Delações da Odebrecht incriminam lobby, diplomacia e influência de Lula

Jornal GGN – Das seis frentes de acusações que recaem sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cinco referem-se sobre o lobby político junto a relações diplomáticas, por governabilidade ou por supostos benefícios de terceiros. Apenas uma é acusação direta: a mesma do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.
Dois inquéritos aceitos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, a partir das delações da Odebrecht, irão apurar se Lula atuou em favor da empreiteira para se destacar no mercado nacional e internacional.
Uma referente a serviços em Angola, Lula teria conseguido a presença da empresa nacional no exterior. Em troca, as acusações impõe que Lula teria solicitado favorecimento a uma empresa de seu sobrinho Taiguara Rodrigues, a Exergia, entre os anos de 2011 e 2014, contratada para os serviços no país.
“Segundo o Ministério Público, os colaboradores relatam que o Grupo Odebrecht, entre os anos de 2011 a 2014, teria contratado a empresa Exergia, de propriedade Taiguara Rodrigues, objetivando prestação de serviços em Angola. Esclarecem, nesse contexto, que a referida contratação constituiria atendimento a pedido formulado pelo próprio ex-Presidente, acrescentando que a empresa Exergia não detinha experiência no ramo de construção e seria constituída por Taiguara Rodrigues tão somente para fazer uso da influência do ex-Presidente da República”, diz trecho do inquérito.
Outra, o ex-presidente teria intermediado a boa relação da Odebrecht junto ao governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Lula se comprometeu a melhorar as relações da empreiteira na gestão de Dilma, e em troca, a Odebrecht teria favorecido projetos de seu filho caçula, Luís Cláudio Lula da Silva.
A delação é do patriarca da família, Emílio Alves Odebrecht, e do ex-diretor de Relações Institucionais da empreiteira, Alexandrino Alencar, que afirmaram: “o ex-presidente Lula teria se comprometido a melhorar a relação entre o Grupo Odebrecht e a então presidente Dilma, sendo que, em contrapartida, receberia o apoio da Odebrecht na atividade empresarial desenvolvida por seu filho Luís Cláudio”.
Neste último caso, não há menção de nenhum repasse ao filho do ex-presidente. Aponta-se, apenas, uma suposta relação de influências, sem indicação de propinas. No despacho de Fachin, o ministro relata que os delatores disseram que se encontraram com Luís Cláudio para conhecer o projeto “Touchdwn”, para a criação de uma liga de futebol americano no Brasil.
Um terceiro inquérito não há sequer a confirmação de que o ex-presidente teria atuado no caso. O ex-diretor de relações institucionais, Alexandrino Alencar, e o chefe do departamento de Operações Estruturadas, Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho, narraram que o irmão de Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como “Frei Chico”, recebia da Odebrecht uma espécie de “mesada”.
“Narram os executivos que os pagamentos eram efetuados em dinheiro e contavam com a ciência do ex-presidente, noticiando-se, ainda, que esse contexto pode ser enquadrado ‘na mesma relação espúria de troca de favores que se estabeleceu entre agentes públicos e empresários’”, é o que diz o documento.
Lula, como deixa claro Fachin, não teria tido atuação direta, apenas “sabia” dos supostos repasses.
Um quarto caso trata-se de uma relação diplomática do ex-presidente no Porto de Mariel, em Cuba. Tanto Lula, quanto o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, atuaram e intercederam para que fosse possível a contratação da empresa brasileira nas obras. A criminalização da atuação de Lula ocorre, ainda que de forma controversa, porque parte dos recursos – US$ 682 milhões dos US$ 957 milhões – partiu de financiamentos do BNDES.
Por fim, um quinto inquérito é sobre a suposta operação de caixa dois para a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, em 2012. Ao contrário do que divulgou a maior parte dos jornais nestas terça e quarta-feiras, o despacho de Fachin não indica que Lula “pediu” os recursos. Novamente, é investigado porque negociou as doações da empreiteira.
As delações são de Emílio e Marcelo Odebrecht. “Essas transações foram ajustadas entre executivos do Grupo Odebrecht, especialmente Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht e Alexandrino de Alencar, e o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e outros integrantes do PT”.
Da mesma forma como ocorre em todas as articulações para doações a campanhas eleitorais, a Odebrecht auxiliaria nas eleições do PT, de olho na “aprovação de medidas legislativas favoráveis aos interesses da companhia” em São Paulo e na Concessão de Certificado de Incentivo ao Desenvolvimento (CID), título relacionado a impostos municipais. Entretanto, a transação teria ocorrido com “recursos não contabilizados”, segundo delatores.
O último inquérito, já de conhecimento público pelas ações de Sérgio Moro, da Vara Federal de Curitiba, é sobre o sítio de Atibaia. Marcelo e Emílio contaram que, com o intuito de agradar o ex-presidente, decidiram reformar o sítio no interior de São Paulo, realizar a compra de imóveis para uso pessoal e para a instalação do Instituto Lula, além de doações a palestras do ex-presidente.
Todos os inquéritos que mencionam Lula como investigado foram remetidos à Vara Federal de Curitiba, no Paraná, nas mãos do juiz Sérgio Moro. O pedido foi do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que sustenta a tese que todos os favorecimentos ao ex-presidente diretamente, a pedidos feitos por ele ou, inclusive, por apenas consentimentos de Lula, eram na verdade benefícios em troca do que o político fez pela Odebrecht.
Como é o juiz Sérgio Moro quem investiga essa tese, uma vez que o primeiro procurador a levantar a teoria foi Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, ainda no pedido de condução coercitiva, em março do último ano, todos os casos foram remetidos à Vara.
Em resposta, o ex-presidente ressalta que em todos os processos em tramitação já foram ouvidas 102  pessoas, incluindo os mesmos delatores, e testemunhas de acusação e de defesa. “Nenhum desses depoentes fez qualquer afirmação que pudesse envolver Lula em ato ilícito relativo à Petrobras ou às propriedades que lhe são indevidamente atribuídas, especialmente o apartamento do Guarujá e o sítio de Atibaia”.
“Só a permanente prática do lawfare explica esse novo episódio, após a superação de todas as anteriores suspeitas lançadas contra nosso cliente. (…) Lula já teve todos os seus sigilos quebrados, no Brasil e no exterior. E nenhum valor ilegal foi encontrado, porque ele não recebeu qualquer valor ilegal”, completou, em resposta o advogado Cristiano Zanin Martins.
Assista ao posicionamento da defesa:
https://www.youtube.com/watch?v=nThre29kqs8
Leia, abaixo, todos os despachos de Edson Fachin para abertura de inquéritos contra Lula:
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  • As acusações não horam as

    As acusações não horam as pessoas com um mínimo de inteligência e senso crítico!

    É uma afronta contínua ao bom censo!

    Querem convencer pela repetição!

  • Isto é uma tremenda

    Isto é uma tremenda bobagem.

    A função do presidente é promover os produtos e serviços do país no exterior.

    Ao cumprir sua obrigação, o presidente faz a economia do país crescer e a arrecadação tributária aumentar (inclusive para poder pagar os privilégios senhoriais dos juízes e promotores criminosos que ganham salários acima do teto).

    Se querem produzir um espetáculo processual acusando alguém de Lobby os membros do MPF deveriam começar denunciando Donald Trump que requisitou 1 trilhão de dólares para ajudar as empreiteiras norte-americanas nos EUA e no exterior. 

     

    • lula lobista

      Você está certo. Mas há um detalhe: Lula não era mais presidente da república, portanto, não pratica mais crime contra a administração pública como agente político. Poderia , eventualmente, praticar crimes contra a administração pública como particular, o que também não faz. A atividade de lobista nos EUA é plenamente autorizada e isto ajudou a diminuir a corrupção, pois o que é legal , não é crime. Lá a lei age em favor ou contra todos, aqui o cometimento de crimes depende de quem é o cliente da Justiça.  

      • mesmo havendo lei...

        mesmo havendo lei contra Lobby, não poderia ser aplicada.

        Lula tentou ajudar empresas brasileiras e ganharem mercado no EXTERIOR.

        Nenhuma lei de país nenhum se aplica no estrangeiro.

        TODOS os presidentes, primeiros-ministros, reis e rainhas fazem Lobby para seus países.

         

        Só aqui no Brasil um MPF que segue uma cartilha de catecismo dominical faz coisas assim.

      • Dirceu - Palocci - Lula

        José Dirceu foi condenado por Sergio Moro pela pratica de lobby, mesmo que tenha sido apos ter deixado o governo. Uma coisa levando à outra. Por isso a condenação de Dirceu.

  • Esse é o nível da acusação contra Lula?

    Jesus, Maria e José! A acusação contra Lula é "a nível de" Porto de Mariel, em Cuba?

    Fachin deveria ter vergonha de aceitar um negócio desse.

    É pra rasgar o diploma e sentenciar com base n´O Processo de Kafka:

    “Sem motivo Josef K. é capturado e interrogado em seu aniversário de 30 anos. As circunstâncias são grotescas, ninguém conhece a lei e a corte permanece anônima. A ‘culpa’, descobre Josef K., torna-se-lhe inerente, sem que ele possa fazer algo contra isso. Obstinadamente, mas sem sucesso, ele tenta lutar contra o crescente absurdo e envolvimento, ignora todo aviso de resistência e é por fim executado um ano depois nos portões da cidade.”

    • Conciliação nunca mais !

      Muito bem intencionado e premido pelas relações de poder, Lula fez uma política de Conciliação. Não mexeu com aquele 1% que domina os restantes 99%. Mesmo assim, o 1% não perdoa, porque são egoistas, gananciosos e predadores.

      O maior erro, comprovado empiricamente pelos brasileiros, é inocentemente acreditar numa política de Conciliação.

      Quem fizer uma pequena reflexão concluirá: o que move a Política é a Luta de Classes.

  • A maior parte dos inquéritos

    A maior parte dos inquéritos abertos contra políticos tem citações de ganhos ilícitos, de valores expressivos. Estão arrolados em processo nomes de autoridades do governo e de sua base, envovendo muitos dos PMDB e PSDB. Vejamaos que até mesmo os dois presidentes do Congresso - Câmara e Senado - estão lá, como está Renan Calheiro etc.

    A Globo, como sempre, tem em seus comentaristas políticos, um tipo como Jabor, que não se escandaliza contra ninguém. Sua fixação é em Lula, apenas Lula. 

    Ontem mesmo lembrei-me do dia em que Bonner e Fátima Bernardes, no JN, entrevistavam Dilma Roussef. Uma das perguntas foi o que ela teria a dizer sobre tantos dos seus colaboradores envolvidos em trapaças, que ela mesma os teria exonerado dos cargos. Foi, talvez, uma das besteiras de Dilma, que parecia viver em função das pressões da mídia: bastava um vento contrário pra ela sair voando, e, assim, cometendo até injustiças, como sabemos que cometeu. Nesse mster, Temer já age diferente. Ele diz que seus colaboradores podem ser denunciados, e até investigados, mas permanecerão no Governo. Cadê a Globo, a imprensa, em geral, para exigir dele a exoneração dessa cambada?

    Duvido que aconteça nada contra Aécio e FHC. Duvido muito mesmo. Alguns dos nomes da lista de Fachin não serão prejudicados. Como diz o Mineirinho: "Acho bom que eu seja chamado a me declarar, quando terei a oportunidade de ...". Todos esses bandidos, que hoje decretam a falência do Estado, que estão diuturnamente a tentar influir nos destinos do povo trabalhador, a maior parte sem nem bem saber se impor no cargo, por incompetência, poderiam até permanecer no governo, mas até que se encerrem as investigações, impedidos de comandar as reformas, se estão na mira da justiça. 

    Lula, enfim, é o maior ladrão, o organizador de quadrilha, e tem que ter seu nome em primeiro lugar, para agrado de Moro e de quem mais o odeia. 

  • Enquanto isso em Curitiba

    Esse país virou uma piada mundial.Parou tudo,só se fala em Lava Jato,Moro e agora Fachin.......Hahahahaha como dizia a musica: eu não sou gato de Ipanema sou bicho do Paraná......

  • Lula não pode fazer nada?

    entre os anos de 2011 e 2014, contratada para os serviços no país.

     

    Nessa época Lula já não era presidente.

    Ele não pode fazer nada?

    Foram aatrás dos "lobbys" do FHCorrupto para verificar o que ele fez depois de sair da presidência?

     

    Esquece, não vem ao caso....

  • Incrivel

    Segundo a Fup Pedro Parente esta vendendo reservas de petroleo descobertas por esse governo que dizem foi o mais corrupto do Brasil ao equivalente a dois dolares o Barril e nao é crime !

    • Concordo

      Concordo com você. Afinal, atualmente no país o que é crime? Crime é tudo ligado ao PT e aliados, o resto não vem ao caso, é o que me parece. Precisavam desesperadamente destas desculpas para dar o golpe e se apossar do país de forma escancarada e inescrupulosa. O Brasil não vem ao caso, o que vem ao caso é quanto o Brasil pode render de lucro, na minha opinião, o país está à venda, acabou-se o Brasil livre e soberano, temos dono, como sempre tivemos, ilusão pensar que nos livramos dele. Existe até programa de tv da globo, é claro, transmitido de NY, USA...

  • Eu gostaria de ver algum artigo...

    ... do Doria, o prefake de São Paulo, falando sobre o contubérnio de políticos e empresários. Espero que ele LIDE bem com isso.

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