Dallagnol diz que vazamentos por delações é “estratégia, fora da caixa e correta”

Jornal GGN – Após quase três meses de divulgação das mensagens da Lava Jato de Curitiba obtidas pelo The Intercept Brasil e diante da impossibilidade de negar ou impedir que, a cada dia, novas revelações acabem com toda a credibilidade da Operação de Sergio Moro, o procurador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, concedeu uma entrevista à BBC para tentar se defender, diminuindo a importância das reportagens.

Tentando reverter a posição, afirmou que ele está sendo vítima de “maldade” e “veneno”, e que são “conversas de mesa de casa”, relativizando os ataques diretos de sua equipe a investigados como Lula e as ironias contra a morte de dona Marisa Letícia, além das ilegalidades, pressões para obter as delações premiadas e manipulações junto à imprensa no modus operandi da Lava Jato nestes últimos anos.

São conversas que você tem com o círculo de intimidade, conversas que você fica à vontade para falar até alguma besteira, uma bobagem, para ser até certo modo irresponsável”, disse Dallagnol na entrevista concedida à BBC News Brasil. Na primeira das perguntas, o repórter questionou o procurador sobre uma resposta dada por ele ao mesmo jornalista há dois anos, quando negou que a Lava Jato “vazava” informações. O coordenador da força-tarefa continuou negando os vazamentos seletivos e diz haver “um jogo semântico aí, de significado de palavras”, que não seriam vazamento.

Em outros temas, contudo, Dallagnol confirmou a veracidade das mensagens, ao dizer que foram “hackeados” e que “eles têm mensagens verdadeiras” e que “lembra” de algumas delas, mas novamente na inversão de papeis, disse que os jornalistas é que estariam retirando de contexto ou selecionando “um foco” para “gerar uma polêmica”.

Mas especificamente sobre os vazamentos seletivos, sem usar estas palavras, o procurador admitiu que existia uma “estratégia de investigação” nessas divulgações a jornalistas.

Não era algo sigiloso, era uma estratégia de investigação. E aí está o giro semântico que os caras fazem para nos atribuir vazamentos. O que existiu ali, se existiu, foi um adiantamento de estratégia de investigação, que é o que o Orlando fala. De novo, posso adiantar estratégia de investigação? Posso. Não tem nada de ilegal, ilegítimo e ilícito nisso”, desviou, não respondendo ao teor anti-ético da seletividade e dos objetivos por trás desses vazamentos.

“Pode fazer isso para incentivar colaboração?”, perguntou, então o repórter da BBC. “Isso, não tem nada de errado nisso. Pelo contrário, é uma estratégia ‘fora da caixa’. Usada, correta e legítima”, admitiu.

Ao falar que a imprensa manipula, usou o exemplo de uma reportagem da Folha que divulgou as palestras realizadas pelo procurador de Curitiba que foram cobradas e não gratuitas ou doadas à filantropia, como ele gosta de ressaltar. A BBC perguntou: “O senhor disse que foram 34 palestras gratuitas de um ano para cá. Essa informação vai estar na nossa reportagem. E eu também queria saber quanto dinheiro o senhor ganhou em palestras pagas neste mesmo período”.

Mas Deltan desviou e não respondeu: “Essa é uma informação privada, de novo. Essa atividade é legal, legítima e privada. É a mesma coisa que eu perguntar qual é o seu salário”.

Em outra polêmica, o jornalista perguntou se ele não achava que havia interesse público na mensagem trocada entre eles, divulgada pelo The Intercept Brasil, de abrir uma fundação ou instituto para palestras utilizando as esposas como capital social, o procurador admitiu a existência desse chat, antes de voltar atrás e deixar a confirmação no campo da hipótese e defendeu que não havia nada de errado nisso.

“O que teve conversa, que foi divulgada, vamos colocar assim, essas supostas conversas, ainda que a gente dê crédito, conversa sobre criar uma empresa para gerenciar palestras ou cursos jurídicos, eventos, congressos. Se existiu isso, tem alguma sombra de ilicitude, ainda que as esposas figurem no contrato social e sejam administradoras? Não tem nada de errado.”

Leia a íntegra da entrevista na BBC News.

Redação

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