Caso LILS: Como fabricar uma denúncia contra Lula, segundo a Lava Jato

Primeiro passo para promover devassa na vida de Lula é achar uma brecha no meio das empreiteiras da Lava Jato. Depois, é preciso detectar um elo entre a empresa do ex-presidente e a corrupção na estatal. Caso as evidências não sejam suficientes, dê tiro para todo lado: use o sítio de Atibaia e o triplex no Guarujá. Se nada der certo, recorra à delação
Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Jornal GGN – O Estadão divulgou nesta terça (13) que a Polícia Federal, sem finalizar a investigação, encaminhou o inquérito contra a LILS – empresa de palestras de Lula – para o Ministério Público Federal, em Curitiba (PR). A apuração deve ensejar a quarta denúncia que a equipe de Deltan Dallagnol pode apresentar a Sergio Moro contra o ex-presidente.
O GGN aproveitou a notícia para revisitar o que a Lava Jato levantou até agora sobre as palestras de Lula, tendo em vista que o inquérito da PF, iniciado há quase 2 anos, é inconclusivo e, além disso, em delação premiada, Alexandrino Alencar apontou que não houve nenhum ato de corrupção nos contratos entre a Odebrecht e a LILS.
A partir de informações extraídas dos pedidos de quebra de sigilo de dados da empresa de Lula, e da decisão de Sergio Moro autorizando as ações que deram origem à operação Aletheia, é possível traçar o roteiro do que já foi realizado. Ou, olhando de outro ângulo, um tutorial de como fabricar mais uma denúncia contra o ex-presidente – que já acumula 3 só nas mãos de Moro.
PASSO 1 – ENCONTRANDO A JANELA
Foi investigando o chamado clube das empreiteiras e os pagamentos de propina relacionados a contratos da Petrobras que a Lava Jato achou uma brecha para arrastar Lula para Curitiba.
A partir da quebra de sigilo fiscal das empresas Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, a força-tarefa detectou o pagamento de pouco mais de R$ 9 milhões à LILS, entre 2011 e 2014.
A Lava Jato visualizou “fortes indícios de que Lula tem relação próxima com os executivos das empreiteiras envolvidas nas condutas delitivas.”
Em setembro de 2015, Moro concordou com o primeiro pedido de quebra de sigilo dos dados da LILS, feito pelo MPF, em cima de 4 motivos:
(1) eram “altos” os valores que Lula recebeu das “empreiteiras participantes do cartel” da Petrobras para fazer palestras;
(2) era “reduzido o quadro de empregados da entidade, a indicar a vinculação dos recursos transferidos pelas empreiteiras com a pessoa que melhor personifica a empresa;
(3) os pagamentos por empresas são “contemporâneos” da “possibilidade de influência [de Lula] nas indicações de diretores da Petrobras envolvidos no esquema de corrupção”;
(4) existia a “possibilidade de utilização de pessoa jurídica para transferir recursos espúrios entre os corruptores e os corrompidos, como já visto em relação a outros beneficiários do estratagema delituoso sob investigação.”
PASSO 2 – ACHANDO UM ELO ENTRE PETROBRAS E EMPRESAS DE LULA
No 4º tópico para defender a quebra de sigilo da LILS, o MPF basicamente usou José de Filippi Junior como o elo entre eventual pagamento de propina na Petrobras em favor do PT e o ex-presidente Lula.
O argumento consiste no fato de que Filippi ocupou a tesouraria do partido em 2006, ano em que Lula buscou a reeleição e, segundo delatores da Lava Jato, teria recebido R$ 2,4 mihões em caixa 2 para sua campanha.
Um das informações usadas para sustentar essa tese foi o pagamento de R$ 400 mil pela QUIP à LILS, em 2013. A empresa era integrada pela Queiroz Galvão, UTC e IESA.
Como Fillipi, além de tesoureiro do PT, veio a ocupar a presidência do Instituto Lula por alguns meses em 2011, a Lava Jato forjou uma ponte entre os negócios pessoais do ex-presidente e a propina na Petrobras.
PASSO 3 – PERGUNTANDO ÀS PESSOAS ERRADAS
Aquela primeira quebra de sigilo da LILS, autorizada por Moro em 2015, revelou que a empresa “recebeu pagamentos de cerca de R$ 21.080.216,67 entre 2011 e 2014, sendo que R$ 9.920.898,56 foram provenientes das empresas Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, UTC e Queiroz Galvão, todas envolvidas no esquema criminoso da Petrobras.”
Com esses números em mãos, os procuradores perguntaram a executivos da OAS Empreendimentos sobre as palestras de Lula. Mas os interrogados “afirmaram que não se recordam de ter sido noticiada palestra do ex-presidente Lula dentro da OAS ou custeada pela mesma” e “a partir de tais depoimentos, reforça-se a hipótese de que a LILS possa ter sido usada para dissimular o recebimento de vantagens indevidas.”
O curioso é que a OAS Empreendimentos está envolvida na Lava Jato por ter sido responsável por executar o empreendimento da Bancoop, no Guarujá (SP), onde Lula é acusado de ter um triplex reformado pela mesma empresa. A OAS Construtora é outro braço do grupo, liderada por Léo Pinheiro, e teria muito mais dados sobre as palestras de Lula ou seu Instituto.
Quem veio a falar à Lava Jato sobre as palestras de Lula foi Alexandrino Alencar, da Odebrecht, de maneira muito taxativa. Ele disse que os serviços foram contratados de forma “lícita e transparente”. O vídeo foi divulgado no início de 2017, mas sem que a versão de isenção da LILS tivesse destaque na mídia. (Leia mais)
https://www.youtube.com/watch?v=KE01I9WU4Tg]
O GGN já mostrou, em outra reportagem, que o expediente de selecionar as testemunhas de acordo com as conveniências foi muito explorado pelos procuradores de Curitiba no caso triplex. Há vídeo de membros da força-tarefa perguntando até a um montador de armários se ele “achava” que o apartamento era do petista. A resposta carregou o “plim, plim” da Globo. (Leia mais)
PASSO 4 – ATIRANDO PARA TODOS OS LADOS
Em fevereiro de 2016, cinco meses após autorizar a devassa na LILS, Moro atendeu outro pedido da Lava Jato e ampliou as investigações sobre Instituto Lula e pessoas relacionadas ao ex-presidente na operação Aletheia, conhecida pelo episódio da condução coercitiva.
Naquele momento, Moro, diante das informações apresentar pelo MPF até então sobre a LILS, apontou a escassez de provas: “Não se pode concluir pela ilicitude dessas transferências [das empreiteiras a Lula, mas é forçoso reconhecer que tratam-se de valores vultosos para doações e palestras, o que, no contexto do esquema criminoso da Petrobras, gera dúvidas sobre a generosidade das aludidas empresas e autoriza pelo menos o aprofundamento das investigações.”
Mas para levar adiante as suspeitas sobre possíveis crimes praticados por Lula com a empresa de palestras, Moro decidiu considerar as demais denúncias da Lava Jato contra o ex-presidente para fabricar um contexto mais amplo de “aparente ocultação e dissimulação de patrimônio”, com “apartamento e o sítio, as reformas e aquisições de bens e serviços”, que justificariam, então, a necessidade de investigar “a fundo” a LILS.
Foi nesse mesmo despacho que Moro escreveu a frase que roubou os holofotes: “Embora o ex-Presidente mereça todo o respeito, isso não significa que está imune à investigação, já que presentes justificativas para tanto.”
PASSO 5 – APELANDO PARA A DELAÇÃO
Como faz mais de um ano desde a Aletheia e o inquérito da PF sobre a LILS ainda assim terminou sendo inconclusivo, o jeito foi recorrer à delação premiada.
Chama atenção, na reportagem do Estadão, que o antigo delegado que presidia o inquérito da LILS, Márcio Anselmo, passou o bastão adiante observando que era preciso anexar delações para dar sustança ao caso.
Até a famosa delação de Marcelo Odebrecht falando que criou uma conta chamada “Amigo” e depositou nela milhões de reais que teriam ficado “à disposição de Lula” – objeto de outra ação penal nas mãos de Moro – é oferecida como sugestão de anexo pelo delegado Anselmo.
Além disso, ele pede para inserir no inquérito notícias de jornais, do final de 2016, sobre a palestra que Lula fez no Nordeste contratado pela Cervejaria Petrópolis.
O despacho de Anselmo é de março de 2017, mais de 18 meses após a Polícia Federal iniciar a devassa na LILS.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • Mandar um inquérito
    Mandar um inquérito inconclusivo depois de quase dois anos,é muita safadeza, INCRÍVEL! Não é possível tanta irresponsabilidade,molecagem, NÃO VAI HAVER PUNIÇÃO?Lógico q não acharam nada e no jeitinho brasileiro "manda lá pra ver no q dá!"

  • O que causa espanto
    O que causa espanto é um certo ex presidente mentir que tinha um apartamento de 15 milhões de euros em Paris, depois admitir a propriedade, e não acontecer nada com ele

    Enquanto isso um misero sitio e apartamento que nunca ficou pronto serve de motivo pra querer culpar outro ex-presidente.

    E tem gente que ainda não acredita em golpe!

  • Lula seria o gênio do crime,
    Lula seria o gênio do crime, o gênio dos gênios! Além de iludir uma nação e mundo inteiro de que o Brasil achara o caminho do desenvolvimento social (sem fome!) e econômico (6a economia!), ele tornou a corrupção uma arte mágica. Negociou propinas não se sabe onde nem como, e dela conseguiu transformar milhões, quiçá bilhões, numa cozinha de um sítio de um compadre, num triplex no Guarujá que nunca foi seu, num terreno para o IL que também nunca foi do IL, num crédito para guardar tralhas presidenciais, num apartamento que aluga ao lado de onde reside a mais de 20 anos. Realmente é humilhante para o país uma corrupção de tal forma pobre e miserável... Nenhum jantar em Paris, nenhuma jóia para d. Marisa! Um triplex no Guarujá que faria morrer de rir qualquer corrupto "homem da mala"... Ah, as palestras, claro que são um engodo a mais, quem pagaria um níquel para ouvir um operário? Nossos notáveis sherlock holmes não se enganam facilmente! Nossos incorruptíveis, infalíveis, policiais e procuradores hão de achar até o dedo que Lula arrancou para não trabalhar mais, e esta setá a prova final de que ele eta o gênio dos gênios do crime. Ele não precisava de "homens mala"... Seria um bom título para o filme que andam fazendo por aí sobre essa farsa a jato?

  • DITADURA fhcpsicopata antiPT e.u.a. JURIDICO MIDIATICA STF GLOBo

    Nós continuamos querendo a devolução dos nossos 55 milhões de votos que foram roubados. Queremos de volta os nossos projetos democráticos nas mãos de quem foi eleita legitimamente, Dilma Roussef. 

  • Fascistas amarelos de Curitiba

    Os fascistas amarelos de Curitiba são militantes do tucano Aécio Neves.

    Isso explica quase tudo.

  • O desafio é achar alguma maneira de passar isso pra população

    A verdade liberta... qualquer pessoa que acompanha esse caso de perto fica com a clara impressão de injustiça e perseguição... o problema é que a maioria da população é bombardeada pela mídia o tempo inteiro.

    É necessário algum tipo de quebra gelo... algum modo de colocar essas informações acessíveis para a população.

    O advogado faz um excelente trabalho... bem explicativo e didático... mas poucas pessoas se dão ao trabalho de ouvir. 

    O cartel da mídia criou um blocão que não abre espaço para o contraditório... se houver jeito de furar esse bloqueio a estratégia de Moro cai por terra... só funciona se não houver pensamento único.

  • Mesmo com vexames, o patrão cobra o "serviço" de Moro.

    O que alguns não entendem é que Tucanomoro e seus procuradores-talebans foram colocados nas posição nas quais estão para cumprir a agenda designada por seus patrões. Acabar com o governo Dilma antes que os resultados da exploração soberana do Pré-Sal tornassem impraticáveis tentativas de substituir o regime de partilha pelo de concessão, tirar do Poder o grupo político e seus líderes que ousaram tal projeto que tiraria de vez o Brasil da influência estadunidense e inviabilização de todos os setores econômicos do Brasil que pudessem ser pontas-de-lança da inserção soberana do país no mundo.

    Conheço gente com doutorado que, influenciada pela "midia de referência" considera que Tucanomoro e sua turma treinada no Departamento de Estado são retos fiscais e aplicadores da Lei.

    Portanto, mesmo passando vergonha sobre vergonha na suposta "investigação" contra Lula, a turma subordinada ao Uncle Sam não vai desistir enquanto não inviabilizar a candidatura de Lula, colocar o PT na clandestinidade e aniquilar os setores modernos da economia brasileira.

    Só um povo informado poderá parar tal processo. O grande problema é conseguir com que as massas desacreditem de vez do monstro de desinformação organizado pelo Instituto Millenium, e que tem como linha-de-frente as famigeradas Organizações Globo.

    Tarefa dificílima que temos. Mas, que não é transferível.

  • Caçada

    Essa sanha absurda direcionada ao presidente Lula tem o mesmo significado da extrema humilhação das chibatadas em praça pública sofridas pelo escravo que ousou se libertar do cativeiro.

    Um corretivo a céu aberto sob os olhares dos companheiros de sofrimento e de tragédia, com o claro sentido de intimidar a qualquer outro que tente o mesmo.

    Não é o homem Luis Inácio, somos nós brasileiros os vitimados por esse rancor e ódio insanos.

     

  • Alguém já fez as contas sobre qual o dinheiro gasto nisto?

    A falta de provas, e estes autos cujos dizeres  são  auto incriminatórios, para os delegados e procuradores e juizes, vem gastando uma fortuna de dinheiro nesta  cruzada   quase pessoal , que se fosse infantil seria um  pega-pega.  Onde está o MP que não aciona estes servidores públicos por malversação do erário.

    Por favor algum especialista que possa fazer uma estimativa seria bem vindo ao blog.

  • Os tucanalhas não são apoiadores do MT, são cúmplices.

    Moro já absolveu a mulher do Cunha por falta de provas... Moro já absolveu a mulher do Cabral por falta de provas... Por que é que AINDA não absolveu a falecida dona Marisa?

    Que raio de “provas” são essas que não o fizeram absolvê-la, mesmo contrariando a orientação internacional sobre Direito, que recomenda que se o réu vier a falecer durante o processo deverá ser anistiado em respeito à presunção de inocência. Isso deixa mais claro ainda a parcialidade de Moro nesse processo.

    "Grande" juiz!  Alias, como juiz ele é um grande tucano.

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