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O controle das importações

Chegou a hora da verdade, das barbeiragens cometidas pelo Banco Central desde o último trimestre do ano retrasado – mantendo a taxa Selic elevada e permitindo a apreciação irresponsável do real.

No início do ano passado, as contas externas jã haviam se revertido radicalmente, registrando déficit mesmo com as commodities com cotações recordes – um fato inédito.

O risco era claro e quantas e quantas vezes alertei aqui para a loucura. O real apreciado ia expulsando gradativamente os exportadores de manufaturados do mercado. Havia sinais claros de que a crise global se acirraria – embora não nessa proporção. Quando a bolha das commodities furasse, não haveria como compensar imediatamente com manufaturados, nem com um real mais desvalorizado. Não é tarefa fácil sair a campo, fechar contratos, expulsar concorrentes já instalados.

Desde o começo do ano passado alertava que as contas externas seriam o grande desafio do país. Desde que a crise externa se agravou, estava claro.

A decisão de impor controles burocráticos às importações tornou-se inevitável. Dia desses conversei com o ex-MInistro da Agricultura Roberto Rodrigues, recém chegado da Europa. Por todo país que passou, percebeu manobras protecionistas. O mundo está se fechando, como ocorreu no pós-crise de 1929. Não restava outra alternativa ao Brasil.

Repito: é a crise que poderia ter sido evitada ou minimizada se Lula não tivesse aberto mão tão amplamente da responsabilidade de definir a política econômica, deixando essa incumbência nas mãos de um presidente de Banco Central despreparado e de uma diretoria que nunca conseguiu avançar além de seus modelitos matemáticos, que a crise tornou defasados.

Agora, esse pessoal sai quando bem lhe aprouver, segue carreira em bancos ou, no caso do vaidoso presidente do BC, Henrique Meirelles, segue carreira política e toca o pessoal da Fazenda a apagar incêndio de qualquer maneira.

Nem vou fazer um apanhado das declarações dos cabeções de mercado e de seus porta-vozes na mídia, minimizando os riscos externos, combatendo as limitações ao financiamento de bens duráveis (como alternativa ao aumento da Selic), para não ficar com mais raiva ainda.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Só para lembrar que durante
    Só para lembrar que durante estas loucuras do COPOM, a maioria chegaram a propor eliminar a tarifas de importaçãos existentes, para mantere defender a Política dos elevados juros da Selic realizada pelo COPOM.

  • Eis a diferença entre
    Eis a diferença entre intelectuais - os que leram tudo e não aprenderam a pensar - e os inteligentes, os que, mesmo sem ler tudo, vêem muito mais longe. Modelitos matemáticos são a essência do primeiro grupo como se psicologia social se guiasse pelos ditos. Basta esourar a manada e não há teoria "sólida" que resista. Pater coelis Dei, miserere nobis.

  • "...se Lula não tivesse
    "...se Lula não tivesse aberto mão tão amplamente da responsabilidade de definir a política econômica ..."

    Execelente, Nassif.

    Qual será a avaliação que Lula faz das consequências dessa postura? Será que ele julga que o "timing" é o mais importante, ou seja, que só irá "liberar" o crescimento bem próximo da eleição?

    Todos recordam que quando da primeira reeleição, o passo da recuperação foi rigidamente controlado por Palocci/Dirceu/Meirelles de modo que a economia não atingisse o auge muito antes da eleição, o que atrasou em quase um ano o crescimento brasileiro. E quase que a revelação do Mensalão estraga tudo....

    Desta vez o PT não tem candidato forte, então a tendência é que Lula use a economia para dar suporte ao seu candidato, porém é necessário que seja no segundo semestre de 2010.

    Esse é o motivo de a SELIC só chegar a 9% em 2010, sendo que poderia atingir esse valor em abril/09.

  • Quando o Meirelles foi
    Quando o Meirelles foi indicado, foi para satisfazer o" mercado" e não para ser presidente do banco central ( com aval do Mercadante),assim como o "mercado" que agora mostra a sua real,digo, agora deixam mostrar sua real figura,os seus ratos lógicamente são os primeiros a abandonar o navio,que já fazia agua a muito tempo.Infelizmente quando esta "tiurma" sair do Banco Central,entra outra,talvez menos ortodoxa,mas,ainda com aval dos bancos,e com todos acertos e erros do governo LULA,este é capital(sem trocadilho),neste ponto concordo com PHA,o presidente tem medo.

  • Sou testemunha de sua
    Sou testemunha de sua insistência nessa tese Nassif desde o início, vc acertou na veia. Porém agora que o sangue já se foi, como arremediar essa lambança do BC e seus meninos, com o aval Lula?

  • ilustrando suas palavras em
    ilustrando suas palavras em bilhões de US$

    saldo comercial

    94 10,47

    95 -3,47
    96 -5,60
    97 -6,75
    98 -6,58

    99 -1,20
    00 -0,70
    01 2,65
    02 13,12

    03 24,79
    04 33,66
    05 44,76
    06 46,08

    07 40,04
    08 24,74

    Transações correntes

    94 -1,81

    95 -18,38
    96 -23,50
    97 -30,35
    98 -33,42

    99 -25,34
    00 -24,23
    01 -23,22
    02 -7,64

    03 4,18
    04 11,74
    05 14,20
    06 13,62

    07 3,56
    08 -28,30

    nota - aqui a reversão é impressionante

    Balanço de pagto

    94 7,22

    95 12,92
    96 8,67
    97 -7,91
    98 -7,97

    99 -7,82
    00 -2,26
    01 3,31
    02 0,30

    03 8,50
    04 2,24
    05 4,32
    06 30,57

    07 87,48
    08 2,96

  • "Agora, esse pessoal sai
    "Agora, esse pessoal sai quando bem lhe aprouver, segue carreira em bancos ou, no caso do vaidoso presidente do BC, Henrique Meirelles (*), e toca o pessoal da Fazenda a apagr incêndio de qualquer maneira."

    Não faltou algo depois do Meirelles????

  • "... para não ficar com mais
    "... para não ficar com mais raiva ainda" !

    É por isso que gosto do blog. Além da excelente qualidade dos temas, das abordagens e dos colunistas, aqui existe sentimento!

    Parabéns. E que sua raiva, neste caso, continue produzindo a energia para enfrentar a miopia e a má intenção de outréns (!) (em homenagem aos mineiros.

    Bom dia!

  • Pois é, Nassif. Fazendo uso
    Pois é, Nassif. Fazendo uso de uma paráfrase: crônica de uma tragédia anunciada. Não viu quem não quiz.

    Vivemos uma irrealidade cambial graças à frouxidão dos "meninos de ouro do MS EXCEL do BC" que, usando os "antolhos" do mito da flutuação cambial, deixaram tamanha apreciação cambial ocorrer. Tudo para agradar as mesas de operações dos mega-especuladores.
    Agora vamos ver o que efetivamente a Fazenda pode fazer.

    O pior de toda a história é que o Meirelles ainda vai se tornar o grande oráculo de um monte de mini-cabeções e pode virar governador de Goiás!

    E a gente paga a conta!

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