Crise climática faz Banco Mundial repensar investimentos na exportadora de carne brasileira

Jornal GGN – A Minerva, segunda maior exportadora da carne bovina brasileira, corre o risco de não receber mais crédito da International Finance Corporation (IFC), braço de investimento do Banco Mundial. Isso por causa de um relatório inédito que, pela primeira vez, estima o desmatamento provocado por fornecedores indiretos.

O trabalho é assinado por dois especialistas nomeados pela ONU para o “Projeto de Sustentabilidade Trase”, que mapeou as cadeias de suprimentos de carne bovina brasileira através de alfândegas e matadouros para os municípios de origem, onde o gato foi criado, usando dados de inspeção aduaneira agrícola e sanitária.

A Minerva conseguiu, nos últimos anos, certificar 100% de seus fornecedores diretos como de áreas de desmatamento zero, para se adequar às exigências do IFC. Entretanto, assim como as outras grandes empresas brasileiras de carne bovina, não consegue monitorar os fornecedores indiretos.

“À luz da crise climática global, o Banco Mundial deve garantir que todos os seus investimentos sejam favoráveis ​​ao clima e respeitem os direitos humanos, retirando investimentos em empresas que não cumpram esses critérios”, disse David Boyd, relator especial da ONU sobre direitos humanos e meio ambiente.

“O financiamento internacional que contribui para a atual crise climática, seja apoiando projetos de combustíveis fósseis ou apoiando o desmatamento, é completamente imperdoável”, completou o ex-relator especial da ONU sobre direitos humanos e meio ambiente, o professor de direito internacional John Knox.

“A IFC investiu na Minerva para promover o crescimento sustentável, inclusive ajudando a empresa a melhorar seu desempenho ambiental e social com o objetivo de criar uma indústria de carne bovina mais sustentável. A Minerva tomou várias medidas, com a ajuda da IFC, para melhorar a rastreabilidade de seu suprimento em rede com seus fornecedores diretos, e hoje 100% de suas compras diretas vêm de áreas de desmatamento zero”, disse o próprio IFC em nota.

Segundo dados de pesquisas divulgadas neste ano, a indústria de carne bovina é responsável por cerca de 5.800 quilômetros quadrados de desmatamento todos os anos no Brasil. Um estudo da Escola de Estudos Florestais e Ambientais de Yale avalia ainda que o setor pecuário responde hoje por 80% do desmatamento em todos as áreas cobertas pelo bioma amazônico.

A Trase, por sua vez, constatou que fornecedores indiretos vinculados às cadeias de suprimentos de exportação da Minerva respondem por 100 quilômetros quadrados de desmatamentos provocados anualmente.

O chefe de sustentabilidade da Minerva, Taciano Custódio ressaltou que o IFC ajudou a companhia “a aprimorar os principais indicadores de desempenho em governança ambiental e social”, reforçando que todas as compras diretas da Minerva vêm de áreas de desmatamento zero no bioma amazônico.

O porta-voz da Minerva destacou ainda, por outro lado, falta de uma regulamentação no Brasil para lidar com a incapacidade das empresas em acompanhar fornecedores da cadeia de suprimentos. “Até hoje, nenhum dos participantes do setor foi capaz de rastrear fornecedores indiretos e, para que isso seja feito, a aplicação da lei é necessária para todos os atores da cadeia de valor”, pontuou.

Por outro lado, Custódio defendeu a existência de certos níveis de desmatamento: “Os países da América do Sul ainda têm uma grande porcentagem de florestas e terras pouco claras que podem ser exploradas de forma legal e sustentável. Alguns países confiam na necessidade de expandir seu território de produção para desenvolver e investir em saúde pública, educação pública e infraestrutura. ”

O IFC afirmou que, não apenas a Minerva, mas nenhuma empresa brasileira de carne bovina tem capacidade de monitorar os fornecedores indiretos, das cadeias de suprimentos: “Atualmente, nenhum dos participantes do setor consegue rastrear fornecedores indiretos em grande escala, e isso inclui a Minerva”.

“Acreditamos que novos progressos contra o desmatamento no Brasil dependem de regulamentação governamental ampliada, demanda do mercado por padrões mais altos e, principalmente, aplicação da lei nos níveis federal e estadual”, diagnosticou.

Outra grande distribuidora de carne brasileira, a Marfrig, afirmou recentemente que mais da metade do gato que abate vem de fornecedores indiretos. Pesquisas da Universidade de Wisconsin apontam que outros agentes da indústria brasileira de carnes seguem a mesma porcentagem.

*Com informações do The Guardian

Redação

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