Merval escreve o epitáfio de Joaquim Barbosa, por Miguel do Rosário

Do Cafezinho

por Miguel do Rosário
Exatamente como eu pensei.

Pode-se até discordar que a decisão do STF de negar prisão domiciliar à Genoíno tenha sido um “acordo político”, como eu acho que foi, mas que teve este significado, isso está claro.

Prendeu-se Genoíno para se soltar Dirceu. Os ministros entenderam que não tinham força ainda para enfrentar as duas arbitrariedades ao mesmo tempo.

Barroso lembrou que Genoíno terá cumprido um sexto da pena até final de agosto, e que poderá passar do regime semi-aberto para o aberto. E voltar para casa.

O caso Genoíno é o mais emblemático, neste momento, para Joaquim Barbosa, por causa do entrevero que aconteceu entre ele e o advogado do réu, Luiz Fernando Pacheco.

Permitir a prisão domiciliar para Genoíno constituiria uma derrota insuportável para o presidente do STF. O plenário entendeu que ainda não é hora de impor uma humilhação tão absoluta a um ministro com uma popularidade mórbida como Joaquim Barbosa.

Barbosa inspira psicopatas, e não estou exagerando. Ontem, no twitter, pude comprovar isso. Fotografei e mostro os prints abaixo. Um sujeito que elogiou Barbosa e xingou Lewandowski, em seguida sugeriu que eu merecia ser morto por um “sniper”, um atirador de elite.

É curioso a inversão de valores desse povo. Eles elogiam Barbosa por ser um juiz, em tese, implacável contra o crime, mas pregam o pior dos crimes, o crime capital numa democracia, que é o assassinato por razões políticas. O termo “justiceiro” usado como epíteto elogioso pelos barbosianos em relação a seu ídolo, é o exemplo disso. Justiceiro é aquele que faz justiça com as próprias mãos, sem ligar para a lei.

Além disso, Barbosa foi astuto em relação à Genoíno. Ele mandou o mesmo grupo de médicos antipetistas (como já pesquisamos) fazer repetidos exames em Genoíno, e produzir laudos favoráveis à sede de vingança do ministro. Quando os jornais falam que vários laudos de médicos oficiais dizem que Genoíno não tem cardiopatia grave, eles omitem que são os mesmos médicos, escolhidos a dedo por Barbosa, falando sempre a mesma coisa. E omitem, criminosamente, que  a saúde de Genoíno efetivamente está piorando na prisão, conforme previsto por seu médico e temido por sua família.

Hoje, todos os jornalões amanheceram com manchetes enormes sobre a soltura de Dirceu. O sensacionalismo e a pressão midiática em cima do caso ainda persiste. Aliás, agora mais que nunca, por causa da agenda eleitoral. A mídia corporativa, notoriamente tucana, entende que o caso gera dano político de imagem ao PT e procura requentar ao máximo tudo relacionado à Ação Penal 470.

Nenhuma crítica consistente aos erros da ação é publicado, ou se é publicado, não é discutido ou levado à sério.

O Globo de hoje, por exemplo, reforça a blindagem de Joaquim Barbosa. Merval Pereira dedica sua coluna inteira a dizer que a decisão do STF não trouxe “desmoralização” ao presidente do STF.

Trouxe sim, Merval. O próprio fato de você se sentir obrigado a falar isso é a prova.

Barroso, naquele jeito dele de gentleman britânico, desmonta todos os argumentos esdrúxulos de Barbosa para impedir que Dirceu trabalhasse fora do presídio.

Diz Merval que o plenário do STF não considerou “nenhuma das decisões de Joaquim Barbosa questionável por ilegal ou despropositada”.

Considerou sim. Tanto que Barroso fez questão de enfrentar ponto por ponto as alegações absurdas de Barbosa: que preso não pode trabalhar em empresa privada; que não pode trabalhar em escritório de advocacia; que o advogado seria “amigo de Dirceu”; que tem de esperar cumprir um sexto da pena.

Todos esses pontos foram ridicularizados em plenário. Ao cabo, até mesmo Celso de Mello parecia arrependido de ter dado o único voto em favor de Barbosa, provavelmente também num jogo político para que o ministro não perdesse de zero. Mello disse concordar com todos os pontos levantados por Barroso.

Ao final de sua coluna, Merval diz que: “ficou evidenciado que Barbosa não abusou de seu poder nem tomou decisões sem o apoio da lei”.

Ora, quando se precisa fazer uma defesa tão chapa-branca assim de um ministro do STF, em geral é porque ele abusou do poder e tomou decisões sem apoio da lei.

O colunista encerra o texto tentando apoiar-se, mais uma vez, na lógica do linchamento, ao dizer que “certamente há pensamento majoritário na sociedade, já detectado por pesquisas: o mensalão petista só levou poderosos para a cadeia e os manteve lá pelo estilo centralizador e autoritário de Barbosa, amplamente aprovado pela população, a ponto de uma parcela representativa querê-lo como candidato à presidência”.

É uma linda ode ao autoritarismo e um escárnio à função democrática e iluminista de uma corte suprema, cujos ministros justamente não passam pelo crivo do sufrágio universal para que tenham liberdade de tomar decisões contra-majoritárias.

Juiz não tem de agradar “ao povo”, e isso está bem claro na doutrina democrática de todos os países ocidentais: a razão é não amarrar os direitos humanos de um réu ou de uma causa às ondas de ódio que varrem a opinião pública.

Elogiar um presidente do STF porque tem caráter “centralizador e autoritário” e toma decisões com base em “pesquisas”, e que estas decisões teriam chancela eleitoral, me parece a pior crítica a um juiz que deveria se pautar unicamente pelos autos, pela Constituição e, sobretudo, pelos direitos humanos.

Merval é tão absurdamente tolo que, em seu esforço patético para defender Barbosa, acabou escrevendo seu epitáfio.

 

Redação

Redação

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  • Se o STF concedesse a prisão

    Se o STF concedesse a prisão domiciliar para Genoíno a representação de Joaquim Barbosa contra o advogado Pacheco cairia no vazio.

  • A frase final é ótima

    Fico de cá inebriado,  torcendo para  que o  "seu" (da última linha) epitáfio  tanto possa servir para epitáfio de JB quanto para um merecidíssimo epitáfio para Merval.

     

  • STF
    O Merval e o Barbosa são dois idiotas, o primeiro pensa que é intelectual e o segundo que é Jesus Cristo.

  • Ficou evidente que os Min.

    Ficou evidente que os Min. optaram pelo dano político menor. Imaginem a manchetes: "STF, sem Barbosa, solta Genoíno!". 

  • A coluna do Merdal deveria

    A coluna do Merdal deveria ser distribuída pelos advogados dos réus a todos os ministros do Supremo. Inclusive, o Celso de Mello não teria coragem de dar o "gol de honra" para o Barbosão.

    PS: Está na bíblia. Pilatos lavou as mãos e consultou uma pesquisa da Datafalha da época. A maioria absoluta queria a pena máxima. Pois é

  • Cadê a foto do boneco? Só a

    Cadê a foto do boneco? Só a dos ventriloquos? Tá certo que os protagonistas merecem destaque mas o coadjuvante foi igualmente útil ao PIG. E aos tucanos. Quantos desses exemplares a ordem tem à disposição para nos dar essa singular segurança jurídica? 

  • Foi o epitáfio dd ambos.

    Foi o epitáfio dd ambos.

    Cá entre nós: como eh tolo e fraco esse Merval. Sempre afirma coisas sem nenhuma comprovação, vide ele jamais citar quem seriam os bblogueiros financiados pelo GF.

    Deve ter puxado muito saco para chegar onde chegou.

  • Nas questões relacionadas ao

    Nas questões relacionadas ao escritóriio de advocacia, da suposta "ação entre amigos", do trabalho em empresa privada e sobre a não necessidade do trabalho externo pois Dirceu já faz trabalho voluntário na prisão, não só Barbosa perdeu por unanimidade, como Barroso deixou claro que não existe absolutamente nenhum dispositivo legal que sustente essas alegações.

    E Merval não viu abuso de poder ou decisões sem amparo na lei. Sugiro uma campanha na internet para aquisição de um cão guia para o distinto "calunista".

  • O Ministro Barroso Deveria Estar a Orar

    O grande ministro Barroso, a quem respeito, está a correr risco de, por sua decisão patética, referendada cegamente pela maior parte do plenário, contrária inclusive ao parecer da PGR, ser o responsável principal pela eventual morte de Genoíno na cadeia. Para piorar a coisa, Genoíno teria, segundo o próprio ministro Barroso, direito a regime aberto já em agosto vindouro, ou seja, Sua Excelência corre o enorme risco de ser responsabilizado pela morte de Genoíno por não ter antecipado em apenas dois meses a concessão da prisão domiciliar.

    O ministro Barroso, se acreditar em Deus, deveria estar a pedir a Ele que Genoíno não morra na cadeia, ou não morra por ter seu estado de saúde agravado em razão de ter ficado preso, em razão das circunstâncias, para além da pena a que foi condenado. Seria lamentável se Barroso, um intelectual do Direito – uma pessoa que pode ajudar a melhorar o STF – no caso da morte de Genoíno na cadeia, ficasse com o rótulo de um mero Pilatos desacreditado.

     

  • .

    Merval e Barbosa fazem parte do que há de mais atrasado e decadente na direita brasileira. Eles se entendem, trocavam figurinhas durante o julgamento da AP 470 e nada mais que justo que troquem epitáfios mutuamente. Os dois se merecem.

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