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Indústria e crescimento econômico brasileiro

Por Marco Antonio L.

Do Sul 21

O Brasil precisa da indústria para crescer

Luiz Augusto E. Faria

Sir Nicholas Kaldor foi um dos mais importantes teóricos do desenvolvimento econômico na segunda metade do século XX. Sua análise sobre as causas do baixo crescimento econômico do Reino Unido levaram-no a propor a existência de uma relação de causalidade entre desenvolvimento da indústria de transformação, elevação da produtividade e crescimento acelerado. Isso porque o crescimento da indústria aumenta o emprego e gera ganhos de escala. Em outras palavras, os novos trabalhadores produzem mais que os antigos e assim, a riqueza da sociedade aumenta a uma taxa maior do que antes.

As ideias de Kaldor não são de todo uma novidade no pensamento econômico, na medida em que ecoam reflexões que se encontravam na obra de Adam Smith quando versou sobre a “divisão do trabalho” e, mais ainda, vão ao encontro dos estudos de Karl Marx em O Capital sobre a grande indústria e o papel da maquinofatura. A teoria que vê a aceleração do desenvolvimento econômico e a elevação do bem-estar como resultado do crescimento da indústria de transformação inspirou pelo menos duas gerações de economistas e dirigentes políticos de todo o mundo durante a enorme expansão do capitalismo e seu rival, o socialismo real, nas três décadas que se seguiram ao final da II Guerra Mundial. O esgotamento desse ciclo de crescimento e, na sequência, o processo de globalização, o advento das tecnologias de informação e comunicação e a chamada terceirização, com consequente crescimento dos serviços, levaram muitos a questionar o papel central da indústria no desenvolvimento.

No entanto, neste começo de século XXI, os adeptos da tese de um desenvolvimento pós-industrial se veem face à realidade de que, onde há crescimento mais elevado, e essa constatação é válida não apenas para o Leste Asiático, mas para Alemanha e América Latina também, há uma combinação de expansão industrial e elevação das exportações. Mas para que isso seja possível, é preciso que em algum lugar haja, também, crescimento do consumo. Alemanha e China se valeram da desindustrialização e do déficit comercial da periferia da Europa e dos EUA, enquanto a América Latina tem expandido seu mercado interno.

O PIB brasileiro vinha experimentando um ciclo de crescimento desde 2004. Neste periodo, a economia brasileira conheceu uma expansão às taxas mais elevadas dos últimos 30 anos. Em 2009, entretanto, o efeito combinado da crise financeira internacional e da rigidez monetarista que então dirigia a política do Banco Central, com sua obsessão em reduzir a inflação a qualquer preço, produziu uma interrupção dessa trajetória. Na sequência, houve uma nova expansão em 2010 e uma desaceleração de lá para cá.

 

Mesmo representando cerca de 11% do PIB, a indústria de transformação ou manufatureira ocupa uma posição central na trajetória da economia, especialmente nos momentos de maior crescimento, como nos manos de 2005, 2008 e 2010 e nas quedas de 2006, 2009 e 2011. Já o investimento, do qual a indústria representa a maior parcela, tem sua variação também fortemente correlacionada com a aceleração iniciada em 2004 e suas oscilações. A queda abrupta em 2009 foi causada por uma redução drástica da produção industrial em razão do clima de incerteza e da interrupção do crédito por parte do sistema financeiro, em pânico por causa da crise norte-americana. Para esse desempenho, a contribuição das exportações foi se tornando menos significativa na medida em que a aceleração persistia. Na verdade, sua tendência foi declinante. Já as importações vêm sendo estimuladas pelo próprio crescimento, uma tendência estrutural da economia brasileira que sempre precisou importar máquinas, equipamentos e insumos, mas que é reforçada pela apreciação do câmbio, a qual comprometeu a competitividade dos produtos brasileiros.

 

Nessa expansão iniciada em 2004 há, sem dúvida, um efeito decisivo de iniciativas de políticas de Governo Federal. Se o papel do mercado externo e a expansão mundial até 2008 não podem deixar de ser apontados como uma espécie de gatilho a propiciar essa expansão, uma série de ações que estimularam o consumo das famílias respondeu pelo principal impulso à atividade produtiva. Os programas sociais transferiram renda para dezenas de milhões de pessoas, a elevação do salário mínimo e o aquecimento do mercado de trabalho fizeram crescer a remuneração dos empregados, a expansão do crédito veio agregar uma maior capacidade de gasto aos consumidores e, também, a partir de 2009, a reação da política econômica via bancos públicos e redução do superávit primário contribuiu para minimizar os efeitos da crise e da queda das exportações. O fôlego desses incentivos está, infelizmente, se esgotando.

Diante desse cenário, é necessário ter em mente que o retorno do crescimento precisa de uma mudança de agenda. O primeiro item dessa nova agenda é a necessidade de buscar internamente as alternativas para a sustentação do desenvolvimento nacional, uma vez que Europa e EUA devem permanecer em crise face à sua incapacidade de adotar uma alternativa positiva em razão da mediocridade de sua liderança política. Esse internamente inclui o Mercosul e um pouco além, todo o espaço da integração latino-americana. Um segundo ponto dessa nova agenda é que uma retomada do desenvolvimento vai exigir ações mais eficazes do Estado no estímulo ao investimento e no fomento à indústria de transformação. Há uma pauta microeconômica que precisa ser vencida e rapidamente. As adversidades do período entre 1981 e 1999 reduziram investimentos e impediram o Brasil e a América Latina de acompanhar a revolução tecnológica de então. Nosso sistema produtivo não incorporou os novos ramos da microeletrônica, semicondutores e telecomunicações. Além disso, ficamos com uma também grande defasagem de infraestrutura.

Para voltar a crescer, a economia brasileira precisa dos ganhos de produtividade que são gerados no setor manufatureiro, especialmente na produção de máquinas e equipamentos de alta tecnologia. Isso só será possível de acontecer com uma grande sinergia entre iniciativas do Estado, pesquisa e mobilização de recursos das empresas. O que está acontecendo na área da exploração de petróleo é um exemplo a ser replicado em outros setores para o país conseguir uma retomada dos investimentos e da inovação, elevando a produtividade.

Luis Nassif

Luis Nassif

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