Esquerda sazonal, por Vladimir Safatle

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da Folha

Esquerda sazonal

Vladimir Safatle
coluna publicada em 16/09/2014

 

De quatro em quatro anos, ocorre no Brasil um fenômeno interessante. Ele poderia ser chamado de: “estação das cerejas vermelhas”.

Por volta no mês de agosto dos períodos pré-eleição presidencial, aparecem cerejas muito vermelhas, quase protorevolucionárias, vindas de árvores governistas que pareciam há muito dar apenas os conhecidos frutos amargos da austeridade.

Então, quase que em um passe de mágica, começamos a ouvir na campanha eleitoral discursos com sabores proibidos de luta de classe, diatribes contra o sistema financeiro, promessas de investimento massivo em educação pública.

Mutações incríveis ocorrem, como governos que permitiram os mais fantásticos lucros bancários da história, alimentando o sistema financeiro com títulos da dívida pública e juros exorbitantes, apresentarem os bancos como inimigos do povo.

Tudo muito bonito.

Infelizmente, a estação das cerejas vermelhas termina de forma abrupta no dia 27 de outubro, logo após a consagração do segundo turno das eleições presidenciais. Então as árvores voltam a dar os frutos cinzas que todos conhecem.

Esta é a situação cômica na qual a política brasileira atualmente se encontra. Os mais sagazes sabem que as eleições presidenciais se ganham flexionando o discurso à esquerda. Já esta Folha demonstrou, em uma pesquisa do ano passado, que, em temas econômicos como a função do Estado no crescimento e na viabilização de serviços públicos, leis trabalhistas e garantias sociais, o eleitor brasileiro tende à esquerda.

Neste sentido, ai daqueles que acreditam poderem embalar os sonhos das manifestações de junho vestindo o figurino de uma Margaret Tatcher da Floresta, ou seja, prometendo o futuro com aquelas ombreiras medonhas da década de oitenta. Eles não herdarão o reino do cerrado candango.

No entanto, como todos no fundo sabem que esta é apenas uma estratégia eleitoral, já nos preparamos para quando a estação das cerejas vermelhas passar. Pois chegamos em um momento no qual o discurso de esquerda permaneceu como referência de combate na política, mesmo que sem atores na cena principal.

No momento de desespero, alguém vai à frente e começa a falar como há muito não víamos. De toda forma, há algo de brechtiano em pessoas que vêm à cena para enunciar proposições que todos sabem que, no fundo, elas não acreditam mais.

Dá um efeito interessante e quase onírico de distanciamento.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

View Comments

    • Já aconteceu. No estado do

      Já aconteceu. No estado do Rio, para salvar seu único prefeito, Marcelo Freixo teve que ligar pro Garotinho e fazer uma acordo. No Amapá, as alianças do Psol não incluem apenas Sarney, incluem o DEM. Se nao fizessem isso, nao se elegiam nem governavam. O problema do articulista é que ele é cereja de um bolo podre. E o episódio da "renúncia" dele à candidatura foi patético, digno de esquerda-cereja mesmo (ou caviar, se ele preferir). 

  • Chega ser engraçado a vontade

    Chega ser engraçado a vontade do Safatle em tentar tomar para si o signio do "verdadeira esquerda". É por isso que não levo o PSOL a sério. Pregam arrogância petista para camuflar sua baixa capacidade de jogar o jogo.

    • O anti-petismo nao é de mão única, tem mão dupla

      em curtíssimo prazo,é + sábio preparar e se preparar para o longo prazo.Não é da noite pro dia q se conquistam corações e mentes.Erros sem verdadeira e pública autocrítica,reforçam com + outros erros e + ilusões s/segundos escalões na hierarquia partidária,s/ falar em bases intermediárias de boa fé e em simpatizantes.Ou se acha q,apesar de todas arbitrariedades,Lewandovsky não teria enxergado + do q anjos injustamente acusados e decidiu p/algumas das maiores penas para alguns?Ou foi tudo uma farsa absoluta?Nem 8 nem 80.Tem gente ali que merecia pena ainda maior desta vez por iniciativa da própria direção nacional.O anti-petismo nao é de mão única,tem mão dupla,reforçam-se reciprocamente.

      • tente escrever com um pouco de clareza

        Seu texto é péssimo. Deixa Safatle falar por vc. Pelo menos, ele redige de forma clara.

        Qto à substância do post, só tenho uma coisa a dizer: esta eleição é um plebiscito - quem não ficar com o PT, fica com o Clube Militar, Mainardi, Merval et caterva. O PT não é de esquerda? Ok. E por que a direita prefere QUALQUER COISA ao PT? Sigam em frente, "esquerdistas de verdade". Façam a vontade da extrema direita. Eles estão morrendo de rir da eterna estupidez de vcs.

        • Maravilha de comentário! Falou e disse!

          Essa mania de elogiar o Perfeito, o Ideal, etc nas nuvens indo contra o bom possível dá nos nervos, é muita burrice. 

          Sou de esquerda, e em princípio claro que gostaria de que fosse possível uma verdadeira revoluçao (anarquista de preferência...). Mas, céus, nao tenho mais 18 anos, e já vi os riscos do discurso "revolucionário" colocado no abstrato, sem levar em conta a realidade. Hoje na universidade em que leciono vi um cartaz falando que eleiçoes nao resolvem nada, que era preciso uma revoluçao, etc. Tive vontade de pixar em cima "Maluquice pouca é bobagem mesmo". E já vi esse filme, e nao gostei do final... 

          • Há 2 turnos. "Escravos do inevitável"

            Há 2 turnos. E nesta lembrança (de que há 2 turnos) não estou absolutizando o voto ideológico no primeiro. Se se der muito crédito a essas pesquisas publicadas, não há risco de, nesta circunstância, dar-se ao luxo do voto ideológico que não é pregar revolução pra amanhã, nem depois de amanhã. Mas é a única opção que, com firmeza, põe dedos em feridas que (por "realismos") preferimos deixar de lado publicamente. "Escravos do inevitável" - aspas pq é citação. Não gosto do PSOL, e se houvesse risco de ele ganhar, claroq ue nem tocaria no nome dele. mas, como alguém já disse, em épocas de crise o papel do indivíduo é muito relevante ( são outros quinhentos o capitalismo viver em crises).

          • Voto por ideologia. No governo q melhorou a vida da maioria

            Diminuiu a desigualdade de renda, a mortalidade infantil e a desigualdade regional, aumentou a expectativa de vida, o valor do salário mínimo e o percentual devido ao trabalho na renda nacional, deu luz para todos, acesso a médicos, etc, etc. Teve erros também, alguns até sérios, mas nao existe governo formado só por anjos infalíveis.

            Além disso, nao compactuo com o discurso moralista do PSOL nem com a impostura de Marina. Se  houvesse alguém defendendo posiçoes que eu achasse relevantes, mesmo se um pouco utópicas, eu poderia votar nel@ no primeiro turno, mas nao há. E o risco de retrocesso com qualquer das candidaturas anti-Dilma é grande demais para brincadeiras.  

  • Leiam entrelinhas nessa contribuição.

    Pista anteriormente linkado no blog de um calejado militante de esquerda que vai votar em Genro e no segundo turno Marina.Hoje,e há algum tempo,por não ter compromisso formal,permite-se a variadas hipóteses e afirmações,uma delas alguns erros na historia do PT(q nem a galera torcedora,nem os dirigente nacionais cismam em não reconhecer publicamente,se o fizessem demonstrariam coragem de autocrítica - autocritica entre 4 paredes pra mim vale muito pouco,deve ser abertamente para a população.Diminuiria o anti-petismo.Aumentaria a admiração em reconheceer erros (E CITÁ-LOS). E vamos de surpresas em surpresas,erros e mais erros. Soberba.

    • dias atrás me referi a uma "variante de Thatcher" (sic.)

      dias atrás me referi a "uma variante de Margaret Thatcher" (sic.) num comentário que postei sobre seu principal assessor de economia. É só lembrar (e, se passou direto, é bem  provável, é só ir no meu arquivo de comentários: Entre não poucos vídeos e até crônica e poesia, e muita bobagem prolixa, talvez se encontre alguma coisa que preste). 

  • É muito por aí...
    Do discurso
    É muito por aí...

    Do discurso à pratica ou existe o personalismo messiânico, vazio e inepto, ou o PMDB, o agronegócio...

    Ou melhor., o balcão de negócios.

    Já cansei de dizer aqui onde adoram chutar cachorro morto: o problema não é o PSDB ser conservador como sempre foi, é a covardia do PT.

    Tornaram-se, simplesmente, campeões de votos. Pouco além disso...

  • Tem uma cereja banqueira que

    Tem uma cereja banqueira que se apresenta apenas como uma herdeira desinteressada das finanças e negócios bancários de sua família. E alguém dizendo não ser ela uma rentista e sim uma educadora. E boa gestora de ONG.

  • Então, não é...
    E ele que é

    Então, não é...

    E ele que é uma cereja autêntica abriu da candidatura do Psol no estado de São Paulo porque queria apoio financeiro. É assim que, nesta época de colheita, se perdem as cerejas verdadeiras deste país.

    É uam opinião a ser respeitada. Principalmente depois que ele previu a catástrofe na organização da Copa do Mundo e a população em guerra pelos seus direitos. Tanta conscientização acabou nas proposta revolucionárias da Marina Silva.

    Como analista político e social é melhor que ele continue com sua obra filosófica.

  • Vale mais para o povo um

    Vale mais para o povo um Sarney ao lado do petismo do que um  de esquerda ao lado da direita mais radical

  • O "filósofo" da esquerda de

    O "filósofo" da esquerda de verdade continua a agradar ao pasquim da Rua Barão de Limeira?

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