Lula é acusado de aceitar R$ 6 milhões de montadoras em troca de Medida Provisória

Foto: Ricardo Stuckert

Jornal GGN – Os procuradores da operação Zelotes Frederico Paiva e Hebert Mesquista entregaram à Justiça de Brasília uma denúncia contra o ex-presidente Lula, o ex-ministro Gilberto Carvalho e mais cinco pessoas por corrupção passiva e ativa. Segundo o Ministério Público Federal, os investigadores acreditam que Lula e Carvalho aceitaram a promessa de receber de montadoras um total de R$ 6 milhões a título de doações eleitorais, em troca da edição da Medida Provisória 471, de 2009. A nota do MPF não informa se os investigadores apontaram se, quando e como o PT teria, de fato, recebido os recursos.

Entre as provas usadas contra o ex-presidente estão emails recebidos por Gilberto Carvalho de representantes das empresas interessadas na MP. Para o MPF, isso prova que a medida foi negociada com o núcleo duro do governo. Além disso, há um registro comprovando que os interessados tiveram acesso ao texto final, com as alterações solicitadas, antes da publicação da MP.

Ainda segundo o informe do MPF, o ex-ministro Guido Mantega e outros investigados não foram citados na denúncia pois não há provas de que eles teriam participado do suposto esquema.

Se aceito, o processo será julgado pela 10ª Vara Federal. No mesmo local tramitam outras ações penais contra Lula, por tráfico de influência (Janus) e obstrução de Justiça (Lava Jato).

Leia, abaixo, a reportagem completa sobre a denúncia, que estáa em anexo abaixo.

Do Ministério Público Federal

Em mais uma ação penal proposta no âmbito da Operação Zelotes, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça sete pessoas pelos crimes de corrupção ativa e passiva. De acordo com as investigações, as irregularidades foram praticadas no período de elaboração e edição (fase do Executivo) da Medida Provisória 471/09, que prorrogou por cinco anos benefícios tributários destinados a empresas do setor automobilístico. Entre os denunciados estão o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o então chefe de gabinete Gilberto Carvalho, além dos empresários Carlos Alberto de Oliveira Andrade (Grupo Caoa) e Paulo Ferraz Arantes (MMC – Mitsubishi).

Quatro dos denunciados já foram processados e condenados por atos praticados durante a tramitação da norma no Congresso Nacional. Na ação enviada à Justiça Federal na última sexta-feira (8), o MPF pediu que aos envolvidos paguem R$ 12 milhões a título de ressarcimento ao Erário e multa por danos morais coletivos.

Como prova da prática dos crimes, os procuradores da República Frederico Paiva e Hebert Mesquita citam documentos segundo os quais a edição e a aprovação da MP envolveu a promessa de pagamentos de vantagens indevidas a intermediários do esquema e a agentes políticos. Metade do valor acertado foi repassado pela montadora MMC à empresa M&M, que atuou em parceria com outros dois intermediários do esquema: o ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) José Ricardo Silva e o lobista Alexandre Paes dos Santos. De propriedade Mauro Marcondes – que também integra a lista de denunciados – a empresa M&M foi o canal utilizado para viabilizar o recebimento e a distribuição da propina. Além de garantir a edição e aprovação da MP no Congresso, os recursos também foram usados para comprar o cancelamento de um débito de R$ 265 milhões que era objeto de um recurso no Carf. Este fato, no entanto, é objeto de outra ação penal em tramitação na 10ª vara da Justiça Federal em Brasília.

Em relação à corrupção praticada no momento de elaboração da medida provisória, os investigadores explicam que do total recebido pela M&M, R$ 6 milhões foram prometidos ao ex-presidente Lula e a Gilberto Carvalho. Afirmam também o destino do dinheiro seria o custeio de campanhas eleitorais do Partido dos Trabalhadores (PT), legenda à qual os dois agentes públicos eram filiados.

“Diante de tal promessa, os agentes públicos, infringindo dever funcional, favoreceram as montadoras de veículo MMC e Caoa ao editarem, em celeridade e procedimento atípicos, a Medida Provisória n° 471, em 23/11/2009, exatamente nos termos encomendados, franqueando aos corruptores, inclusive, conhecimento do texto dela antes de ser publicada e sequer numerada, depois de feitos os ajustes encomendados”, pontua em um dos trechos da denúncia, em referência ao fato de José Ricardo ter recebido cópia da redação final da MP, antes mesmo de a norma ser numerada e publicada.

Início do crime – De acordo com o MPF, a investida do grupo criminoso junto ao governo começou em junho de 2009 quando José Ricardo Silva recebeu do diretor jurídico da M&M duas cartas endereçadas ao então presidente da República com os pedidos de alteração legislativa. Os documentos foram elaborados pelo diretor jurídico da M&M, Ricardo Rett e chegaram a sugerir que a mudança legislativa fosse efetivada por meio de medida provisória, o que acabou ocorrendo. Entre as provas mencionadas pelo MPF estão manuscritos, e-mails e até atas de reuniões apreendidas com os envolvidos. Para o MPF, as expressões “kit de material enviado a Gilberto Carvalho e “café Gilberto Carvalho” que constam de documentos apreendidos evidenciam a relação do grupo criminoso com os agentes públicos.

Além disso, os procuradores destacam uma mensagem em que Alexandre Paes dos Santos afirma que “colaboradores” de Mauro Marcondes teriam exigindo R$ 10 milhões e que o valor foi reduzido para R$ 6 milhões após “esforço de sensibilização de Mauro” Para o MPF, trata-se do ex-presidente Lula e de Gilberto Carvalho. A mensagem endereçada aos responsáveis pela empresa SGR Assessoria, de propriedade de José Ricardo, foi elaborada após a empresa Caoa ter desistido de pagar a sua parte no combinado. A negociação inicial previa o pagamento de R$ 33 milhões. No entanto, recebeu só a metade, o que teria dificultado o pagamento das propinas. Também constam da ação, referências a manuscritos e a registros feitos por José Ricardo da Silva e João Batista Gruginski que, na avaliação do MPF, confirmam a cooptação dos agentes públicos com o objetivo de garantir a edição da medida provisória.

Tramitação atípica – Na ação penal a ser analisada pela 10ª Vara, os procuradores enfatizam que documentos e depoimentos que integram o inquérito policial mostram que a MP teve um andamento atípico, passando por três pastas em um único dia: 19 de novembro, três dias, após a data indicada para o “café com Gilberto Carvalho” e quatro antes da publicação da norma no Diário Oficial. Ouvido na Polícia Federal sobre como se deu o processo de elaboração da norma, o ministro interino de Ciência, Tecnologia e Inovação Luiz Antônio Rodrigues Elias “confirmou que a MP foi discutida em âmbito do Ministério da Fazenda e Presidência da República, vindo ao MCT somente para ser referendada”.

Essa atipicidade foi, inclusive, objeto de questionamento do então subchefe de análise e acompanhamento de políticas governamentais da Casa Civil. Em mensagem eletrônica enviada à então ministra Dilma Rousseff, ele afirma que era impossível exercer a função do setor, diante da postura do Ministério da Fazenda de despachar, diretamente com o presidente da República e enviar para publicação atos normativos como decretos e medidas provisórias. “Nossa análise se resume a aspectos formais e superficiais da matéria”, afirmou Luiz Alberto dos Santos. Para o Ministério Público, não há dúvidas de que Lula e Gilberto Carvalho praticaram crime de corrupção passiva ao aceitar a proposta apresentada por Mauro Marcondes, em nome da organização criminosa.

Na chamada cota – documento que acompanha a ação penal – o MPF explica que, por falta de provas de que participaram das negociações e dos atos ilegais, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e Cristina Mautoni, sócia da M&M e mulher de Mauro Marcondes não foram denunciados. O entendimento aplicado é semelhante ao que foi aplicado nos casos que envolveram  Erenice Guerra, Miguel Jorge, Dyogo Oliveira e Nelson Machado que foram  investigados em relação à possível participação nas negociações feitas com o propósito de manipular julgamento de recurso apresentado pela empresa MMC junto ao Carf.

Veja a lista de denunciados e respectivos crimes

1- José Ricardo da Silva – corrupção ativa

2- Alexandre Paes dos Santos – corrupção ativa

3- Paulo Arantes Ferraz – corrupção ativa

4- Mauro Marcondes Machado – corrupção ativa

5- Carlos Alberto de Oliveira Andrade – corrupção ativa

6 – Gilberto Carvalho  – corrupção passiva

7- Luiz Inácio Lula da Silva –  corrupção passiva

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

View Comments

  • Uma denuncia contra o Lula

    Uma denuncia contra o Lula por dia faz o justiaça brsileira masis doentia.

    Ontem eu ia escrever sobre isso. Eu sabia, como os leitores de blog, que o mpf não dormiria de ontem pra hoje porque teriam que usar control c e o control v para montarem mais uma barbaridade contra o Lula. Óbvio, a água chegou no pescoço e o jano(jo)  foi fragrado nequele muquifo tomando uma gelada e dialogando condialmente com o advogado da jbs. Qual a saída? denuncia contra o Lula. O lula é sempre a salvação dessa galera dos infernos. O moro, aquele babaca, está muito enganado. É só completar o serviço sujo contra o Lula e vai ser execrado sumariamente pelos mesmos que hoje o adoram. é só esperar pra ver. 

  • Eu não tenho provas mas tenho frases!!!!!

    A desfaçatez e o cinismo destas acusações já esta ultrapassando todos os limites, enquanto milhoes passeiam em malas dirigidas diretamente a políticos, ou dormem em apartamentos secretos. Aqui o que se vê é que um ministro de estado recebeu empresários. E que empresários fizeram uma pressão para uma da medida. Depois o que se tem é que  como dizem os acusadores isto é propina que PROVAVELMENTE foi paga e PROVAVELMENTE  para o partido dos trabalhadores.

     E assim anda a nossa justiça: desconstruindo  para usar uma linguagem moderna

  • convulsão

    Isso não vai acabar bem. Esse povo que ganha acima do teto agora também quer aparecer na globo e na veja. Uma hora o povo sem emprego cansa. Quem vai segurar o estouro da boiada? Hoje como não existe ninguém que derrote o Lula no voto, uma renca de bundas sujas se candidata a ser carcerário do Lula. Não aprenderam que quanto mais se bate mais o Lula cresce. Depois de amanhã o preposto da CIA vai tentar a sorte. Quem vai garanti-lo? Seria a 4ª frota?

  • Só fumaça fedorenta dos puns da gangue lavajateira

    É vergonhosa a atuação dos lavajateiros do MPF; isso está simbolizado naquela foto em que o chefe maior desse puteiro (ou alguém aqui ainda considera o MP uma instituição republicana digna de algum respeito?) se encontra com advogado PierPaolo Bottini, da JBS.

    Outro símbolo dessa casa de tolerância é a leniência com que o especulador que adquiriu apartamentos do MCMV, mercador de palestras para setores que apoiaram e atuaram na trama golpista, (como consultorias financeiras) é tratadopelos pares.

    Marcelo Miller atuou nos dois lados do balcão, estipulando os termos do acordo de delação da JBS, depois advogando para a empresa.

    Esses lavajateiros do núcleo brasiliense deixaram de investigar sonegadores bilionários (Itaú, Bradesco, Santander, Gerdau, Globo, etc.) e transformaram a Zelotes - cujo propósito era investigar os grandes sonegadores - num instrumento de perseguição ao Ex-Presidente Lula e a ex-ministros de Estado que serviram ao governo dele e ao da Presidenta Dilma. As ações que agora querem criminalizar foram uma iniciativa do Congresso Nacional, de prorrogar benefícios fiscais concedidos no governo FHC a empresas que instatlaram fábricas em estados do Nordeste. Parlamentares de direita (PFL/DEM, PMDB e PSDB) votaram a favor de tal MP.

    Em suma: essa ORCRIM lavajateira está desesperada e procura inviabilizar o Ex-Presidente Lula para a disputa presidencial. Como não encontra qualquer prova de ato ilícito cometido por ele, fazem essa perseguição sem fim contra o Ex-Presidente Operário.

  • A Banca, a geopolítica; Tucanalhas, a máfia; Os marinho,

    a famiglia + as ratazanas do congresso e os Intocáveis Togados da casa-grande.

    Quarta-feira pode ser o dia D do golpe, o lance derradeiro, está tudo armado para que seja.

    Veremos.

    ps: Qual será a denúncia de amanhã, a véspera?

     

  • passivos e ativos

    Na suruba geral uns são passivos e os outros são ativos.

    Os ativos estão liberados, todos.

    Os passivos estão ferrados, não todos, somente os P (pês)!

  • O vídeo em que o deputado

    O vídeo em que o deputado federal Paulo Pimenta desmascara a farsa que foi esse processo desde o início.......

  • Credibilidade

    De tanto acusarem Lula sem provas, circunstância repetida em todas as denúncias até agora formuladas, os procuradores (desocupados?) que se dedicam a, indiscutivelmente, perseguir o ex-presidente já jogaram por terra a credibilidade do MPF. Lamentavelmente, existem juizes que também não têm dado importância à credibilidade da Justiça, ao permitirem a campanha difamatoria, acolhendo as denúncias vazias ou - pior- até mesmo delas participando. 

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