Vamos a um breve raio-x da balança comercial brasileira.
Desde 2016, o saldo comercial vem caindo US$ 10 bilhões por ano. Confira a tabela.
Até março de 2020, o acumulado de 12 meses mostrava um saldo de US$ 44,5 bilhões. Tirando a China, cairia para US$ 13,3 bilhões.
A dependência do saldo comercial em relação à China fica mais óbvia neste outro quadro. Em quatro anos, a China saltou de uma participação de 30% para 70% do saldo comercial brasileiro.
Do lado das exportações, o quadro é o mesmo.
O saldo comercial poderá ser preservado da pior forma: queda das importações fruto da enorme recessão que vem pela frente.
Qualquer setor que se analise, já há sinais de quedas sensíveis nas vendas.
Conclui-se desses números sintéticos, que o mercado externo não será capaz de ancorar a recuperação da economia. Em outros tempos, montava-se uma recessão interna e as empresas iam buscar demanda externa.
Hoje em dia, com o empobrecimento da pauta comercial brasileira, fruto da desindustrialização ocorrida, não há mais essa porta de saída. Fica-se na dependência da demanda por alimentos.
Nesse quadro, com porta externa fechada, familias e empresas endividadas, as medidas propostas pela equipe de Paulo Guedes terão os seguintes resultados imediatos sobre a economia.
O Banco Central abriu uma linha de crédito com taxas de 3,45% ao ano, 45 dias de carência e 12 meses para pagar. A probabilidade de surgirem tomadores desse dinheiro não chegará a 2%.
Que pequena ou média empresa, já machucada por quatro anos de crise, tomará empréstimos para sustentar empregos por dois meses, sem ter a menor noção de como estará depois desse prazo?
2. Oferta de crédito para empresas
Da mesma maneira, o único movimento que ocorrerá será o refinanciamento de dívidas pré-existentes. Ou novos financiamentos mediante garantias expressivas, em um momento em que grande parte da gordura da economia esvaiu-se na enorme execução de garantias ocorrida após 2016.
Assim, as únicas fontes de demanda residem nos gastos públicos, de duas maneiras.
Uma, através de novos investimentos, especialmente em infraestrutura para mover a construção civil.
Outra, através de renda paga à baixa renda e aos desempregados.
Ou seja, a merreca dos R$ 600,00, que Paulo Guedes e Onix Lorenzoni não têm sido capazes de liberar, mais outros programas que certamente virão por aí, não se destinam apenas a cumprir uma obrigação básica do Estado em relação aos cidadãos. Aliás, não se vá exigir deles nenhuma empatia com os mais necessitados. Tornou-se questão de sobrevivência econômica.
Sem demanda, não há vendas. Sem vendas não há emprego, não há crédito, não há impostos.
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Não entendi. Qual deveria ser o valor liberado, sob quais juros e por quanto tempo para que não haja uma tempestade? Se é que seja possível não haver uma.