Aragão conta sobre discussão e rompimento com Janot

Jornal GGN – Em entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, o ex-ministro da Justiça e subprocurador-geral Eugênio Aragão conta sobre a discussão e o rompimento com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Aragão fala que, após sair do ministério, Janot chegou a oferecer cargos para o colega. No diálogo, o PGR disse “Arengão, bota a língua no palato”, ao que Aragão respondeu: “nós somos pessoas muito diferentes, e eu não dou a mínima para cargos”.

O ex-ministro também relata uma conversa no gabinete do procurador-geral, onde, após levar um chá de cadeira, Janot teria se irritado com indagações sobre vazamentos da procuradoria e também dito que Lula “é bandido”.

Leia a reportagem abaixo:

Do Estadão

Subprocurador e ex-ministro de Dilma relata discussão e rompimento com Janot

Luiz Maklouf Carvalho

“Arengão, bota a língua no palato”, dizia o e-mail do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para o subprocurador-geral e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão. Ou “Arengão”, apelido com que Janot o carimbou, só entre eles, nos bons tempos em que a amizade prevaleceu. Por maio de 2016, quando o e-mail chegou, já iam às turras.

Recém-saído do Ministério da Justiça, nem completados dois meses de mandato – 14 de março a 12 de maio, no governo da presidente Dilma Rousseff –, Eugênio José Guilherme de Aragão, de 57 anos, estava de volta à Procuradoria-Geral da República, onde entrou em 1987. E tratava, com Rodrigo, que é como chama Janot, da função que passaria a ocupar.

Entre e-mails e “zaps”, o procurador-geral perguntou se o ex-ministro gostaria de assumir a 6.ª Câmara do Ministério Público Federal (MPF) – a que trata de populações indígenas e comunidades tradicionais. “Não gostaria”, respondeu Aragão. “Teria de lidar com o novo ministro da Justiça (Alexandre de Moraes, de Michel Temer), com quem eu não tenho uma relação de confiança”, explicou. “E o Supremo (Tribunal Federal)?”, contrapôs Janot. “O Supremo a gente conversa”, respondeu Aragão. “Então, tá, Arengão, bota a língua no palato”, escreveu o procurador-geral. “Rodrigo, quer saber, nós somos pessoas muito diferentes, e eu não dou a mínima para cargos”, respondeu Aragão, sem mais retorno.

“Que diabos quer dizer ‘bota a língua no palato’?”, perguntou-se Aragão durante a entrevista ao Estado, gravada com seu consentimento, em uma cafeteria da Asa Sul do Plano Piloto, em Brasília.

Foi uma dúvida que surgiu ao ler a metáfora sobre o céu da boca. “Significa um palavrão?”, perguntou-se, experimentando dois ou três. Conformou-se com a ordinária explicação de que Rodrigo o mandara calar a boca e/ou parar de arengar. Era um sábado, 21 de maio. Na segunda, 23, um impalatável Aragão foi ao gabinete de Janot.

“Ele me deu quarenta minutos de chá de cadeira”, contou, no segundo suco de melancia. Chegou, então, o subprocurador da República Eduardo Pelella, do círculo de estrita confiança de Janot (mais ontem do que hoje). “O Rodrigo é o Pink, o Pelella é que é o Cérebro”, disse Aragão, brincando com o seriado famoso.

 

Pelella, que não quis dar entrevista, levou-o, “gentil, mas monossilábico”, à sala contígua ao gabinete, e foi ter com Janot. Quando sentiu que outro chá de cadeira seria servido, Aragão resolveu entrar. “Os dois levaram um susto”, contou. Pelella pediu que o colega sentasse, e se retirou.

Começou, então, conforme diálogo relatado por Aragão ao Estado, a tensa e última conversa de uma longa amizade:

Janot: Você me deu um soco na boca do estômago com aquela mensagem (“não estou interessado em cargos”).

Aragão: É aquilo mesmo que está escrito lá.

Janot: Então considere-se desconvidado.

Aragão: Ótimo. Eu não quero convite (para função), tudo bem, não tem problema. Olha, Rodrigo, nós somos diferentes. É isso mesmo. Para mim, você foi uma decepção…

Janot: O que você está querendo dizer? Vai me chamar de traíra?

Aragão: Não, traíra não. Não chega a tanto. Desleal, mas traíra não. (No caso Operação da Lava Jato) você foi extremamente seletivo…

Janot: Você vem aqui no meu gabinete para me dizer que eu estou sendo seletivo?

Aragão: É isso mesmo.

Janot: Você vai para a p… que o pariu… Você acha que esse (ex-presidente) Lula é um santo? Ele é bandido, igual a todos os outros…

Aragão: Você foi muito mesquinho em relação ao Lula, só porque ele disse que você foi ingrato (em razão da indicação para a função)… Não tinha nem de levar isso em consideração.

Janot: Isso é o que você acha. Eu sou diferente. O Lula é bandido, como todos os outros. E você vai à m…

Aragão: E os vazamentos das delações? Eu tive informações, quando ministro da Justiça, pelo Setor de Inteligência da Polícia Federal, que saíram aqui da PGR…

Janot: Daqui não vazou nada. E eu não te devo satisfação, você não é corregedor.

Aragão: É, você não me deve satisfação, mas posso pensar de você o que eu quiser.

Janot: Você vá à m…, você não é meu corregedor.

Aragão: Eu não vim aqui para conversar nesse nível. Só vim aqui para te avisar que estou de volta.

Nunca mais se falaram. O Estado quis ouvir Janot a respeito das declarações de Aragão. A assessoria de imprensa da PGR assim respondeu ao pedido: “O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está em período de recesso e não vai comentar as considerações do subprocurador-geral da República Eugênio Aragão”.

Sem função. Desde então, sem ter sido designado para nenhuma função em especial, Aragão continua trabalhando normalmente como subprocurador-geral da República, no mesmo prédio em que despacha Janot.

Os dois foram amigos por muitos anos, relação que incluía as respectivas famílias. Não poucas vezes Aragão degustou a boa comida italiana que Rodrigo aprendeu a fazer. Compartilhavam a bebida, também, embora com menor sede.

A divergência começou, sempre na versão de Aragão, nos idos do mensalão, mais precisamente quando Janot, já procurador-geral – “com a minha decisiva ajuda”, diz Aragão – pediu a prisão de José Genoino (e de outros líderes petistas), em novembro de 2013, acatada pelo ministro Joaquim Barbosa, do Supremo. “O Rodrigo já tinha dito ao Genoino, na minha frente, e na casa dele, várias vezes, que ele não era culpado”, contou o ex-ministro da Justiça.

Como ministro do governo petista, Aragão aumentou o volume das críticas aos excessos da Lava Jato e aos frequentes vazamentos de delações premiadas ainda sob sigilo. Chegou a ser considerado, pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o maior inimigo da operação.

 

Redação

Redação

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  • "Janot: Você vai para a p...

    "Janot: Você vai para a p... que o pariu... Você acha que esse (ex-presidente) Lula é um santo? Ele é bandido, igual a todos os outros..."

    "Janot: Isso é o que você acha. Eu sou diferente. O Lula é bandido, como todos os outros. E você vai à m..."

    Advogados do LULA, incluam estas "teses" do procurador no processo junto a ONU!

    É de uma imparcialidade golpista, chega a feder psdb, por que o aecim nem thum...

  • Não conheço pessoalmente esse

    Não conheço pessoalmente esse procurador Eugênio Aragão e é quase certo nunca  chegar a tanto. Entretanto, no meu conceber se trata da surpresa mais agradável e supimpa ocorrida nesses últimos anos neste país de dissabores mil. O cara é o cara mesmo!

    Convenhamos: se quisesse poderia muito bem estar nos píncaros da glória. Pelo menos na seara do estamento conservador, da mídia compromissada e do anti-petismo-esquerdismo militante. Pela inteligência, retórica afiada e desprendimento certamente já teria ultrapassado o "herói" Sérgio Moro. 

    Sua coerência e altivez chegam a impressionar. O danado bate de frente com essa falange sem receio de se estrepar. 

    Se aparecesse um Diógenes por essa "Atenas" aqui dos trópicos  decerto ele acharia o seu "homem". 

  • O Brasil está precisando de
    O Brasil está precisando de muitas pessoas com o mesmo caráter do ex ministro Aragão.Franco,direto,corajoso, bem preparado, competente e culto.

  • Janot,

    você é um santo. Santo que gosta de viajar com a turma do Aécio, especialmente se o meio de transporte for um helicóptero. Aécio, Janot, Carlinhos Cachoeira, Alexandre Moraes...como esta tigrada tornou a vida do DEA mais fácil.

     

  • "Você acha que esse

    "Você acha que esse (ex-presidente) Lula é um santo? Ele é bandido, igual a todos os outros":

    Igual o Aecio  cujas contas em Liechtenstein voce sentou a bunda em cima por 10 anos, Janot, ou igual o Aecio que voce engavetou varias e varias vezes em processos de corrupcao da grossa?

  • Aragão tem perfil de

    Aragão tem perfil de presidente ou vice-presidente da República. Com essa coragem e determinação, seria um bom vice para Lula 2018.

  • Presidente

    Aragão pode ser um nome forte para liderar uma frente ampla de centro-esquerda. É curioso que não vi ninguém ainda levantar seu nome.

    • Tenho pensado que o Aragão é

      Tenho pensado que o Aragão é o cara capaz de liderar o movimento que culminará, ou com novas eleições, diretas, ou com o reestabelecimento do governo da Presidenta Dilma, interrompido por um golpe inconstitucional e absolutamente ilegítimo, porque entre os opositores  de hoje, nunca vi tanto bundão junto.

  • Caras como o Eugênio são
    Caras como o Eugênio são totalmente necessários nesses tempos. Contundente, articulado, inteligente, preparado, e ainda com uma verve maravilhosa para temperar seus discursos.  Ele , Ciro, Nassif, são as figuras públicas que eu mais gosto de ouvir e acompanhar ultimamente.

  • Como pode este Senhor

    Como pode este Senhor aparecer so agora no final do mandato de Dilma , onde estava ele este tempo todo ?

  • arca de nóe

    O povo concursado do judiciário/MP, salvo honrosas exceções como o sr. Aragão, sinceramente acredita que se houver um dilúvio na terra, só serão escolhidos casais de pessoas concursadas - de preferência no judiciário - para repovoar a terra, tão virtuosos e perfeitos que são por terem assinalado as bolinhas certas em concurso. Só eles são bons, puros, imaculados.

    De todo modo, eu é que não ia querer viver num mundo 'repovoado' por gente como janota, moro, gilmar mendes, carmen lucias, etc.

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