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Selic e spread bancário

Hoje, no Valor Econômico, a coluna do Luiz Sérgio Guimarães entrevista o economista André Modenesi explicando as relações entre Selic e spread. Como o pensamento não é linear, é possível que os cabeções do mercado tenham alguma dificuldade em entender as relações de causalidade apontadas:

(…) O economista André Modenesi, professor do Ibmec, lembra que o debate sobre as altas taxas de juros se dá em duas frentes. O primeiro é o elevado nível da Selic. O segundo é o caro spread bancário. Isso, de forma alguma, significa que variações na Selic não afetem o spread. A literatura tradicional enfatiza os determinantes microeconômicos do spread: inadimplência, tributação, custos operacionais. No entanto, é equivocado postular que a Selic não afeta o spread bancário. Mas há uma relação entre os determinantes macro e micro do spread. “Não é por acaso que no país onde se pratica uma das maiores taxas básicas de juros do planeta também se verificam spreads bancários exorbitantes”, diz Modenesi. A razão é muito simples: as LFT (títulos indexados à Selic) constituem um ativo especial ao possuir alta liquidez, elevada rentabilidade e risco desprezível. Com isso, diz o economista, os bancos brasileiros não precisam emprestar – apesar de a relação crédito/PIB ter crescido muito ela ainda é pequena – para gerar resultado; basta comprar LFT. “É por isso que os bancos brasileiros são altamente rentáveis apesar de não realizarem a contento sua função primordial: produzir empréstimos. Os bancos não precisam competir entre si na concessão de empréstimos para dar lucro”, diz. Ou seja, um problema macro – o elevado nível da Selic – tem repercussões micro, a baixa concorrência. E a baixa competição na concessão de empréstimos possibilita que os bancos sejam altamente seletivos na oferta de crédito, fazendo racionamento pelo preço. Conseqüentemente, a margem de intermediação é muito elevada. E, num momento marcado pelo aumento da incerteza e da aversão ao risco, é natural que os bancos aumentem ainda mais o racionamento do crédito, por meio de uma elevação de spread.Praticamente forçado por Lula a reduzir a taxa Selic, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles defendeu-se dizendo que o problema do custo do dinheiro era o spread bancário, não a Selic – como se o BC não fosse responsável pelo sistema bancário como um todo.

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • Luis Nassif,
    Então os cabeças
    Luis Nassif,
    Então os cabeças de planilhas que advogam que se crie um superávit suficiente para cobrir a rolagem da dívida e reduzir a dívida pública estão certos ao afirmar que com essa medida o spread e a taxa selic cairão?
    Clever Mendes de Oliveira
    BH, 27/01/2009

  • Prezados Senhores,
    Prezados Senhores,

    Desculpe a ignorância, pois sou totalmente analfabeto em computação (minha geração é outra, não tenho paciência e coragem de dedilhar o teclado e perder tudo... tenho medo de virus, de travamentos, etc.).
    Leitor diário do Blog, antes era fácil enviar por e.mail as notícias que julgava interessante. E agora? como fazer?...

    Obrigado pela atenção

    Me prometeram há três semanas.

  • O Banco central,como
    O Banco central,como sempre,continua a ser apóntado como o grande vilão da história,mas,mesmo forçando a barra,dá para perceber que a Selic não faz nem cócegas nos exorbitantes spreads bancários.
    Os bancos nacionais não teriam porque se contentar com o rendimento,ainda que sem risco das LFTs,isto é lorota . O grande problema enfrentado pelos bancos ainda é a incerteza jurídica,a morosidade,quando não,a completa ineficácia do sistema.
    Nenhum banco vai querer ganhar somente 10% se pode ganhar mais 1000%. A alavancagem no Brasil ainda é baixa,comparada com os bancos internacionais,e,istos está ligado a esta incerteza jurídica.

  • O que se cobra de juro no
    O que se cobra de juro no brasil nâo é coisa de banqueiro é sim agiota de banco de praça, um verdadeiro escarnio, é um bando de criminosos sem lei, essa sim é a verdadeira elite sem escrupolus é sem vergonha na cara, tambem com gente do tipo de gilmar mendes no supremo, banqueiro no banco central, e economistas enpregados de banco pra palpitar, é juizes amigos de gerente de banco é uma festa.

  • Concordo em número, gênero e
    Concordo em número, gênero e grau com Modenesi. Raciocínio lógico e cristalino.

    Também foi feliz Antonio Machado neste artigo do Cidade Biz:
    http://cidadebiz.oi.com.br:80/paginas/47001_48000/47035-1.html

    Ele discute a origem dos juros altos e percebe que remonta à transição para o real. E mais uma vez observa-se: o que era para ser provisório criou raízes e ficou. A necessidade de consolidar e fortalecer o sistema financeiro, então "viciado", dependente da inflação, levou a adoção de juros altos nos primórdios do plano Real. E assim ficou. Vemos o efeito dessa "política" claramente na exposição cristalina de Modenesi.

  • É, caro Álvaro, ESTATIZAR.
    É, caro Álvaro, ESTATIZAR. Bancos são um serviço público. A finalidade primordial da existência de um banco é prover crédito, o qual é indispensável ao funcionamento de qualquer economia. Os bancos brasileiros não prestam o serviço público para o qual existem - e mesmo assim têm lucros que, aqui ou em qualquer lugar, dificilmente são obtidos com atividades lícitas. Se é assim, o Estado tem de agir, e não continuar enfiando dinheiro goela abaixo das nossas combalidas casas bancárias. Portanto, ESTATIZAR, sim, sem dúvida.

    Porém, é claro que nossos banqueiros não precisam temer absolutamente nada. O gov Lula não tem nem mesmo coragem de ser reformista.

  • Sou leigo. Mas entendo que
    Sou leigo. Mas entendo que todo cidadão comum deve compreender pelo menos o mínimo do funcionamento da economia e os economistas têm que ser didáticos a esse respeito. Então, será que foi por isso que o sistema bancário brasileiro não foi quase afetado diretamente pelas causas da crise mundial? Porque já era muito seletivo nos empréstimos, já que deles não dependia tanto? Creio que aí se encontra matéria para muito estudo e para importantes teses.

  • Olá, Nassif

    Por essas e por
    Olá, Nassif

    Por essas e por outras é que volto a dizer: tem de estatizar o sistema financeiro. ES-TA-TI-ZAR! Os bancos privados não fazem a menor falta! Só atrapalham. Já foi o tempo em que serviam para alguma coisa! ES-TA-TI-ZA e ponto! O resto é conversa fiada!

  • Caro Nassif,

    Acho que
    Caro Nassif,

    Acho que poderiam ser discutidas duas questões adicionais:

    - o quanto as aberrantes taxas cobradas, especialmente no crédito rotativo em conta corrente e cartão de crédito contribuem, elas mesmas, para o aumento da inadimplência.

    - como o fato de a Receita Federal aceitar o lançamento como prejuízos, para efeito de tributação, de créditos inflados em escala geométrica por juros de 190% (cheque especial) e 370% a.a. (cartão de crédito) estimula os bancos a manter essas taxas estratoféricas. Suponho que seja muito mais interessante lançar um suposto prejuízo que pode chegar facilmente à casa dos milhões de reais, mesmo no caso de um assalariado com pequeno limite de crédito (basta fazer as contas), do que entabular uma negociação para receber do devedor um valor corrigido por índices realistas.

  • ES-TA-TI-ZAR, o retorno!
    Sem
    ES-TA-TI-ZAR, o retorno!
    Sem controle absoluto sobre a moeda não há governo que preste; sem controle absoluto sobre a moeda o governo não deixa a produção andar; sem controle absoluto sobre a moeda o governo não enfrenta o demprego; sem controle absoluto sobre a moeda o governo não investe em infraestrutura; sem controle absoluto sobre a moeda o governo não suporta a pressão das grandes empresas e suas grandes mídias; sem controle absoluto sobre a moeda não se faz política ambiental; sem controle absoluto sobre a moeda o País não exporta; sem controle absoluto sobre a moeda não há Sistema Único de Saúde; sem controle absoluto sobre a moeda não há Previdência Pública; ....

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