Reitores apoiam federalização de universidades descredenciadas no RJ

Do Estadão

Dirigentes da UFF, Unirio, UFRJ, Rural e Cefet lançaram nota coletiva em apoio à proposta
Felipe Werneck – O Estado de S. Paulo

RIO – Reitores das universidades federais do Rio defenderam nesta terça-feira, 14, a federalização da Universidade Gama Filho e do Centro Universitário da Cidade, instituições de ensino superior descredenciadas na segunda-feira pelo Ministério da Educação.

“Consideramos que o caminho para a solução do problema, que atinge os membros da comunidade acadêmica, com forte impacto social, não seja uma simples redistribuição dos estudantes, tarefa que não é fácil e pode se mostrar inviável a curto e médio prazo, agravando a situação. Reafirmamos a nossa disposição para colaborar com o processo de federalização, mantendo o compromisso com a educação de qualidade”, afirmam, em nota conjunta, os reitores da UFF, Unirio, UFRJ e Rural e o diretor-geral do Cefet.

A federalização é a principal reivindicação dos alunos. Um grupo de estudantes foi a Brasília para tentar um encontro com a presidente Dilma Rousseff (PT) e propor essa solução. “Sabemos que é possível, o Lula já fez isso, em situação semelhante”, afirmou o coordenador do DCE da Gama Filho, Anderson Diniz. Mas para Alex Porto, presidente da Galileo Educacional, entidade responsável pelas duas universidades, a proposta é “remota e improvável”.

Portões fechados. Dirigentes das duas universidades descredenciadas recusaram-se nesta terça-feira a receber representantes dos 9,5 mil alunos das instituições. Os portões de todas as unidades foram fechados e o único canal de comunicação oferecido pelo grupo Galileo, responsável pelas universidades, é um Email (reitoria@ugf.br). No entanto, apenas 15 funcionários trabalham na chamada “força-tarefa” anunciada para atender aos pedidos de informação e de transferência.

Revoltados com a situação, cerca de 150 estudantes fizeram uma manifestação na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, contra a decisão do MEC e o Galileo. No início da tarde, alunos foram impedidos de entrar na unidade do centro em que seria realizada uma entrevista com Alex Porto, que atacou o governo federal e pediu “paciência” aos alunos.

“Tenham um pouco de paciência, estamos trabalhando na reversão dessa situação. A decisão do MEC foi injusta, ilegal, arbitrária e esdrúxula. Coloca em risco o emprego de 3 mil trabalhadores e cria instabilidade social. Estamos ingressando na Justiça. Queremos pedir desculpas. Estamos em processo de reestruturação nos últimos 12 meses e vamos regularizar a situação. Os ativos imobiliários são a principal garantia”, disse Porto.

Ele afirmou que outras instituições privadas também estão com problemas financeiros, com atrasos nos pagamentos de professores, e não foram descredenciadas. “Faltou isonomia.” Segundo ele, o grupo tem dívida total de R$ 900 milhões e imóveis avaliados em R$ 1 bilhão. Porto reconheceu que a situação financeira é “delicada”, com mais despesas do que receitas, mas não revelou o déficit financeiro mensal.

“Recuperação não se resolve em 12 meses. O plano de capitalização está em curso e depende de ajustes, mas temos convicção de que será finalizado”, declarou. Ele afirmou que inadimplentes terão acesso à Documentação.

Revolta. Fundada em 1939, a Gama Filho é uma das mais tradicionais do País. Antigos donos da universidade afirmaram que vão tentar anular a transferência para o Galileo, em 2011. Os 1,6 mil professores das duas universidades estão sem receber salário pelo menos desde setembro e, agora, potencialmente desempregados. “Roubaram cinco anos da minha vida. Não sei o que vou fazer. Trabalhei cinco anos para pagar a faculdade e não tenho como pagar outra”, disse a operadora de telemarketing Fernanda Silva Freitas, que está no último período de história. “O MEC alega que fechou por causa da má qualidade, mas o meu curso está entre os três mais bem avaliados no Rio, com nota máxima.

Nas duas universidades, o cenário atual é de caos. Cadáveres em decomposição por falta de formol e notas não lançadas que ameaçam o ano letivo de alunos são alguns dos problemas. Para estudantes, o descredenciamento foi a pior solução. Guilherme Pereira, de 20 anos, aluno de direito, está no 9.º período e afirma que teria que voltar para o 6.º em caso de transferência, porque as grades curriculares são muito diferentes no Rio. “Vou precisar pagar duas faculdades.”

Segundo o coordenador do DCE da Gama Filho, a situação piorou após a entrada do grupo Galileu. “Com os atrasos nos pagamentos de professores, tivemos três greves só este ano. Queremos a saída da Galileu. Foi uma covardia o que o MEC fez”, disse Diniz. Cartazes foram colados na sede do centro: “Queremos solução; descredenciamento não”; “Governo e Grupo Galileo contra a Educação”; “Mercadante é um covarde!”

 

Redação

Redação

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  • Federalizar a Gama Filho?

    Federalizar a Gama Filho? Pelo amor de Deus..

    Este grupo já deveria ter sido descredenciado há muito tempo, não só pela situação financeira, mas pela péssima qualidade do ensino ofertado.

     

  • Eram instituições

    Eram instituições particulares, cobravam mensalidades de seus alunos. Se faliram é porque foram mal administradas. Ponto. E se fossem lucrativas ? Seriam "federalizadas" porque os corpos docentes e discentes são orgulhos da nação ? Se a quitanda da esquina for vítima de roubo por seus funcionários teria esse papo de "federalizar porque pode causar desabastecimento ? Cai como uma luva em ano eleitoral.

    • Nada de ...

      É até tragicômico, como um grupo de canalhas, responsável por essa má administração, aparentemente intencional, joga a batata quente nas mãos do governo!!

      Ora, esses canalhas é que deveriam resolver o problema. Os alunos, o MEC, os professores são as vítimas nesse caso e não é o contribuinte que deveria pagar pelo erro dos outros. 

  • O erro foi não ter dado um

    O erro foi não ter dado um fim nesse processo lá atrás. Essa situação vem sendo empurrada com a barriga desde quando a família gama filho ainda era dona... E o "mercado" só enganando professores, funcionários e alunos.

    Agora a "culpa é do governo", do ministro. E os reitore, quem diria, de olho gande no patrimônio das universidades. As instituições têm dívida com a união?

  • Não sei porque surgiu essa

    Não sei porque surgiu essa ideia de federalização. Creio que a defesa dos reitores cariocas se justifique como defesa de uma universidade tradicional que faz parte da história do Rio de Janeiro, mas não é razoável apontar a federalização como solução plausível para o problema.

    O MEC diz que não tem base legal para transferir os 12 mil alunos para instituições públicas (UFRJ e UFF, por exemplo), porque eles não se inscreveram no SISU. Também diz que não há respaldo legal para a federalização e que isso não permitiria a manutenção dos empregos das centenas de professores e milhares de funcionários, que só poderiam ser admitidos por concurso público.

    A Gama Filho e a UniverCIDADE já estavam falindo mesmo. Infelizmente parece pelo relato do MEC que os problemas eram de ordem financeira e não acadêmico. O fechamento com transferência era inevitável.

    Podemos discutir se seria interessante o MEC dispor de um mecanismo de intervenção para esses casos ou algum tipo de fundo de salvaguarda, como um PROER, financiado por todas as IES particulares. Eu, particularmente, não seria a favor porque premiraria a má gestão e agridiria a autonomia universitária. O mercado de ensino superior já está cheio de aventureiros que se beneficiariam enormemente com intervenções constantes do MEC para salvar seu investimentode  baixa qualidade.

    • Concordo com suas colocações

      Concordo com suas colocações Jaime.

      E indo um pouco além, talvez fosse o caso de cobrar "transparência financeira total" (como se fosse empresas de capital aberto na bolsa) de tais instituições privadas de ensino superior, assim o aluno/consumidor saberia onde está se metendo.

      Ainda existiria o risco de manipulações em nível contábil para esconder furos, mas já permitiria alguma identificação de de instituições que estão sendo administradas de maneira inadequada por parte dos possíveis clientes, evitando dor de cabeça e preocupações futuras para os clientes.

      • Acho que as iES particulares

        Acho que as iES particulares já tem que manter transparentes seus balanços para algum Conselho da Comunidade e para o MEC quando ele vai lá fiscalizar. E tem muitas que são administradas por fundos de investimento e até tem ações na bolsa.

  • Socializar o prejuízo...

    Capitalismo é assim mesmo...na crise!...socializam o prejuízo...ainda mais em tempos de eleição.

  • A conta é de Lula e Haddad

    A enorme expansão do setor educacional privado mostra sua conta. Haddad e Lula foram os grandes impulsionadores dessa expansão, ao fazer o maior PPP da história desse país: o PROUNI, em conjunto com a expansão do FIES. Paga a conta quem acreditou nessa armadilha (alunos), quem trabalhou nelas (docentes e técnicos-administrativos).

    • É tudo culpa do PT, Lula e Dilma, "evidentemente"...

      O ensino começou a ser privatizado lá na ditadura, desconstruindo-se o público até FHC.

      A Gama Filho e a outra vem de lá.destes tempos tenebrosos para a educação no Brasil.

      Lulilma apenas democratizaram o acesso (a públicas e privadas).

      Mas agora a culpa cai no colo(ão) de quem?

       

       

  • Não é por causa disto que

    Não é por causa disto que alunos devem SABER onde estão se patriculando?

    Não sabiam como era?

  • perguntas

    Cabe perguntar:


    -A Gama Filho, há anos, apresenta problemas; por que o MEC deixou que chegasse a este ponto? Faltou fiscalização?


    -O que implica exatamente federalizar uma universidade privada? O patrimônio do estabelecimento será apropriado pela União? Os alunos serão realocados nas universidades públicas cariocas?


    -Como se deu o rombo financeiro em ambos estabelecimentos de ensino?


    -O que é esse tal Grupo Galileo que controla a Gama Filho e o do CUC?

  • Interessante que este

    Interessante que este assunto, o descredenciamento da Gama Filho, tenha tanta repercussão, a ponto de obter amplo espaço no sistema Globo, sejam Tvs aberta e a cabo, rádios ou portais da internet. Enquanto isso, a falta de água que assola o Rio merece pouca ou nenhuma nota. Um exemplo é o bairro Recreio dos Bandeirantes, onde está sendo construída a Vila Olímpica e onde a cidade se expande vertiginosamente por meio de grandes empreendimentos imobiliários. Aqui, como em outros bairros, imperam os carros pipas que custam o olho da cara. Por que isso não é notícia? E por que não perguntam à família "Grana Filho”, ao  prefeito, ao governado e à CEDAE: "cadê o dinheiro?”

     

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