Procurador diz que Lava Jato nunca teve interesse em preservar empregos

Foto: Agência Brasil
Jornal GGN – O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, membro da força-tarefa de Curitiba, disse à Folha desta quarta (3) que nunca foi “interesse” da Lava Jato local tentar combater a corrupção salvando as empresas e os empregos.
Segundo ele, tentar não quebrar financeiramente é interesse da empresa. “Meu interesse não é esse. Meu interesse é: me traga provas dos outros crimes, dos outros envolvidos, me dê todo material, pague um ressarcimento, pague as multas que tem que pagar e, na medida do possível, entregue todas as provas e mude de comportamento. Esse é o meu interesse.”
Lima disse que “entende” o lado da empresa, que “quer se salvar, tudo bem. Agora, você cumpra os interesses meus. Ela [leniência] não é para salvar o mercado das empreiteiras. Ela é para ‘você se salva e todas as outras vão para o sal’. É assim que funciona.”
Quando questionado se não é importante preservar empregos em meio à crise econômica, principalmente de um setor puljante como era o da construção, Lima respondeu que “salvar empregos e empresas é um discurso [político importante].”
Mas reafirmou que a Lava Jato não tem preocupação com isso. Que é um problema do empresariado e que, inclusive, os procuradores não têm nenhuma parte nisso.
“A questão não é quebrar uma empresa. Quem quebrou não fomos nós. Primeiro porque eu nem sei se ela está quebrada. Quem quebrou foi o comportamento delas. Nós não podemos transformar as empresas em coitadinhas.”
Folha tentou insistir na questão dos empregos perdidos com a quebra de empresas investigadas na Lava Jato, e a resposta de Lima foi que a única questão que interessa a ele fazer é: “por que se permitiu que o sistema funcionasse dessa forma? (…) Nós temos que ter claro que corrupção não é método de negócio. Daqui pra frente não é método de negócio. As empresas podem ser vendidas e podem continuar a sua vida. Não há impedimento. O problema é que eles [os donos] querem se salvar. Eles não querem salvar a empresa. Eles querem salvar a sua propriedade sobre a empresa. Por que eles não vendem?”, recomendou, mesmo sabendo que isso é uma indevida “interferência no mercado.”
Questionado se vale a pena quebrar a economia de um setor inteiro em nome do combate à corrupção, ele respondeu: “Vale a pena manter um crime organizado funcionando? Se eu salvar as empresas eu vou manter o crime organizado funcionando? Eu vou acreditar meramente então que eu passei a mão [na cabeça], ninguém foi punido e tudo vai ser 100% daqui para a frente?”
O procurador ainda disse que apenas o Ministério Público deveria ter autorização para negociar o acordo de leniência com as empresas, junto com a delação. A justificativa dele é que os demais órgãos, como Tribunal de Contas e Controlagoria-Geral da União, sofrem interferência política o tempo todo, comprometendo a lisura do processo e trazendo insegurança jurídica para as empresas.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • Quando se trata do jornal do

    Quando se trata do jornal do rato é difícil pensar em fidelidade das palavras mas,se o engomadinho disse o que disse,é preciso rever a forma de contratação dessa gente. Não existe meu interesse,existe interesse do país,

    Não à toa chama-se ministério PÚBLICO federal. Faria muito bem ao engomadinho saber o que significa PÚBLICO.

  • Quebraram as empresas os

    Quebraram as empresas os empregos e ainda colocaram o presidente mais corrupto do planeta no poder.

    Parabéns lava jato

  • Punição de empresários corruptores e manutenção de empregos

    Bom dia!

    Há meios legais de se punir o corruptor empresário sem destruir a empresa e sua importância na economia do país?

    • Pesquise sobre...

      ...o que fizeram os aliados com a empresa alemã que produziu o gás Zyklon B que matou milhões de pessoas nas câmaras de gás nazistas que você terá ótimas respostas à sua pergunta...

  • O Procurador poderia dizer

    O Procurador poderia dizer qual foi o rumo tomado pela delação do Palocci, mas creio que não o fará, a essa altura do campeonato já ficou mais do que claro que deslumbradinhos nunca quiseram combater a corrupção. Ao ler essas declarações a única coisa que me vem a mente é o que disse o Senador Requião: canalhas, canalhas e canalhas.

    • fazendo concurso e DECORANDO

      fazendo concurso e DECORANDO leis ditadas por outros  ..simples assim  ..não necessita de capacidade aglutinativa nem sistêmica, conhecimento ed histório ou geografia refinados, vivência ou noções de fenômenos sócio econômicos

      ..nem tão pouco convicção ou comprometimento com a Constituição em vigor  ..afinal, eles sabem muito bem que todos os procuradores são INALCANÇÁVEIS neste país  ,,

  • O gordão tem uma capacidade

    O gordão tem uma capacidade desumana de falar e fazer merda

    As pessoas nem dariam pelota para as merdas que sua língua despeja todo dia; mas esse traste é um funcionário público, PAGO POR TODOS NÓS. Quando comçeou a fazer política, destruir empregos, sacanear pessoas, fazer rolos de delação premiada; passou a ser um PROBLEMA NOSSO.

     

  • A Folha de S. Paulo não teve

    A Folha de S. Paulo não teve interesse em saber sobre a relação do MPF de Curitiba com o Advogado Zucolotto (sócio da Advogada Rosangela Wolff Moro), e a cobrança da propina de 1/3 das multas aplicadas aos delatores?  A acusação feita pelo AdvogadoTacla Duran está publicada em todos jornais do mundo.

  • Inacreditável

    Acho que uma linha de pensamento dessas jamais seria admissível em países sérios, como Alemanha, Estados Unidos, França etc. Assim foi com a Volkswagen, Basf, Bayern, todas grandes empresas preservadas, apesar de usarem trabalho escravo de prisioneiros de guerra. Puniram-se pessoas, seus executivos, não as empresas, justamente por causa do interesse nacional e de empregos. Não para "salvá-las". A diferença de concepções é diretamente proporcional ao nacionalismo daqueles países e do Brasil, no que se refere à soberania econômica e nacional (quase a mesma coisa). Os países mencionados nunca deixaram que atividade policial fizesse terra arrasada de suas economias. O que dizer dessas declarações? Inacreditáveis.

  • Não se trata de interesse

    Não se trata de interesse mas, numa visão mais sistêmíca, dentro de princípios éticos e de JUSTIÇA, o de se PREOCUPAR com a sobrevivência de MILHARES de famílias

    Interesse mesmo todos sabemos que só imperou um na Lava Jato, assim como na do Banestado, e não por coincidência ambos comandados por SERGIO MORO ..o interesse POLÌTICO

    E isso, pra mim, é mais uma prova do que venho dizendo a anos  ..o Poder Judiiário é o PIOR dos Poderes que o Brasil se permitiu ter  ..um Poder de intrigas, de compadrios, de favores e de nomeações  ..estável, nababesco, vitalício  ..coisa horrível de se ver  ..e de sofrer as consequências por sua patética existência

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