Salvacionismo israelense em ação política, por Andre Araujo

Fogo Igo Estrela – Metrópoles

Salvacionismo israelense em ação política

por Andre Araujo

Israel não é um País conhecido por missões humanitárias. Surpreendente o envio de uma delegação das Forças Armadas de Israel para apoio ao resgate de vítimas no desastre de Brumadinho. Ações humanitárias muitas vezes encobrem operações políticas.

Ao fim da Grande Guerra de 1914, a Russia passava por um período terrível de fome porque os campos de agricultura tinham sido dizimados no conflito.

Os Estados Unidos enviaram, então, auxílio humanitário representado pela chamada Missão Hoover, chefiada pelo engenheiro Herbert Hoover, que depois seria Presidente dos EUA. O governo sovietico a principio aceitou a Missão, depois verificou que havia um forte objetivo político nessa ação e acabou rejeitando a delegação Hoover.

A operação política se daria pelo controle, dentro da Russia, do sistema de distribuição de alimentos, o que implicava no mapeamento de estradas.

Ações humanitárias facilmente se prestam a objetivos geopolíticos. A rapidez da vinda da delegação israelense demonstra um prévio preparo, mesmo antes do desastre. Havia como antecedente um desejo manifesto da ultra direita brasileira de estreitamento de laços com Israel, cuja segunda etapa será a compra em larga escala de armamentos, equipamento policial e serviços de inteligência de Israel. A delegação humanitaria será excelente cobertura e propaganda.

Na ultra direitista Rádio Jovem Pan, a brigada radical dizia ontem de manhã até a noite, que ” a engenharia brasileira estava com ciúmes dos israelenses” e que a engenharia brasileira estava agora desqualificada perante o mundo, pelo desastre de Brumadinho. É espantoso o nivel de indigência intelectual dessa gente. Para ser generoso, pode ser tambem má fé ou uma combinação das duas coisas. Mas acho que é mesmo ignorância.

1. A delegação humanitária israelense não é de engenharia, é de resgate. Em termos de engenharia de barragens o Brasil é campeão mundial, tem o maior número de grandes barragens entre as 200 maiores do mundo, por muito anos teve Itaipu como a mior do mundo. NENHUMA barragem DE CONCRETO brasileira se rompeu, muitas tem 50 ou 60 anos. O problema da barragem da Vale não é de engenharia, é FINANCEIRO, para não gastar em concreto usaram o método de ALTEAMENTO, que é muito mais barato e muito mais arriscado. Israel não tem experiência em barragem, a não ser que se considere a piscina do hotel King David em Jerusalem uma barragem. Portanto, o comentario da Jovem Pan é ridiculo, alem da ignorância falam mal do próprio País.

2. As companhias mundiais em SETORES ESTRATÉGICOS, como petróleo, mineração, equipamento bélico e aeroespacial são, no geral, comandadas por PROFISSIONAIS DO SETOR. É um mega erro colocar FINANCISTAS que não são do ramo em companhias estratégicas. Mas o mercado ADORA porque a única preocupação dos FINANCISTAS é o acionista e não a empresa e muito menos o País. A VALE é comandda por um desses FINANCISTAS que o mercado adora, por ironia de ascendência judaica e oriundo do grupo Suzano Feffer, cujo fundador Leon Feffer foi o primeiro Consul Geral de Israel em São Paulo. Pode haver ai uma coincidência da delegação humanitária israelense se posicionar tão rapidamente para auxiliar no salvamento do desastre.

3. Nos países ricos a indicação de CEOS de COMPANHIAS ESTRATÉGICAS geralmente se dá para profissionais com décadas no setor porque HÁ CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS que um financista puro não tem. Mais ainda, mesmo em companhia 100% privadas (e a VALE NÃO É) nos EUA e Reino Unido, o Conselho de Administração CONSULTA o Governo para indicação do CEO, caso de uma EXXON e uma SHELL, porque essas companhias de certa forma requerem a proteção do Estado e a ele representam no exterior e suas atividades repercutem na macro-economia do Pais sede.

Então uma VALE não pode ser gerida como 100% privada porque são COMPANHIAS DE INTERESSE NACIONAL que exigem sempre uma supervisão do Estado.

3. Erro semelhante está sendo praticado na PETROBRAS, quando se coloca um financista puro como CEO, desses que só conhecem petróleo no posto de gasolina. Petróleo é especialmente um setor que requer conhecimento profissional profundo, como um Rex Tillerson, engenheiro com 35 anos de companhia antes de ser CEO da Exxon.

A delegação israelense, com todo respeito ao esforço e boa vontade pessoal de seus integrantes, é evidentemente parte de uma operação política.

Como sempre a mídia brasileira é incapaz de qualquer vislumbre além do aeroporto, não enxerga um palmo além do trivial e joga contra o País.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

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  • ENGENHARIA E ISRAEL

    André, boa noite

    O Nassif, li hoje cedo,  evidenciou a lastimável opção pela equipe de Israel, em detrimento da Engenharia do Exército Brasileiro que, todos sabemos, é espetacular. 

    O que esses patifes da mídia golpista dizem explica-se: pela ignorância pura e simples ou pela mentira pura e simples. O Estado israelense e suas Foraças Armadas são excelentes para matar mulheres, crianças, jovens armados estilingues. Nisso eles são campeões.

    Nós, os mais velhos, ficamos enojados com tamanha subserviência. Para tudo tem limite mas para o governo do esfaqueado não.

    Talvez o  Brasil pudesse desde já apresentar um pedido ao governo norte-americano (que sustenta Israel) para ser um estado associado. Não seria bom? Aí, nossa classe media patriótica poderia comprar eletônicos baratinho em MIami e, quando decorassem o Hino Ianque, poderiam até virar cidadãos estadunidenses . Quem sabe.

     

    Um abraço André, sempre aprendo com seus textos. 

  • Prezado André
    1 - Lembra

    Prezado André

    1 - Lembra antigamente quando os comerciais em Rádio e TV eram chamados de "reclames"? A ajuda israelense é um reclame, e o público (ou agrupamento) que respira bolsonaro vai achar o máximo. Para mim, que sou engenheiro, é uma humilhação

    2 - Eu tenho é vergonha de nossamídia, atrasada, obsoleta, mentirosa e limitada. O que emperra o desenvolvimento do país é a mídia, principalmente, porque não informa e cria consensos de acordo com seus interesses

    3 - Temos excelência em construção com conceto armado. Não são bocós que falam asneiras no rádio que vão mudar o conceito de nossa engenharia (que tem expertise em prospecção emáguas profundas, construção de pontes e viadutos (ainda não desabou nenhum aqui, como em Gênova- fruto do descaso com manutenção preventiva e corretiva); mas as Concessionárias vão quebrar estes recorde, ao quererem maximizar seus lucros (fui a Rio Preto, em SP, passando por 18 praças de pedágios Ida/Volta. O custo foi de R$ 0,21/km, ou US$ 0,06/km. Não tenho parâmetros para avaliar o quanto se paga nos EUA; mas aqui é bem caro).

    4 - Concluindo, sempre ´muito bom ler seus posts. Aprendemos sempre

  • Opinião

    Eu compreendo todos os argumentos... e os acho legítimos... mas diante desse momento, não interessa se houve ou não altruísmo... qualquer ajuda é bem vinda... tenho certeza que quer foi de qualquer forma auxiliado deve ser muito grato... acho que fica complicado ficar esmiuçando todas as conspirações possíveis... esse acidente é tãoooooo maior que qualquer ajuda prevalece sobre qualquer outra coisa. Enfim... minha opinião... 

  • Boa análise do André. Mas não

    Boa análise do André. Mas não concordo com a afirmação de que a grande mídia é incapaz; muito pelo contrário, ela é capaz de trair o país e enganar seus leitores, afinal, representa interesses das grandes corporações.

  • Renovação para que as coisas não mudem

    "Como sempre a mídia brasileira é incapaz de qualquer vislumbre além do aeroporto, não enxerga um palmo além do trivial e joga contra o País."

    Desculpe, caro André, mas não acredito que seja ignorância. Os diretores tanto da Jovem Pan quanto de outras firmas do mesmo ramo não são iniciantes nem meramente financistas. São especialistas em comunicação, macacos velhos tarimbados, escolados.

    Sempre dão um jeito de, em seus discursos e muitas vezes nas entrelinhas, como comentários en passant, ou dengrirem nosso país ou pelo menos de fazer loas a país estrangeiro, de forma a tentar manter, em cucas mongas e toscas, a idéia, a sensação de uma suposta superioridade estrangeira. bem comum fazerem isso em discurso aparentemente contrário a isso. Mas não acredite em mim, verifique por si mesmo, reflexão sagaz e inteligente, examine seus discursos e principalmente o que você sente ao lê-los, ouví-los, assistí-los.

    Só que, como disse no seu outro tópico, bobo é quem pensa que os outros são bobos. Ou seja, só idosas em seus xales, idosos e suas bengalas e antiquadíssimos e truculentos conservadores, bolsonarianos jovens cronologicamente mas com cheiro de naftalina estragada, não percebem. E isso porque não querem perceber, de tão óbvio que é. Afastam esquizofrenicamente qualquer possibilidade de que suas crenças não se verifiquem na realidade. Bem... talvez haja pessoas de boa fé não tão sagazes assim... mas é questão de se lhe abrirem os olhos, creio, deixar pulgas atrás de suas orelhas.

    Já os produtores dessas "novidades de museu" sabem muito bem o que estão fazendo. E de uma forma ou de outra, estão sendo bem remunerados para fazê-lo.

    É cara-de-pau, mesmo.

     

     

  • Ironia

    Que nunca se diga que a gerência, prevalência, ou presença estratégica de um financista judeu em qualquer empreendimento seja coincidência ou ironia.

    • #

      O problema não é o judeu. O problema são os sionistas israelenses. Tem muito judeu, principalmente os ortodoxos, lá e pelo mundo também, que não concordam com a política expansionista dos sucessivos governos sionistas de Israel. Não aprovam a tomada de mais territórios palestinos e são a favor de que a Palestina tenha um Estado reconhecido.

       

  • Arrombaram o galinheiro

    O Brasil de hoje é um galinheiro de porta arrombada. Por alí já passam todos os tipos de carniceiros ávidos por um belo pedaço da carcaça. Agora imaginem a hora que estes militares estrangeiros perceberem que por aqui suas viúvas, filhas, netas... poderão receber gordas mesadas sem um mínimo de preocupação? Acho que as fardas por aqui também vão mudar de cor.

  • Vamos por partes

    Estamos diante de dois estados  com governos de direita. Não existe aqui um salvacionismo Israelense, nos molde Americanos,  mas sim  a exploração política de uma oportunidade.  Netanyahu viu uma oportunidade de comprometer mais ainda nosso "governo" na proposta da embaixada em Jerusalém.   Deve ter ligado para Bolsonaro e em solidariedade sugeriu o envio  de auxílio, obviamente pensando em mais um ponto na costura do acordo. Provavelmente  Netanyahu pensou  que mais uma embaixada em Jerusalem, vai garantir mais votos  na comunidade ortodoxa e na direita . O jogo político em Israel é tão pesado quanto aqui.

    Nosso "governante" ao invés de pensar no embroglio, e nas consequências , inclusive no interior de seu grupo de governo, simplesmente pensou em fixar mais um grampo, isto é um ponto de apoio para impor sua proposta. Ao invés de fazer uma reflexão  e dizer, no momento não precisamos, ele disse : pode mandar talkey.!!! Netanyahu, vendo a oportunidade enviou  seus soldados, sem sequer se inteirar sobre o desastre.  Pegou a mesma equipe que vai a diversos terremotos pelo mundo e enviou para Brumadinho.

    O nosso "governante"  e assessores logo espalharam a  notícia enfatizando como sempre a tecnologia israelense.  O que é de fato um clichê, do  mesmo naipe da tal  tecnologia de dessalinização. No episódio aprendemos que  esta tecnologia já era bem conhecida e mesmo superada pelos desenvolvimentos nativos. 

    Pouco tempo depois de tanto alarde, de  forma bastante educada,  nossos bombeiros aceitaram e agradeceram  a ajuda , afinal uma mão a mais, neste imenso  e difícil trabalhao é sempre bem vinda, mas colocando os pingos nos is , disseram de forma bem clara, que a tecnologia alardeada não seria eficaz.

    De fato os soldados Israelenses,  vão ser um bom auxĩlio, como  socorristas de vários outros países, seriam também  vindos, se necessário for. Mas enquanto os  soldados israelenses trabalham  arduamente,  eles   são apenas  peões no jogo político.  Netanyahu, precisa de reforços eleitorais em Israel, e Bolsonaro quer  esconder  o mais rapidamente o mar de lama que se aproxima.

    Para quem  não sabe, Israel é um país com muita diversidade e conflitos políticos. Como no Brasil não existe unanimidade sobre nada,  e como no Brasil a segurança é  argumento   como aqui,     Netanyahu usa este argumento como justificativa para tudo,  e principalmente  para permanecer no poder.

    Enxergar todos estes  soldados, ou todos os israelenses e judeus , como pequenos Netanyahus  é temerário, pois   logo logo correremos o risco de que no mundo todos pensem que todos os brasileiros são pequenos Bolsonaros.

     

  • Missões humanitárias israelenses

    André,

    A tua primeira afirmação não é verdadeira. Israel tem sim tradição de missões humanitárias de resgate: ajudaram na Indonésia (2004 - tsunami),  no Katrina (2005), no Haiti (2010), no Japão (2011), dentre muitas outras ações.

     

  • Israel.......

    é um estado completamente dependente do apoio americano, economicamente, direta e indiretamente, e militarmente,idem.....Israel é considerado um pais desenvolvido, mas no limite, quase um da turma dos subdesenvolvidos, e sem grandes possibilidades de desenvolvimento, em termos de recursos naturais e de extensão e posição geografica....ter influencia e presença num pais continental, com população relativamente pequena em relação a sua extensão territorial, faz todo sentido em termos geopoliticos, ainda mais em tempos de declinio do "imperio" americano e de ascensão de novos atores de peso no cenario internacional....Não creio que a China ou a India vão "dar mole" ao estado de Israel...Sendo assim, o Brasil, onde o antissemitismo é (quase) inexistente, é a possibilidade ideal de "make money", de alargar as fronteiras e de ter peso no cenario internacional......Dado o apoio incondicional do estado de Israel à Bolso, eu pergunto aos Brasileiros progressistas de confissão judaica, se todo esse apoio, interno, da comunidade, e externo, do estado de Israel, a este governo de malucos....E se der ruim(esse gov)?E se esse governo daqui a 6 meses um ano, estiver desmoralizado, sera que alguem vai lembrar quem a comunidade judaica o apoiou em peso? Eu acho que o risco de se desenvolver e exacerbar, um forte sentimento de antissionismo e de antissemitismo bastante elevado......Melhor não cutucar שדים ישנים (velhos demônios) com vara curta......

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