Creio que já podemos afirmar que um bando de hospícios comanda a Política Monetária no Brasil.

    E precisamos evitar que se instale o circuito do diabo na economia brasileria, utilizando uma política fiscal de aumentos de investimento público e uma Política Fiscal de forte redução dos juros da Selic.

    Em função fo forte aumento dos juros da Selic realizado pelo COPOM ao longo de 2008, e a lentidão com que o COPOM está reagindo a crise que se instalou depois da quebra de uma importante instiuição financeira americana em setembro de 2008, os cortes de juros da Selic terão que ser muito maiores, e rápido.
    `
    Será preciso eliminar os aumentos de juros da Selic praticados pelo COPOM em 2008, 2,5% nominais e mais alguma coisa ao longo de 2009.

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