Liberação do compulsório para quem?, por Andre Motta Araujo

Liberação do compulsório para quem?

por Andre Motta Araujo

Minha curiosidade é grande para saber em que escola de economia se ensina que em uma recessão profunda há escassez de crédito. Necessidade de crédito não atendida se dá em períodos de grande crescimento e não em ciclos de estagnação como o que agora o Brasil está vivendo, com PIB caindo mês a mês.

A ideia anunciada pelo Ministro da Economia em se liberar ATÉ R$100 bilhões do compulsório dos bancos retidos no Banco Central para atender a demanda de crédito tem defeitos de origem a saber:

1.POLÍTICA MONETÁRIA é afeita ao Banco Central e não ao Ministro da Economia. Não querem um Banco Central independente? Então como é que o Ministro determina liberação de compulsório, algo que está na estrita esfera de atribuições do Banco Central e não do Ministério da Economia?

2.Em plena e profunda recessão não há razão para haver demanda não atendida de crédito, se não há crescimento para que serviria o crédito? Pelo mesmo motivo as empresas estão enfraquecidas, muitas em recuperação judicial, não há TOMADORES com cadastro e balanço para novos créditos.

3.O Ministro não definiu nenhum DIRECIONAMENTO dessa liberação de compulsório para linhas de crédito, quer dizer, se libera o compulsório e sem obrigação de emprestar, os bancos vão aplicar os recursos em títulos do Tesouro sem risco. Essa proposta de liberação teria que vir com a OBRIGAÇÃO de emprestar, algo que o Ministro não mencionou e nem creio que fará, isso é contra suas ideias ultraneoliberais. Então se libera o compulsório e os bancos vão agora ganhar remuneração mais alta do que antes, engordando seus lucros.

Mesmo que queiram emprestar, há um espaço de tempo para analisar os pedidos, que pode ser longo dada a situação da economia e, nesse tempo, o dinheiro liberado vai para títulos públicos com alta remuneração e sem risco.

Trata-se, portanto, de uma proposta apenas para constar que o Ministro tem alguma ideia para animar a economia. Infelizmente é uma má ideia, inconsistente, que não terá futuro em uma economia parada.

SÓ INVESTIMENTO PÚBLICO EM ALTA ESCALA TIRA A ECONOMIA DA RECESSÃO. Quem recomenda é Lord Keynes, o maior economista do Século XX.

Quem não recomendou, mas fez a mesma coisa, foi o Ministro da Economia do Terceiro Reich, Hjalmar Schacht que, em dois anos, trouxe um desemprego de 40% na Alemanha para zero, com investimentos públicos, armas e estradas.

Aqui cabe investimento público em saneamento, moradia, estradas, mobilidade urbana. Campos para investir não faltam, mas faltam coragem e visão.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

View Comments

  • Caro André

    Fundamentalistas (como esses neoliberais) não pensam, repetem dogmas. Quem vai tomar grana emprestada de banco para investir se não há quem compre?. É bem capaz de usarem os bancos públicos para financiar empresas (e estatais) estrangeiras para comprarem nossas empresas. Quem é maluco de pegar uma grana no Itaú, Bradesco ou Santander? Nem o careca com cara de espermatozoide que é dono da empresa xing ling foi atrás de banco privado; preferiu morder grana pública do banco comunista do BNDES para ampliar seus "negócios"

  • A questão não é aritmética - é ética . Ética que se tivesse o beato Salu - vulgo Paulo Guedes - ele já estaria adotando o receituário de Keynes ou Schacht pra tirar o mais rápido possível uma argentina de gente desempregado ou subempregada e que em algum momento vai perceber que fazer arminha e dizer bobagens não criam um único emprego . Aliás, André, sem querer cobrar e já cobrando (rs), nos brinde com um post sobre Schacht. A história de vida dele, pelo que li na internet, daria um filme.

  • Os bancos têm dinheiro de sobra para emprestar. O que falta é salário e emprego, fundamental para pagar as parcelas do emprestimo.

  • Opa, não que alguém se importe mas, pelo visto, temos o motivo da demissão do Joaquim Levy.

    Teve que sair para dar lugar ao playboy pateta que obviamente poderia ler um milhão de vezes a palavra "compulsório" sem entender seu significado.

    Demorou mas CAIU A FICHA [apud 'Veja'] do Levy, mesmo no tranco.

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