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Trabalhadores em greve contra pacote italiano

De O Globo.com

Governo italiano detalha pacotes de corte de gastos e trabalhadores fazem greve

ROMA e MADRI – O governo da Itália prometeu nesta terça-feira elevar o imposto sobre valor agregado e introduzir uma emenda constitucional para equilibrar o Orçamento, enquanto centenas de milhares de pessoas entravam em greve contra o plano fiscal amplamente criticado. Conforme a pressão do mercado sobre os bônus italianos aumentava, o governo de centro-direita do primeiro-ministro Silvio Berlusconi cedeu às demandas para fortalecer as medidas e equilibrar o Orçamento até 2013. A alíquota do imposto sobre valor agregado irá de 20% para 21% e um imposto especial de 3% será cobrado sobre rendas acima de 500 mil euros, segundo comunicado do gabinete de Berlusconi.

O comunicado informou, ainda, que os ministros aprovarão a introdução de uma “regra dourada” de equilíbrio orçamentário e transferirão funções dos governos provinciais para os regionais, de modo a simplificar as administrações locais. Outras mudanças atrasarão a aposentadoria de mulheres empregadas no setor privado a partir de 2014.

Um voto de confiança será convocado no Parlamento, o que deve levar o pacote fiscal para a aprovação no Senado na quarta-feira. Os senadores começaram a votar o tema nesta terça. A aprovação dará certa tranquilidade antes da reunião do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira. A autoridade monetária da zona do euro tem pressionado para que Roma aja contra a crise. O aval da Câmara Baixa será necessário, então, para que o pacote seja aprovado

GREVE

Trabalhadores entraram em greve em toda a Itália nesta terça-feira enquanto o governo centro-direitista de Silvio Berlusconi tenta assegurar a aprovação parlamentar de um pacote de austeridade econômica, para economizar 45 bilhões de euros. Na Espanha, milhares de pessoas se preparam para realizar uma passeata convocada pelos sindicatos no centro de Madri, na noite desta terça-feira, em protesto contra a reforma constitucional sobre limite de endividamento que, eles acreditam, coloca os benefícios sociais em risco.

A manifestações ocorrem num momento em que governos de toda a Europa tentam aprovar medidas de austeridade para frear a crise na zona do euro. Na

Espanha, os projetos devem ser aprovados, pois o governo socialista e o conservador Partido do Povo são a favor das reformas.

Outros grupos, inclusive membros do movimento liderado por jovens, chamado “Os Indignados” pretendem unir-se à marcha, que deve começar na Plaza Cibeles e terminar em Puerta del Sol, onde membros dos Indignados acamparam durante quase um mês neste ano para protestar contra o sistema político e econômico da Espanha. O desemprego entre jovens supera 40% na Espanha, e na média geral, um cada cinco trabalhadores está desempregado.

A greve na Itália, de oito horas, foi convocada pela CGIL, maior sindicato italiano, deve perturbar os transportes públicos, inclusive o tráfego aéreo, e reforçar a sensação de emergência na terceira maior economia da zona do euro. O projeto de corte de gastos, alvo do do protesto dos grevistas, começa a ser debatido no Senado nesta terça-feira. O governo espera uma rápida aprovação antes que ele siga para a Câmara, onde deve ser votado em duas semanas. O Partido Democrático (centro-esquerda) informou na noite de segunda-feira que votará a favor do pacote no Senado.

Em uma declaração extraordinária, que salienta a gravidade da situação depois do movimento generalizado de venda de títulos italianos no mercado na segunda-feira e dos rumores de rebaixamento do rating do país, o presidente da Itália, Giorgio Napolitano, disse que é necessária uma ação urgente para restaurar a confiança nas finanças públicas.

– É um sinal da persistente dificuldade em recuperar a confiança, como é indispensável e urgentemente necessário – afirmou, acrescentando um pedido a todos os partidos para que não obstruam o pacote de medidas do governo.

O jornal econômico “Il Sole 24 Ore” disse que um aumento no IVA (imposto sobre o valor agregado), ao qual até agora o ministro da Economia, Giulio Tremonti, resistia, deve ser incluído no pacote, assim como a possível elevação da idade mínima para a aposentadoria.

O Banco Central Europeu tem blindado a Itália contra a fúria dos mercados ao comprar títulos italianos, na tentativa de reduzir seu ágio e evitar que os custos do crédito para o país atinjam níveis insustentáveis.

Mas sua paciência tem sido testada pela forma caótica como o pacote de austeridade tem sido negociado, e pela ausência de medidas concretas para cumprir a promessa governamental de equilibrar o orçamento até 2013.

Na segunda-feira, Mario Draghi, que assume em novembro a presidência do BCE, intensificou a pressão sobre as autoridades italianas, ao declarar que a disposição do Banco Central para continuar comprando títulos “não deve ser vista como algo certeiro”.

Num claro sinal da preocupação dos mercados, o ágio nos títulos italianos de dez anos subiu na segunda-feira para quase 5,6%, aproximando-se do nível, superior a 6%, que era praticado antes de o BCE iniciar a compra de títulos no mês passado.

O lucro que os investidores exigem para comprar os títulos italianos em vez dos alemães, que servem de parâmetro no mercado, ampliou-se para 369 pontos-base, mais de 30 pontos acima do valor relativo à Espanha, num sinal de que a Itália entrou de vez no centro da crise na zona do euro.

Luis Nassif

Luis Nassif

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