Nassif:

Não entendo comemorar um Estatuto como este, onde os pontos principais foram deixados de lado.

Como diz Demóstenes Torres, este instrumento tem um valor simbólico e nada mais.  

 

 

Sem cotas, Senado aprova Estatuto da Igualdade Racial

 

Texto não traz políticas nacionais de saúde para negros, nem cotas na educação, nos partidos políticos, ou no serviço público

iG São Paulo | 16/06/2010 19:27

 

Senador Paulo Paim comemora a aprovação em plenário do Estatuto da Igualdade Racial

Um acordo colocou fim a uma discussão de sete anos no Congresso. Na noite desta quarta-feira, o Senado aprovou, em sessão extraordinária e sob aplausos, o Estatuto da Igualdade Racial. A proposta agora seguirá para sanção presidencial para entrar em vigor.

O Estatuto da Igualdade Racial prevê garantias e o estabelecimento de políticas públicas de valorização aos negros brasileiros. Na área educacional, por exemplo, incorpora no currículo de formação de professores temas que incluam valores de respeito à pluralidade etnorracial e cultural da sociedade.

No entanto, para ser aprovado, antes, foi necessário fechar um acordo feito pelo relator, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o Ministério da Igualdade Racial e o autor da proposta, senador Paulo Paim (PT-RS), sobre a questão das cotas. Pela negociação, fechada na última sexta-feira, a questão das cotas para negros na educação, nos partidos políticos e no serviço público deveria ser retirada da proposta.

Assim foi feito. Sem as cotas, o projeto foi aprovado na manhã desta quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) em votação unânime. Depois, pelo Plenário.

 

ELES AINDA SÃO MINORIA

 

“O possível”

Divergentes em vários pontos, Paim e Demóstenes concordam que o substitutivo não é o que cada um deles esperava mas, sim, o texto possível. “Não é aquilo que eu gostaria, mas é o que é possível”, disse Paim. Demóstenes justificou que a Constituição garante “o princípio do mérito” como critério ao acesso à universidade e a cursos de pós-graduação no ensino público. “O estatuto não cria nenhuma discriminação. Nunca tivemos isso, por que teríamos agora?”, questionou o senador.

Também foi retirado do texto artigo que estabelecia políticas nacionais de saúde específicas para os negros. O relator trocou ainda a menção de “raça” pela de etnia, “para combater a falsa ideia de que existe outra raça, além da raça humana”.

“O estatuto tem um valor simbólico que ilumina o caminho dos que lutam pela igualdade de direitos e por ações afirmativas”, acrescentou Demóstenes, dizendo que o estatuto dará “conforto legal” para que se avance na busca da regulamentação das cotas raciais.

Na terça-feira, 24 entidades do movimento negro divulgaram uma carta aberta ao Senado pedindo a retirada o projeto de pauta. “A compreensão de grande parte do Movimento Negro brasileiro é de que a atual versão, proposta pelo [relator] senador Demóstenes Torres [DEM-GO], vai contra tudo o que estava como premissa básica do cerne original da proposta”.

Além do Senado, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar este ano duas ações de interesse do movimento negro. A primeira questiona o regime de cotas da Universidade de Brasília (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF nº 186) e a segunda questiona o decreto presidencial que estabeleceu a titulação de terras para quilombolas (Ação Direta de Inconstitucionalidade – Adin nº 3.239). As duas ações no Supremo foram movidas pelo Democratas, o mesmo partido que tem a Presidência da CCJ no Senado.

Também aguarda votação no Senado projeto de lei que unifica o regime de cotas para ingresso nas universidades públicas e nas instituições federais de ensino técnico, já aprovado na Câmara dos Deputados desde abril do ano passado. Cerca de 90 instituições de ensino superior já têm algum regime de cotas raciais e sociais.  

(*com informações das agências Estado e Brasil)

Redação

Redação

Recent Posts

Moro ameaça arrastar decisões do Supremo para a batalha contra a Corregedoria

Moro alega que ministros de instâncias superiores adotaram "idênticos procedimentos" quanto ao dinheiro das multas…

37 minutos ago

Sofisma da Composição Macroeconômica, por Fernando Nogueira da Costa

O primeiro equívoco de empresários leigos em teoria econômica é considerar a Nação, ou o…

1 hora ago

Sobe para 83 número de mortos em enchentes no Rio Grande do Sul

Em meio ao cenário drástico, a previsão é de mais chuva nesta semana. Governo federal…

2 horas ago

1º de Maio de 2024, um sinal de alerta, por Francisco Celso Calmon

O 1º de maio foi um sinal da desmobilização dos trabalhadores e do Presidente da…

2 horas ago

Florestan Fernandes: reflexões sobre as ditaduras, por Débora Mazza

Notas sobre o livro “Memórias do Cárcere” de Graciliano Ramos e o filme homônimo de…

3 horas ago

Madonna: duas horas de uma história bem contada, por Afonso Lima

Além de fazer o exorcismo da bandeira nacional do lado da rebelião. A colocação do…

4 horas ago