Trump não condena e Hillary não salva, por Hussein Kalout

Jornal GGN – Em artigo para a Folha de S. Paulo, o especialista em política internacional, Hussein Kalout, fala sobre o cenário eleitoral americano. Para ele, Trump não representa o fim de toda a esperança, assim como Hilary não simboliza nenhuma salvação para o mundo.

Isso porque o Legislativo americano é forte e o candidato republicano tem opositores até mesmo dentro do seu partido. Casa as eleições confirmem maioria democrata na Câmara e no Senado, sua vida será ainda mais difícil.

Por outro lado, Hillary tem um histórico de política externa com intervenções e guerras que não deve trazer nenhum alívio para o mundo.

Da Folha de S. Paulo

Trump é despreparado, mas é bom não esperar demais de Hillary

Por Hussein Kalout

Hillary Clinton e Donald Trump duelarão nos três próximos meses para governar a maior máquina econômica, política e militar do globo.

Trump concorre como franco-atirador, disposto a qualquer verborragia suicida, e Hillary tem sobre os ombros a responsabilidade de não perder para um adversário visto, inclusive por alguns correligionários, como desqualificado, mas imbuído de significativa aceitação popular.

As armadilhas desta eleição se ancoram em percepções infladas das características de cada candidato. As premissas parecem consistir em balizas do tipo: uma vitória de Hillary salvaria a pátria (e o mundo), e sua eventual derrota decretaria uma era apocalíptica sob Trump.

É importante lembrar que “Virtus in medium est” (a virtude está no meio, no equilíbrio). Nos EUA, o Legislativo é poderoso, independente e não serve de apêndice do Poder Executivo. Os freios do Trump serão a Câmara e, sobretudo, o Senado. Do Judiciário então, nem se fala.

Triunfando, Trump estará sujeito a franquear o seu poder na base do partido e a terceirizar a escolha de indicações-chave, como as secretarias de Estado e de Defesa. Cargos vitais na estrutura de poder dos EUA, as escolhas para ambas as posições teriam de passar, como reza a tradição, pelo consentimento e confirmação do Senado.

Ademais, se os democratas conquistarem a maioria na Câmara e, particularmente, no Senado, Trump estará praticamente imobilizado e terá mais problemas internos do que externos para desatar. Persistindo a configuração com o predomínio dos republicanos nas duas casas, ele dependerá, como nenhum outro presidente, de sua base partidária.

Em seu comovente discurso na convenção democrata, que selou a candidatura de Hillary, o presidente Barack Obama exagerou a capacidade da candidata de seu partido de forma quase imperdoável.

Não há dúvidas de que a Hillary tem o discurso enlatado mais bem modulado pelo establishment washingtoniano. Em matéria de política externa, porém, ela esteve em todas as vezes do lado de guerras e intervenções militares inconsequentes, e isso coloca sob escrutínio a sua suposta “exímia” capacidade de julgamento descrita por Obama.

Da perspectiva dos interesses brasileiros, nada indica que a vitória da Hillary será mais interessante. Nunca é tarde para lembrar que ela raramente apreciou, enquanto secretária de Estado, o protagonismo do Brasil na geopolítica global.

Um país do perfil do Brasil -potência regional com parcerias diversificadas, capacidade de articulação nos foros multilaterais, independência decisória, visão legalista da ordem internacional e aspirações de grandeza (ainda que sem uma grande estratégia)- nunca deixou de ser observado com um grau de desconfiança por ela.

Trump é o mais despreparado presidenciável da história do Partido Republicano. É bom, contudo, não elevar expectativas com Hillary. Se dependesse de suas escolhas, a negociação do acordo nuclear iraniano não teria avançado, e os EUA estariam enterrados na Síria.

O intervencionismo americano pode voltar à cena — e, definitivamente, ela não exercerá o “terceiro mandato” de Obama.

Hussein Kalout é cientista político, especialista em política internacional e Oriente Médio e pesquisador da Universidade Harvard. Foi consultor da ONU. Escreve às segundas, a cada duas semanas.

Redação

Redação

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  • "bom, contudo, não elevar

    "bom, contudo, não elevar expectativas com Hillary. Se dependesse de suas escolhas, a negociação do acordo nuclear iraniano não teria avançado":

    Bom tambem eh relembrar a espetacular trairada do governo dos Estados Unidos com Lula nesse acordo.  De fato, o titulo do item deveria ser "Trump nao sai da moita e Hillary nao caga".

  • Muito Laque estraga o cerebelo

    Essas duas branquelas loiras são a mesma pessoa. 

    Talvez a que se diz mais liberal seja a mais conservadora.

    (fica a seu criterio escolher qual é a mais liberal)

  • O fato é que nenhum dos 2 é

    O fato é que nenhum dos 2 é uma boa escolha.

    Para a política interna dos EUA Trump é muito pior do que Hillary, pois reverteria conquistas sociais e políticas, travaria o avanço de uma agenda democrática (não confundir com democrata) e reforçaria a política divisiva e de ódio e estimularia o preconceito racial. Internamente estimularia a ascensão fascista como base de apoio para executar sua política.

    Para a relação dos EUA com o mundo Hillary é bem pior do que Trump, pois representa os interesses do complexo industrial militar, e reforçaria o protagonismo intervencionista, representa a oligarquia financeira e as grandes corporações, ambos setores apostando na globalização selvagem e fora do controle dos estados  nacionais. Externamente estimularia a ascensão fascista em variados países, como base de apoio para executar a política em benefício dos setores dos quais é refem.

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