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O AGA não é um paradigma

Paradigma (do grego parádeigma) literalmente modelo, é a representação de um padrão a ser seguido.

Não há como negar, o tão discutido AGA (Aquecimento Global Antropogênico) e seus possíveis efeitos no clima, ocupa o cerne da discussão na Rio+20. É diária a atribuição, do pretenso aquecimento, a todo tipo de desastre natural que é noticiado pela mídia.

Considero que a escolha do tema do AGA como paradigma para qualquer modelo de desenvolvimento é, na melhor das hipótese, um engano. Todos sabemos que a série histórica existente (por medição direta) sobre as condições climáticas do planeta são recentes. Estas medições sofreram ao longo do tempo mudanças em sua sistemática. Isto faz com que todos dados conhecidos, além de insuficientes para projeções confiáveis, apresentem um desvio padrão considerável.

Não estou aqui desqualificando, as pesquisas e os pesquisadores da área (pró e contra a teoria do AGA) ou duvidando dos dados obtidos pelos dois grupos até agora. O fato é que a teoria do AGA é uma hipótese, e está muito longe de ser comprovada. Há indícios consistentes das duas correntes e, exatamente por isto, ela não deve ser tomada como paradigma enquanto permanecer neste status, digamos, de pesquisa pura (que de fato é). O que temos até agora, são dados parciais. Qualquer pesquisador sério concordará com esta colocação, por maior que seja o carinho e a dedicação com que conduz a sua pesquisa.

A razão de abrir este debate é tentar descobrir porque, entre tantos paradigmas possíveis, se escolheu o mais abstrato deles? Há consenso em relação a vários assuntos, que poderiam formar uma agenda social positiva e para os quais seria possível estabelecer metas e soluções de curto prazo. Porque nos foi imposto o AGA? Oscar Wilde nos dá uma pista: “Por favor, não fale comigo sobre o tempo, Sr. Worthing. Sempre que as pessoas falam comigo sobre o tempo, eu  me sinto bem certo que eles querem dizer outra coisa. E isso me deixa muito nervoso.”  em The importance of being Earnest.

Há um consenso entre os povos dos chamados países em desenvolvimento e pobres sobre querer uma boa qualidade de vida. Não encontro ninguém que defenda, por exemplo, que o rio Pinheiros e Tiête permaneçam como um esgoto a céu aberto. Ou adore os agrotóxicos conduzido aos rios, solo e subsolo brasileiro. Ou que a indústria de Cubatão permaneça jogando resíduos tóxicos, aumentando a contaminação do solo e pagando multas diárias ridículas por isto. Que adore os efeitos que o uso intensivo do transporte individual gera para a qualidade do ar das cidades. Ou defenda a desinteria causada nas pessoas pela qualidade da água nos rios ou das praias. 

Ora, estas causas e seus efeitos nós conhecemos bem. E os países ricos sabem como evitá-las sem prejudicar o seu desempenho. Saneamento e uso cuidadosos dos recursos, geram mais emprego e renda, não o contrário. E não basta maquiar a produção e o consumo, é necessário avalia-los e fazer escolhas, sem imaginar que isto signica algum tipo de perda. Perder, já estamos perdendo há muito, por não sermos capazes de colocar a pergunta certa no lugar do falso paradigma a nós colocado. Não precisamos discutir o AGA para melhorar tudo o que pode e deve ser melhorado.

 

 

 

Luis Nassif

Luis Nassif

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