Eleitores que restaram ao PT recebem Bolsa Família, diz jornal

Jornal GGN – O editorial do Estadão desta segunda-feira (26) diz que o programa Bolsa Família é “muleta eleitoral” do PT e o resultado das eleições 2016 é prova disso. Isto porque o partido perdeu, na média nacional, quase 60% das prefeituras que conquitou em 2012. Em cidades onde a maioria dos eleitores recebem o benefício criado pelo governo Lula, porém, esse índice foi menor: 28%. Para o Jornal, isso é prova de que, não fosse o Bolsa Família, o PT teria reduzido sua representatividade nos municípios brasileiros a um patamar irrelevante.

O editorial do Estadão está no contexto de uma narrativa abraçada pela mídia tradicional para ver o Bolsa Família desfigurado. Desde que assumiu o poder, Michel Temer, com apoio desse setor, adotou critérios para acesso e de atualização de dados que estão esvaziando o programa. Só em novembro passado, após um “pente-fino”, o novo Ministério do Desenvolvimento Social retirou mais de 1 milhão de beneficiários da assistência. Reportagem publicada na semana passada mostra que famílias que melhoraram as condições financeiras foram atingidas e nem sabem o porquê.

A pasta ainda projeta corte similar para o início de 2017. A promessa é de também fazer essa vistoria para “detectar irregularidades” mensalmente. A questão é que a avaliação mensal pode revelar uma melhoria de renda falsa, principalmente em meses mais comerciais, quando os chefes de família fazem bicos para complementar os ganhos. 

Leia mais: Governo, mídia e Judiciário constróem narrativa contra o Bolsa Família

O voto do Bolsa Família

Do Estadão

O PT não gosta de admitir, mas os fatos são evidentes: o Bolsa Família tem nítidos efeitos eleitorais. O resultado das recentes eleições municipais comprovou uma vez mais que o programa social não transfere apenas renda. Ele transfere votos para o PT. Nos municípios do Nordeste em que mais da metade da população está inscrita no programa, a derrota do partido de Lula foi bem menor do que no resto do País, indica levantamento feito pelo jornal ‘O Globo’.
Nas cidades nordestinas com maior concentração de beneficiários do Bolsa Família, o número de prefeituras administradas pelo PT caiu 28% em relação a 2012. No País, a queda média foi de 60%.

A relação entre voto no PT e inscrição no Bolsa Família também pode ser observada no número de prefeituras por região. Na Região Nordeste, que concentra metade dos beneficiários do programa social, o PT viu reduzir em 40% o número de prefeituras sob sua administração, em relação a 2012. Nas outras regiões, o tombo foi bem maior. Na Região Centro-Oeste, a redução foi de 86,8%, seguida da Sudeste (74,6%), Norte (66,6%) e Sul (56,9%).

A conclusão é cristalina: o PT sofreu uma clamorosa derrota nas eleições de 2016, mas, não fosse o Bolsa Família, o resultado seria ainda pior. Como se vê, o Partido dos Trabalhadores tem cada vez menos votos, e os poucos que ainda tem se vinculam mais a benefícios concedidos do que à proposta política do partido.

Mesmo as exceções parecem confirmar o Bolsa Família como muleta eleitoral para o PT. Em sentido contrário à tendência nacional, no Piauí cresceu em 2016 o número de municípios administrados por petistas. Em 2012, eram 21. Agora, são 38 prefeituras chefiadas pelo PT. Lá existe, porém, uma peculiaridade bem significativa eleitoralmente: em 85% das cidades em que o PT venceu no Estado, a maioria da população é beneficiária do programa social.

A muleta eleitoral do Bolsa Família tem provocado também uma mudança de perfil das cidades administradas pelo PT. O partido perdeu espaço nos grandes centros urbanos, nos quais, pelo próprio tamanho do eleitorado, a influência do benefício social sobre o voto é menor. Por exemplo, nas eleições de 2012, o partido havia conquistado no Nordeste a prefeitura de sete cidades com mais de cem mil habitantes. Agora, perdeu em todas as sete. O que restou do poder do partido ficou concentrado em pequenos municípios, com menor poder econômico e, consequentemente, com uma população mais dependente de benefícios estatais.

A relação entre Bolsa Família e voto no PT é perniciosa. Programa social não deve ter finalidade eleitoral. Caso contrário, institucionaliza-se a compra de voto. O fenômeno não apenas deturpa o resultado das urnas, fraudando a democracia naquilo que lhe é mais essencial, mas inverte os próprios objetivos das políticas sociais estatais, que devem existir tão somente como promotoras de desenvolvimento humano e social. No entanto, quando os programas sociais se tornam muletas eleitorais, passa a ser interessante politicamente a manutenção das famílias beneficiadas em situação de miséria e, portanto, dependentes dos benefícios. Os programas sociais perdem seu sentido de promoção de autonomia, assumindo caráter oposto, como meios de manutenção da relação de dependência em relação ao poder público.

Não se trata de mera suposição. Publicada no fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE já indicava que os brasileiros mais pobres estavam cada vez mais dependentes dos programas de transferência de renda. O programa, que deveria ser temporário e servir apenas como forma de auxiliar os beneficiários em sua luta para sair da miséria, consolidava-se como a base da sobrevivência dessas famílias, tornando-as, portanto, clientes permanentes de favores do Estado. Ou, como parecem falar as campanhas eleitorais petistas – com algum sucesso, diga-se de passagem –, em clientes permanentes de favores do PT.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • O eitorial desse jornal de

    O eitorial desse jornal de merda (desculpem o palavrão, mas não tem outro para qualificar essa "coisa"), mostra a mentalidade tacanha, mesquinha, primária e primitiva de boa parte de nossa elite.  Mostra a burrice dos que seguem os manuais de economia ortodoxa e mostra o profundo egoísmo dessa gente.

    Como, em nome de Deus, esperam recuparar a economia cortando a renda? Na verdade não querem. Querem que boa parte da população nunca saiam do gueto de miséria onde vivem. 

    Nem os nazistas eram tão hipócritas como os nossos feitores. Os nazista faziam o que diziam. Nossos carrascos promentem um futuro que nunca virá.

    Mas é mais do que merecido para um pais de midiotas. Espero que 2017 seja um ano terrível para quase todos os brasileiros. Fizeram por merecer.

  • Reacionarismo ao extremo!..

    É muita imbecilidade. Uma política pública da mais alta importância, que ajuda os pobres e favorece os ricos, reduzida a favores do PT por um jornal cego de ódio ideológico, que não se dá o trabalho de verificar quantos milhões de Reais são despejados mensalmente em São Paulo, favorecendo sobre maneira o comércio do estado. 

  • E a relação entre as empresas

    E a relação entre as empresas de mídia que apoiam o governo corrupto, desonesto, golpista e canalha de Michel Temer é de 100%. Recebem bolsa mídia do governo. Bando de desonestos, canalhas e ordinários.

     

    • Em tempo, eu não restei. Sou

      Em tempo, eu não restei. Sou e serei eleitora do PT enquanto esse partido tiver em seu programa partidário a inclusão social e a defesa do patrimonio brasileiro. Tenho uma empresa como esses "capos" da mídia e em tempos de crise causada por essa mídia golpista e seus políticos corruptos resisto com capacidade organizacional para manter minha empresa com a decência e a ética  que esses corruptos da mídia não possuem.

  • Pela lógica desse jornaleco

    Pela lógica desse jornaleco quando acabarem com o bolsa família, os eleitores votaram no pt ou em outros partidos de esquerda por que querem o programa de volta. A lógica sempre será essa, que povo não quer trabalhar e sim viver do assistencialismo do estado.

  • O bolsa família beneficia o

    O bolsa família beneficia o eleitor do PT, Ok.

    E o bolsa mídia? Beneficia os eleitores dos candidatos do pig?

    No primeiro caso o programa bota comida na mesa do "eleitor do PT". E no segundo? O que o bolsa mídia faz pelo o eleitor antipetista? Só se for alimentá-lo com mais ódio. A grana propriamente dita vai toda para as famíglias midiáticas.

    Quem é mais otário nessa história. O eleitor "bolsa família" ou o eleitor "bolsa mídia"? 

  • Se o jornal fosse de boa fé
    Se o jornal fosse de boa fé não "informaria" desta forma.

    O jornal sabe dos maciços investimentos em saneamento, urbanização, transporte de massa, energia, saúde e sobretudo na área de educação com a implantação de várias universidades e pólos avançados na região são muito mais do que suficiente para alavancar ampla margem de votos .

    Também não é por ignorância que desconhece que Lula/PT ssi vencedores em todas a eleições majoritárias na região desde a desde a primeira eleição que participaram.

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