Lewandowski sugere parlamentarismo para frear “golpes” no Brasil e América Latina

Foto: Agência Senado

Jornal GGN – O ministro do Supremo Tribunal Federal evitou, durante evento promotivo pelo Conjur sobre os 30 anos da Constituição Federal, expôr sua opinião a respeito do mérito do processo de impeachment da presidente deposta Dilma Rousseff. Mas inseriu o episódio num contexto de “golpes” que tradicionalmente ocorrem em países América Latina, sobretudo em decorrência do sistema presidencialista sem sistema atuante de “freios e contrapesos”. “Em todos os países da America Latina onde há presiencialismo, temos sucessão de golpe atrás de golpe”, disse o magistrado.

Segundo Lewandowski, nestes Países, o presidente é “sacado” do poder por meio de um processo de impeachment. Esse trauma é completamente viável a partir do momento em que o chefe do Executivo perde maioria no Congresso. Se tiver apoio para barrar os votos, ainda está sujeito ao clima de “desconfiança” que é criado pelos parlamentares contrariados. E há sempre a opção de acionar a opção “golpe militar”. “Isso é tradicional na América Latina.”

O ministro citou, sem aprofundar, o caso de Dilma.

“Um presidente no presidencialismo é ao mesmo tempo chefe de Estado e de governo. Ele concentra em suas mãos um poder enorme. Ele só pode ser retirado do cargo por meio de um impeachment, que é um extramente doloroso. Você ter praticado um crime de responsabilidade, cuja tipificação é extramemnte dificil… Os que acompanharam o impeachment da presidente Dilma sabem disso. Essa caracterização das pedaladas fiscais é uma coisa que talvez os historiadores vão ter que quebrar a cabeça. (…) Definir esse tipo penal é extramamente complicado, mas não posso julgar nem me manifestar porque eu participei como neutro [foi presidente do STF na época do julgamento de Dilma] nesse processo, quase como um presidente do júri. Quem sabe um dia eu me animarei para escrever sobre ssa questão.”

Na visão do ministro, “o presidencialismo no Brasil infelizmente não deu certo.” Ele analisou ainda que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula tiveram relativo sucesso e chegaram até o final do mandato porque adotaram o presidencialismo de coalizão. Mas, na visão de Lewandowski, se for para sujeitar o País novamente aos interesses de parlamentares, seria melhor transitar para o parlamentarismo.

Ele disse que a troca do sistema de governo deve passar pelo Supremo e pelo Congresso, de modo que as principais duas questões colocadas na mesa são: primeiro, se é necessária uma emenda à Constituição para implementar o parlamentarismo e, segundo, se não seria recomendável fazer um plebiscito sobre o assunto. Ele indicou que a consulta feita à população 25 anos atrás – na qual a maioria descartou o parlamentarismo – não pode limitar o debate hoje.

“Sou fã do parlamentarismo pela sua estabilidade e maior racionalidade. O presidencialismo, salvo nos Estados Unidos [onde “existe um sistema de freios e contrapesos muito atuante], não vingou. Na verdade foi um gerador de crises. Os países que adotaram o parlamentarismo, como Canadá e Jamaica têm estabilidade notável do ponto de vista político e institucional”, defendeu o ministro.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

View Comments

  • Deus (ainda) é brasileiro?

    Nassif: não sei se o ministro é um visionário ou um pândego. Mas, num ou noutro, um sonhador. Porém, discordo, em parte. A questão (pelo menos a nossa) não é da forma de governo. É da forma de caráter.

    Raríssimo dentre nossos homens públicos os que o tem. No Judiciário (e adjacência), nequita de pitibiriba

    Da classe empresarial, com sua ambição desmesurada pelo lucro a qualquer custo, dispensa comentário.

    Da mídia e da caserna, esses são os pais da criança.

    Essa deque  Deus é brasileiro parace vai durar pouco. Soube que o Homem foi a ONU pra pedir asilo. Mas HaluisinOdebrecht se antecipou e está tramando com a CIA para que seja negado o pedido.

  • Seu ministro, eu sugiro, ao

    Seu ministro, eu sugiro, ao invés de parlamentarismo, que o seu colega morais saia de cima do processo do mérito do golpichment e  juntamento com os seus colegas julguem esta mat´ria. Assim vocês do stf faz, mesmo que muito, muito tardiamente, justiça à pessoa mais injustiçada nesta empreitada macabra dos entreguistas do brasil.

  • Se fosse Gilmar Mentes, eu

    Se fosse Gilmar Mentes, eu teria certeza de que tal proposta é pra ver se enfim essa tucanada conseguiria chegar à presidência de algum jeito - afinal é mais fácil manobrar 513 deputados do que 140 milhões de eleitores. Vindo do Lewandoviski, tenho certeza que é uma bobagem sem tamanho. O que determina estabilidade de um país é a qualidade de sua elite. O juíz pode estar pensando que aqui teríamos um parlamento do tipo inglês - mas na realidade na melhor das hipóteses seria um parlamentarismo italiano. 

     

     

  • So falta esses bachareis
    So falta esses bachareis defenderem a eleiçao indireta para Presidente...

    "Quem sabe um dia eu me animarei para escrever sobre ssa questão."

    Ou seja, quem sabe um dia ele cague tese sobre tese.

  • Se o Brasil fosse

    Se o Brasil fosse parlamentarista o primeiro ministro seria o Rodrigo Maia do DEM ou o Eunício de Oliveira do MDB!

    Alguma dúvida se esse sistema político seria bom para o Brasil?!

    • Sim!

      Sim. Não digo "bom", mas seria melhor.

      As duas figuras que voce citou ESTÃO no governo. Se fossem PMs estariam nos holofotes 24/7, e dificilmente se manteriam no cargo. Com Parlamentarismo cai o governo, cai todo mundo, novas eleições, nova chance de mudar. 

      Com esse sistema que temos, eles (e outros) continuam fazendo seus "negócios" e vão continuar lá até o fim dos tempos.

Recent Posts

Trump considera sanções contra países que deixem de usar dólar

Taxação cambial, tarifas e restrição a exportações estão entre punições avaliadas pela equipe do candidato…

6 horas ago

Governo federal confirma continuidade da homologação de terras indígenas

Força-tarefa composta por ministérios, Funai, AGU e Incra busca acelerar processo; quatro processos devem ser…

7 horas ago

A conexão Nuland–Budanov–Tadjique–Crocus, por Pepe Escobar

A população russa deu ao Kremlin carta branca total para exercer a punição máxima e…

7 horas ago

Elon Musk vira garoto propaganda de golpe que pagou por anúncio no X

Golpe inventa uma nova empresa de Elon Musk, a Immediate X1 Urex™, que pretende enriquecer…

8 horas ago

Governo Milei segue com intenção de lançar ações do Banco de La Nacion no mercado

Apesar da retirada da lista de privatização, governo Milei reforça intenção de fazer banco oficial…

8 horas ago

Prêmio Zayed de Sustentabilidade abre inscrições globais

Prêmio para soluções sustentáveis passa a aceitar inscrições em português; fundos de premiação chegam a…

8 horas ago