A mídia internacional e o risco Bolsonaro, por Altamiro Borges

Charge: Marian Kamensky

do Blog do Miro

A mídia internacional e o risco Bolsonaro

por Altamiro Borges

É impressionante a postura acrítica, quase complacente, da mídia nativa diante do risco Bolsonaro. Para se opor às esquerdas, ao PT e às suas bandeiras – como justiça social, soberania nacional e desenvolvimento –, a chamada grande imprensa tenta naturalizar um fascistoide que lançará o país no caos econômico e na treva política. No mundo inteiro, os veículos de comunicação têm destacado o grave perigo, confirmando que o Brasil pode virar um pária internacional, com maiores dificuldades nas suas relações diplomáticas e comerciais. Nas últimas semanas, o temor foi motivo de várias reportagens e capas de jornais e revistas. Vale conferir algumas delas: 

Estados Unidos 

– The New York Times: “Brasil flerta com um retorno aos dias sombrios”; 

– Financial Times: “O ‘trágico destino’ brasileiro de uma rebelião antidemocrática surge novamente”; 

– Huffington Post: “Jair Bolsonaro e o violento caos das eleições presidenciais no Brasil”; 

– Revista Time: “Jair Bolsonaro ama Trump, odeia gays e admira autocratas. Ele pode ser o próximo presidente do Brasil”; 

Alemanha 

– Deutsche Welle: “Analistas alemães veem democracia no Brasil em risco”; 

– Zeit: “Um fascista se apresentando como homem honesto”; 

Reino Unido 

– The Economist (capa): “A mais nova ameaça na América Latina”; 

– The Economist: “O perigo representado por Jair Bolsonaro”; 

– The Times: “Jair Bolsonaro, populista ‘perigoso’ promete tornar o Brasil seguro”; 

– The Guardian: “Trump dos trópicos: o perigoso candidato que lidera a corrida presidencial do Brasil”; 

Austrália 

– The Australian: “Conheça o candidato que é um risco à democracia”; 

– The Sydney Sunday Herald: “Por que alguns no Brasil estão se virando para um explosivo candidato de extrema-direita para presidente?”; 

Portugal 

– O Público: “Bolsonaro, o jagunço à porta do Planalto”; 

– Diário de Notícias: “Jair Bolsonaro é perigo real no Brasil e segue passos de Adolf Hitler”; 

França 

– Le Figaro: “Brasil nas garras da tentação autoritária”; 

– Liberation: “No Brasil, um ex-soldado para liquidar a democracia”; 

– Le Monde: “Trump tropical, homofóbico e machista”; 

Espanha 

– El País: “Bolsonaro é um Pinochet institucional para o Brasil”; 

– El Mundo: Líder polêmico. Bolsonaro: o candidato racista, homofóbico e machista do Brasil”; 

Itália 

– Corriende della Sierra: “Um pesadelo chamado Bolsonaro”; 

– La Republica: “Bolsonaro, líder xenófobo e antigay que dá o assalto à Presidência do Brasil”; 

Suíça 

– Neuen Zürcher Zeitung: “O faxineiro racista do Brasil”; 

Chile 

– El Mercurio: “Bolsonaro assusta com soluções simplistas e autoritárias”; 

Argentina 

– La Nacion: “Linha dura e messianismo: Bolsonaro, o candidato mais temido, se lança para a presidência”; 

– El Clarín: “Jair Bolsonaro: militarista, xenófobo e favorito para a eleição brasileira”. 

Já no Brasil… 

Já no Brasil, a mídia ainda discute se Jair Bolsonaro é de extrema-direita. É patético e poderá cobrar um alto preço no futuro próximo. Até a ombudsman da Folha criticou a cumplicidade do jornal em que trabalha. Paula Cesarino Costa questionou com razão: 

*****

A Folha vem recebendo cobranças de parcela de eleitores que avalia que o jornal está evitando dar nomes aos bois ou, mais exatamente, qualificar o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, como de extrema direita. No início de outubro, dois meses após a campanha estar oficialmente nas ruas, a Secretaria de Redação da Folha distribuiu comunicado interno em que afirma não haver, na atual disputa eleitoral brasileira, nenhuma candidatura que se enquadre na categoria de ‘extrema direita’ ou ‘extrema esquerda’. 

Os principais jornais do mundo, de inegável qualidade, usam variações do conceito de extrema direita (far right, ultraderecha, extrême droite) para definir a candidatura de Bolsonaro. São eles: The Economist, Financial Times, The Guardian, El País, The New York Times, The Washington Post, Le Monde, Clarín e La Nacion, entre outros… A candidatura do PSL representa corrente política militarista com demonstrações explícitas de defesa da violação dos direitos humanos, de questionamento dos direitos das minorias, que nega a ditadura militar e a ocorrência comprovada de torturas e que mantém reiterados flertes à quebra da normalidade democrática. 

Esses pontos factuais somados parecem mais do que suficientes para definir uma candidatura como sendo de extrema direita, aquela que opta por estratégia extrema, além do eixo construído no consenso democrático por direita e esquerda. Órgãos de imprensa do mundo todo – dos economicamente liberais de direita aos abertamente progressistas de esquerda – concordaram com essa apreciação. A meu ver, a Folha e os principais órgãos da imprensa brasileira se equivocam em não fazê-lo e não parecem preocupados com a dimensão histórica desse entendimento”. 

*****
 

Daria para acrescentar que “os principais órgãos da imprensa brasileira” podem se arrepender, mais cedo do que tarde, dessa postura covarde e complacente! O fascismo não tolera a liberdade de expressão!
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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  • O William Waack qualifica a

    O William Waack qualifica a Imprensa do exterior, vale dizer, europeia e americana, como “independentes”.

    Independentes de quem, cara pálida? Independentes do quê?     

    Conta outra.

    E que os tais estariam “apavorados” com a ascensão do Boçalnaro ao poder, pela explícita apologia à tortura, ao estupro e a todo tipo de violência.

    Insisto em que, desde que as cavalices do boçal não atinjam interesses americanos ou europeus, eles estarão se lixando para o que acontecer aqui com dissidentes e adversários políticos, pretos, pobres, mulheres, e homossexuais.

    Como sempre se lixaram.

    Essas barbaridades só servem para eles escreverem editoriais indignados, como os que condenam a prisão injusta de Lula, e luzirem como paladinos da Liberdade e da Justiça.

    Vocês sabem, aquelas idéias abstratas que eles, europeus e americanos, se encarregaram de espalhar pelo mundo, junto com a Democracia.

    (Provavelmente, é isso o que eles ensinam às suas crianças por lá. As de cá receberam essas maravilhas do cristianismo ocidental sob a forma de invasão, roubo, espoliação, assassinato, tortura, etc., mas essa é outra história).

    Outros assuntos, como a rapina do pré-sal e demais recursos e riquezas naturais do Brasil, não merecem nem uma nota de pé de página.

    São assuntos desagradáveis.

    Creio que todos sabemos para onde estamos indo.

    O guarda de esquina do Pedro Aleixo finalmente foi batizado: Jair Bolsonaro.

    O problema é que, como o guarda de esquina, o presidente a ser eleito dia 28 também tem superiores.

    E desses, sabemos muito pouco.

    Ou, o pouco que sabemos é assustador demais, e já nos basta.

    Sobreviva quem puder.

  • Eu não me lembro de nenhuma
    Eu não me lembro de nenhuma ocasião em que a grande mídia internacional, incluindo NYT, Financial Times e The Economist, tomou posição inequivocamente CONTRA um candidato brasileiro, ainda mais considerando que o concorrente é de esquerda. Sinceramente eu estou confuso, eu sei que o Bolsonaro vai ser uma desastre, mas parece que eu estou sendo otimista...

  • concordamos.

    Se ele é isso tudo que a imprensa lá fora está dizendo, então, a maioria dos brasileiros é o que ele é.

    Ou as notícias de lá são compradas no mesmo boteco daqui.

    Ou então os jornalistas de lá estão muito desinformados.

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