A ameaça à engenharia nacional, por Ceci Juruá

Enviado por Webster Franklin

Carta Aberta em defesa da Engenharia nacional

Por Ceci Juruá

Da Carta Maior

Jornais falam da possibilidade de que seja facilitada, em futuro próximo, a abertura a grupos estrangeiros do mercado de engenharia e construção civil.

Diferentes jornais da imprensa brasileira vem informando sobre a  possibilidade de que seja facilitada, em futuro próximo, a abertura a grupos estrangeiros do mercado de engenharia e construção civil no Brasil.  Dificilmente poderíamos evitar mais esta decisão “perversa” e contrária aos interesses da Nação, caso prevaleça  a decisão de considerar inidôneas as empreiteiras citadas na operação Lava Jato.  A declaração de inidoneidade é medida que pode partir tanto do Executivo como de entidades anexas ao Poder Legislativo, caso do TCU-Tribunal de Contas da União.

Perversa e contrária aos interesses da Nação, ratifico, pois evidenciaria o  desconhecimento de alguns problemas que afligem, historicamente, a economia brasileira.  Além disso, atingiria unidades produtivas que representaram, em 2013, 2/3 da receita líquida das 28 maiores empresas  de engenharia e construção no País.   Atingiria igualmente o terceiro maior grupo econômico industrial e o terceiro maior grupo econômico prestador de serviços (respectivamente, Odebrecht e Camargo Corrêa), responsáveis por mais de 230 mil empregos em suas áreas de atuação, no ano de 2013.
Nos dois casos acima citados, não se trata simplesmente de empresas brasileiras de engenharia e construção, facilmente substituíveis por outras empresas nacionais, como pretendem os defensores da desnacionalização  e aqueles que julgam a industrialização um mal menor frente as vantagens da abertura irrestrita da economia brasileira ao grande capital internacional.   Ambas constituíram, graças ao esforço de seu corpo técnico, conglomerados que atuam em diferentes setores produtivos no Brasil e no exterior.   Situam-se entre os maiores conglomerados multinacionais que conseguimos formar até hoje, disputando  com outros grandes conglomerados mundiais, oportunidades de geração de emprego e renda no palco internacional. 

Suas operações, inicialmente focadas na construção de obras de infra-estrutura, ampliaram-se paulatinamente desde os anos 1970.  Estão hoje presentes em atividades estratégicas para a economia nacional.  Cito, a título de exemplo:  agro-indústria, serviços de telefonia e comunicações, geração e distribuição de energia, petróleo/indústria química e petroquímica, e construção naval.  Perdê-las significaria amputar a economia brasileira de seus mais competentes “soldados”,  conforme expressão utilizada por Alain Touraine para designar as grandes empresas em tempos de neoliberalismo.

Abrir mão desses “soldados da Nação” implicaria, evidentemente, satisfazer a cobiça das altas finanças e das nações imperiais, voltadas para o monopólio das principais fontes de lucro e de poder em escala planetária.

Mas implicaria também acelerar qualitativamente a desnacionalização agressiva de que somos objeto desde os anos 1990.   Agressiva sim na medida em que constrói os  fundamentos da desarticulação do sistema econômico e implode progressivamente nossa soberania, tornando-se assim um elemento impeditivo e contrário ao desenvolvimento nacional, conforme nos explicou o eterno mestre Celso Furtado (in Raízes do Subdesenvolvimento, Editora Civilização Brasileira/2003).

Enfim, e para não me alongar em demasia, julgo prudente explicar que um tal posicionamento não decorre de uma ideologia xenófoba, mas de um real pragmatismo.   A desnacionalização de nossos ativos produtivos é o principal fator responsável pela crise atual do Balanço de Pagamento, vitimado por um déficit crescente nos últimos anos.  Apenas em 2014, a remessa de lucros e dividendos das multinacionais estrangeiras superaram R$ 80 bilhões, se somarmos o pagamento de juros ao capital estrangeiro esse montante supera largamente os R$ 100 bilhões anuais.

Não seria portanto exagero supor que nesse século que mal se inicia, já encaminhamos para o estrangeiro pagamentos e rendas que podem totalizar hum trilhão de dólares, equivalente a 50% de nosso PIB anual.   E ainda acumulamos um passivo externo que se aproxima rapidamente de mais hum trilhão de dólares e é o retrato mais gritante, e escandaloso, de uma dependência financeira incompatível com nosso grau de desenvolvimento, mas também castradora de qualquer projeto de desenvolvimento soberano.

Tendo em vista as considerações acima, encaminho à Diretoria e aos Conselheiros da CNTU, entre os quais me incluo até a presente data,  a seguinte proposta de posicionamento público por parte da CNTU e de todos os sindicatos que dela participam:

– Sem prejuízo de punição dos responsáveis por atos de corrupção e fraudes, desde que respeitados o direito ao contraditório e à ampla defesa nos tribunais do Brasil, manifestar-se claramente CONTRA A DECLARAÇÃO DE INIDONEIDADE DAS UNIDADES PRODUTIVAS NO INTERIOR DAS QUAIS ESTES ATOS OCORRERAM, considerando não apenas os serviços já prestados ao nosso desenvolvimento,  mas também sua característica atual, de VETORES ESTRATÉGICOS NA LUTA CONTRA OS MALES CLÁSSICOS E HISTÓRICOS GERADOS PELA DEPENDÊNCIA DO BRASIL AOS PÓLOS IMPERIAIS. 
 
– CONTRA A ABERTURA A GRUPOS ESTRANGEIROS DO MERCADO DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL, em defesa do nosso maior patrimônio técnico e tecnológico construído desde os tempos coloniais.

Ceci Juruá,  Economista e Conselheira da CNTU, RJ/ janeiro de 2015

Redação

Redação

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  • Vergonha...

    Com mais de 30 anos de engenharia (dentre eles poucas semanas de paletó e gravata), me dá vergonha que este libelo mal escrito de centro acadêmico vocalize uma entidade de classe.

    Até corporativismo tem limites.

    • Não é corporativismo, é nacionalismo!

      Não se enganem, enquanto na medicina a entrada dos médicos Cubanos levantou as associações médicas contra a entrada, na engenharia nos últimos anos entraram um número muito maior do que médicos cubanos no Brasil, entretanto os engenheiros não reclamaram pois todos viram que faltava mão de obra qualificada em diversos setores, logo não venham chamar os ENGENHEIROS DE CORPORATIVISTAS pois esta afirmação não se confirma, é uma IMENSA BESTEIRA de quem está totalmente por fora do assunto.

      • Caro MaestriConcordo

        Caro Maestri

        Concordo plenamente com seu comentário. Desde 2009 que recebi inúmeras propostas de trabalho de empresas privadas que por motivos de saúde as recusei, porém, repassei para amigos aposentados que desejavam trabalhar.

        A falta de mão de obra qualificada, principalmente para execução de grandes obras é uma realidade e chamar engenheiros de corporativistas é uma piada de mau gosto! A engenharia brasileira executa obras não só no Brasil  como em diversos países a exemplo do metrô de Caracas e outras. Segue uma matéria da Folha de São Paulo  

        Onipresente, Odebrecht se transforma na maior construtora do Panamá

        18/01/2015 - Folha de S. Paulo

        Embora menor que Santa Catarina e com população mais reduzida que a da Grande Belo Horizonte, o Panamá já é a terceira maior operação da Odebrecht na América Latina fora do Brasil. A empreiteira brasileira virou também a maior construtora do país.

        A Odebrecht, que não participou da competição para a ampliação do Canal do Panamá, acabou vencendo quase todas as outras grandes licitações encomendadas pelo governo panamenho.

        A empresa contratou o arquiteto britânico Norman Foster para fazer o novo terminal do Aeroporto Internacional da Cidade do Panamá; construiu o metrô da capital, o primeiro da América Central; fez a nova via costeira, de 7 km, que serpenteia novos aterros onde ficam os arranha-céus da cidade e que se transforma em via elevada 2,5 km sobre o mar.

        A Odebrecht ainda foi responsável pela recuperação do centro histórico da capital, enterrando a fiação e retirando os postes entre os casarões erguidos entre os séculos 17 e 19 e fez o novo calçamento. Ainda ganhou a reurbanização de decrépitos conjuntos habitacionais dos anos 1960.

        "Mesmo fora do canal, a Odebrecht conseguiu vencer diversas licitações", diz Arturo Graell, diretor de Relações Institucionais da empresa no país. "Estava aqui quando abrimos o escritório em 2006, éramos quatro funcionários", diz. "Hoje, somos 5.000."

        METRO RECORDE

        O metrô foi lançado em tempo recorde: em menos de três anos, foi construída e inaugurada em 2014 uma linha 13 km, 6 km subterrâneos e 7 km elevados (pouco maior que a Linha Amarela do Metrô de São Paulo, cuja construção começou em 2004).
        Duas novas licitações estão na mira da empreiteira: a segunda linha do metrô e a remodelação do centro de Colón, a segunda cidade do país, no Caribe panamenho, onde funciona uma zona franca, mas que é bastante mais pobre que a capital.

        Nas obras da via costeira e na recuperação dos conjuntos habitacionais, a Odebrecht construiu um novo estádio de futebol, chamado Maracanã – a empresa levou os ex-jogadores Bebeto, Rivaldo, Dunga, Careca e Viola para jogar ali na abertura, em abril do passado.
        Ainda foi uma das patrocinadoras do novo museu desenhado por Frank Gehry.

        Além dessa ofensiva de charme futebolística, a empresa patrocina a limpeza de um manguezal na capital.
        A Odebrecht não é a única brasileira com bons negócios no Panamá. A Embraer vendeu 26 aviões à companhia local Copa.
        Além dos brasileiros, outros vizinhos estão investindo pesadamente no país.

        A estimativa do governo panamenho é que 80 mil venezuelanos tenham comprado imóveis ali recentemente, boa parte tendo se mudado nos últimos cinco anos, com as crises periódicas dos governos Chávez e Maduro.

  • Nos roubam duas vezes: UMA

    Nos roubam duas vezes: UMA quando oneram os preços das obras quando "ganham" as concorrencias junto aos orgãos do estado. OUTRA quando lutam para proibir a entrada de empresas estrangeiras.

    Não à delação premiada. É CADEIRA mesmo.

  • Perfeito! Temos que defender
    Perfeito! Temos que defender as empresas nacionais. Os que lá cometeram erros tem que responder pelos seus erros. Agora tornar inidonea as empresas e abrir a porteira para as empresas internacionais é um crime de lesa pátria. Empresas internacionais essas que também cometeram os mesmo erros e que não são livres de atos de corrupção; nenhuma empresa esta livre desse mal.

  • Pelos comentários...percebo

    Pelos comentários...percebo claramente que O Povo serve para ser conduzido MESMO!

    Não conseguem articular nada além das obviedades...

  • Como bem citado..

    As empresas são multinacionais, ou seja, atuam também fora das quatro linhas brasileiras. Gostaria que justificasse por que é via de mão única. Em tempo, justificativas que não poderiam ser utilizadas igualmente pelo outro lado.

  • O Estado TEM de proteger as empresas nacionais

    O moralismo, deformação da moral, é expressão acabada da estupidez de linchadores potenciais, ou praticantes, não importa quanto tempo tenham de formados (isto quando detêm algum tipo de preparo acadêmico).

    Que os que roubaram têm de ser punidos, todos concordam. Contudo, os que são capazes de pensar, não concordam com que sejam punidos os que NÃO roubaram, os que, em verdade, FORAM ROUBADOS.

    Os empregados da Petrobras, os empregados dos grandes prestadores de serviços à Petrobras, as empresas satélites dos grandes prestadores de serviços, os empregados destas, os consumidores, o governo e a sociedade em geral não podem ser punidos em nome de um moralismo estúpido.

    As empresas brasileiras têm de ser protegidas pelo Estado brasileiro, especialmente as muito grandes e detentoras de capacitação tecnológica de interesse nacional, caso dessas grandes empreiteiras. Só mesmo sendo um estúpido monumental para não perceber tal obviedade.

  • Desemprego

    Conversa fiada, isso sim! As empresas estrangeiras que por acaso vierem para o Brasil irão trazer  cerca de 230.000 trabalhadores? Qual seria o custo disso?

    Caberá somente que nas licitações o governo faça constar a obrigatoriedade de contratação de trabalhadores brasileiros como um dos ítens fundamentais.

    É deplorável que se use esses argumentos para proteger as falcatruas das empresas investigadas.

    Que sofram os rigores da lei, chega de roubalheira!

  • eua e seus aliados invadem

    eua e seus aliados invadem países,  guerreiam,

    destróem tudo, para (in)justmanente reconstruirem

    e faturararem adoidado. é e sempre foi assim.

    desta vez aqui, parece que não precisaram invadir.

    o conluio grande mídia e seus interesses está fazendo

    a guerra que interessa aos agentes internacionais.

  • Entendimento de texto...

    Voce entendeu o que escrevi? Quem chamou engenheiros de corporativistas? Esta entidade o fez. E é evidente que ela não representa a engenharia brasileira.

  • Ao ler o texto dessa senhora,

    Ao ler o texto dessa senhora, experimentei várias sensações que me fazem pensar na minha condição de cidadão deste país e ainda esperançoso da sua viabilidade enquanto lugar condizente com a dignidade de seu povo, questiono:

    Somos reféns dessa corja que espoliou o bem público fazendo do estado um balcão de negócios a serviço dos seus interesses?

    Não seriam os "problemas que afligem, historicamente, a economia brasileira" em grande parte consequência do estado clientelista que não consegue se ver livre desse bando de proxenetas?

    A única alternativa é desnacionalizar?

    A "competência técnica" de nossos engenheiros se perderá com a declaração de inidoneidade dessas corporações? Será que essa competência existe mesmo? Queiram ou não, quem conhece a construção pesada em outros países sabe do que falo.

    Estão querendo passar atestado de burrice à nossa população?

    Estamos mesmo na maior m...

     

     

     

    • Burrice

      Há competência técnica no Brasil. A extração pioneira de petróleo em águas profundas (700.000 barris/dia, nível de produção alcançado em brevíssimo tempo) é sinal de que não somos incompetentes. A Embrapa e a Embraer, com seus resultados, ajudam a mostrar que somos competentes.

      Já foram demitidas mais de 12.000 pessoas de empresas envolvidas com a Lava Jato (veja aqui), e nenhuma empresa foi declarada inidônea. Dá para imaginar o que acontecerá quando o forem. Pergunto então a você: tem cabimento essas 12.000 pessoas perderem o emprego sem terem feito nada de mal? Essas pessoas merecem ser punidas? As famílias delas merecem ser punidas?

      Há alternativa à desnacionalização: é punir os ladrões e preservar as empresas, mesmo que, para isso, tenham de ser expropriadas de seus donos/controladores e demitidos diretores, gerentes etc. que tenham cometido crimes.

      Pelo jeito, você não trabalhou com tecnologia. A competência tecnológica não passa apenas pelo conhecimento técnico de cada um, mas da equipe técnica como um todo. A competência está no "sistema" técnico, coisa difícil de ser montada, mas fácil de ser destruída. As empresas declaradas inidôneas fecharão provavelmente as portas e suas equipes técnicas serão desfeitas, indo cada um para um lado diferente. Em consequência, o sistema técnico desaparecerá e, para recuperá-lo serão necessários anos e dinheiro. Para uma analogia simplória, mas ainda assim útil, pense na dissolução do Real Madri. Levará anos e custará muito dinheiro para se fazer um time como o atual. Você pode ter uma ideia de custo e tempo para se remontar um time de primeira como o Real Madrid, se considerar o tempo e o dinheiro que o Paris St. Germain está gastando para fazer um time de primeira (nossas empreiteiras são empresas de primeira linha, têm ganho concorrências internacionais).

      Ninguém está passando atestado de burrice a quem quer que seja (cuidado para não passar atestado de burrice para você mesmo). De forma alguma, nosso país está uma merda, muito embora queiram fazer crer que está. O país está, isto sim, acabando com a corrupção subterrânea que o corroía há anos, coisa que continua a acontecer sem qualquer freio no estado de São Paulo.

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