Mandela day convoca pessoas a diariamente transformarem suas comunidades

Por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral

Um dos grandes líderes da humanidade, Nelson Mandela não foi apenas um ícone dos direitos humanos e da luta contra o Apartheid (1948-1990), regime de segregação da população negra na África do Sul, como um fundamental propositor da educação como ferramenta de transformação das relações sociais. No dia em que se comemora o Mandela Day (Dia do Mandela), data instaurada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para homenagear o líder e a partir dele, toda agenda pela paz, as mais diversas instituições se organizam para discutir e relembrar o legado por ele deixado.

Leia também: Nelson Mandela, um advogado da educação

Segundo Ban Ki Moon, secretário geral da ONU, a data é um chamado global à ação de cada indivíduo em sua comunidade.  ”Cada um de nós pode celebrar este dia ajudando a resolver problemas reais em nossa comunidade. Juntos, podemos dar um grande significado à nossa celebração, criando o caminho para um futuro melhor”, afirmou.

Para a Fundação Nelson Mandela, responsável por muitos projetos na área educacional, desenvolvimento social e cultura de paz, o Mandela Day tem que se perpetuar durante o ano todo. Para tanto, tomando a atuação do líder, a organização convida que cada pessoa registre sua ação de transformação – por menor ou mais local que seja – com as hashtags #time2serve (tempo de servir) e #mandeladay. E, nessa perspectiva, a fundação disponibiliza diferentes recursos; entre eles, materiais de apoio a educadores, incentivando que crianças e adolescentes conheçam a história de Mandela e ações de transformação desenvolvidas por todo globo.

O educador Madiba

Carinhosamente chamado de “Madiba”, Mandela, que foi presidente da África do Sul de 1994 a 1999 e comandou a transição do regime de segregação à construção de um Estado igualitário, foi responsável por intensas e importantes mudanças na educação básica e superior no país.

À frente da presidência, Mandela propôs legislações e políticas setoriais que integravam a educação aos demais setores governamentais, como órgãos de saúde e assistência social. Entre suas pautas, estava o fortalecimento do direito à educação como uma ação compartilhada de instituições públicas e privadas, políticas nacionais e locais e indivíduos em todos seus campos de atuação. Em um dos seus muitos discursos com o tema, Mandela fazia apelos à população, indicando que o país deveria transformar cada casa – estivesse ela em comunidades ricas ou populares – em um centro educacional de excelência para as crianças.

Paralelamente, Madiba investiu na construção de escolas em bairros populares e comunidades rurais, populações historicamente cerceadas do acesso à educação de qualidade. O presidente entendia que a educação era a principal ferramenta para romper com o ciclo segregatório do Apartheid. Para tanto, entendendo as muitas dificuldades econômicas do país na época, o líder assumiu parcerias com setores privados e com centros de pesquisa internacionais. Entre as muitas ações nas políticas educacionais que desenvolveu, foram prioritárias as atividades de educação para meninas, objetivando a equidade dos gêneros no acesso e permanência à educação.

Prêmio Nobel da Paz em 1993, Mandela entendia que a educação era também o caminho para reformulação da reorganização territorial. Com o fim do regime, era preciso vencer os “fantasmas” do mesmo, combatendo o racismo introjetado em parte da população, e as disputas entre as diferentes etnias locais.

Mesmo afastado da presidência, ele nunca deixou de atuar próximo da educação. Sua militância continuou com a criação de sua instituição Nelson Mandela Foundation, que tem entre os grandes feitos a reforma de escolas e a criação de centros de excelência de estudos pela África do Sul. Entre eles, a rede Mindset, que atua com formação de professores e construção de materiais de apoio ao currículo em diferentes campos do conhecimento e uma parceria – a Mandela Rodhes Scholarship – para apoiar jovens africanos a estudar e desenvolver práticas de liderança política e social.

Nas ações e posicionamentos de Mandela, é impossível dissociar a educação do desenvolvimento integral dos indivíduos. O líder preconizava que o reconhecimento do Outro só se atinge com políticas firmes e intersetoriais para equidade, garantindo uma educação efetivamente para todos. “Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração”, afirmou, em um dos seus muitos discursos que ficarão para sempre como legado para que mais pessoas encontrem suas formas de superar as muitas injustiças do mundo.

Redação

Redação

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  • Até mesmo a Africa do Sul

    Até mesmo a Africa do Sul soube reconhecer a grandeza de seu lider e com isso vender seu país para o mundo tanto na area de negocios como de turismo, por exemplo. Nós abestadamente preferimos/escolhemos execrar nosso lider maior, Lula, que tem maior envergadura, maior senso politico, maior desenvoltura do que Mandela ao inves de, seguindo o exemplo da Africa do Sul, vendermos o Brasil para o mundo. Lamentavel porque até nisso, vender nosso país,  o Lula é insuperável. Perdemos mais esta oportunidade como tambem perdemos com a Copa a oportunidade de aparecer para o mundo. Mas como sempre e como os portugueses preferimos olhar para o nosso umbigo e ainda acharmos que somos os melhores. Resultado: como País estamos encolhendo. Assim, o Brasil nunca será grande devido a miopia de nossas lideranças que não cansa de perder as oportunidades de negocios.

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